Que vergonha!
QUE VERGONHA!
O mundo inteiro está olhando para nós! Primeiro, porque é algo inusitado o fato de um Senador – mais que isto: o Presidente do Senado – estar submetido a um julgamento, por conduta indevida, improbidade e falta de decoro. Depois, porque seria a ocasião inadiável de se mostrar a todas as nações do planeta que ainda tínhamos um resquício de decência e moralidade.
Acobertar a série de atos praticados por Renan Calheiros revela o sistema corporativista que impera no Senado: “eu te ajudo hoje e você me defende amanha, quando descobrirem minhas patifarias”. Logo depois a mídia vai silenciar, movida por novos escândalos (que certamente vão aparecer) e tudo vai para o esgoto fétido de uma pobre nação que não desenvolve sua cidadania porque não sabe fazer política, seja votando ou exercendo mandatos.
O homem público, por mais crápula que seja, é menos culpado do que o eleitor que o colocou lá. Sim, pois por maior que seja a indignação que se observe hoje, amanhã os suspeitos, os corruptos, os descarados e os corporativistas vão às suas bases e de lá voltar “nos braços do povo”, como se nenhum ilícito tivesse ocorrido. Assim foi com Antônio Carlos Magalhães e Jader Barbalho e Paulo Maluf para citar apenas três. Daqui a uma semana, o debate do salário-mínimo vai fazer que a opinião pública esqueça esse fiasco.
No caso de Calheiros não se trata daquela defesa usual que aplicam a tantos corruptos, o “absolvido por falta de provas”. Não! Ele foi considerado culpado e como tal passível de cassação pelo Conselho de Ética do Senado. Só que, na hora “H” a “ação entre amigos” falou mais alto que a moralidade, e tudo terminou em uma grotesca ópera bufa.
Que moral tem um cara desses para continuar presidindo o Senado? Numa circunstância dessas é melhor fechar o Congresso.
O voto secreto, constitucional ou não, é uma imoralidade e um ato indigno, e como tal precisa ser abolido. O povo tem o direito de saber a forma como seus representantes decidem as questões cruciais da moral e da ética do país.
Esta é a falta de transparência que grassa no congresso, onde os Deputados e Senadores falam uma coisa e votam outra. Sempre a favor de interesses escusos e invariavelmente contra o povo que os colocou lá.
Esta era a hora, como dizia Boris Casoy, de “passar o Brasil a limpo”. Mas eles não quiseram que fosse assim. Preferiram ficar chafurdando na lama da imoralidade, da corrupção e da impunidade. Meu Deus, que vergonha! Isto identifica que nossa classe política não sabe conviver com a democracia. Liberdade é para quem sabe usá-la.
Esse ato imoral de nossos senadores me deixou envergonhado de ser brasileiro, e duvidando da eficácia do sistema de representatividade popular.
Este artigo foi escrito dia 10 de setembro; dois dias antes da Sessão do Congresso. Sou profeta? Não! Apenas um cidadão que conhece a classe de políticos que o Brasil possui.
Antônio Mesquita Galvão
Filósofo, professor de Ciência Política.