PENSAMENTO CULTO. TEOLOGIA. VISITA DE BENTO XVI.

Nenhum ser humano está além ou aquém do outro, de seu semelhante. É a ordem natural da humanidade desde o surgimento do imã centralizador de todas as convergências, o homem.

Como razão primeira e única de toda formação dos primeiros grupos o instinto identifica inicialmente o homem, o que ao sabor do tempo, face ao seu evolver e aos vários estados por que passou, desde as eras priscas, traçou distintos caminhos por força das preferências, interesses, formações e capacidades de cada um. São diversos os graus de inteligência.

Capacidade é condição inerente ao conhecimento da atividade ou profissão que se desenvolve. É similar a sucesso, ser vencedor. Sem capacidade há uma “captio diminutio” pessoal, ou seja, a relativização da apreensão de conhecimento.

De um salto, após a mera diferenciação pelo instinto, sedimentam-se diversos estamentos sociais-culturais para o ser humano, absolutamente distintos, incompreensíveis para alguns o entendimento de outros e suas falas, sua cultura. Há um fator que barra o entendimento, o pensamento construído, sendo absolutamente ficto e inviável nessa abordagem considerar o valor dogmático mais alto e de estreita penetração, a compreensão.

O pensamento em conjunto com sua manifestação (capacidade) encontra a barreira da incapacidade, o desencontro do desconhecimento com o conhecimento. Nem mesmo a simplicidade exercida pelos filósofos para explicar os atos e fatos da vida, os mais singelos, simplórios até, alcança êxito. Nem ainda a prática da linguagem coloquial, distante da língua culta e erudita, colhe proveito, mínimo entendimento.

Não basta a experiência “é preciso elevar-se acima do impuro conhecimento que nos vem pelos canais deformadores dos sentidos”, como ensinava Kant em sua “Crítica da Razão Pura”.

Exalto e enalteço o alcance da internet como veículo de comunicação e congraçamento, de comunhão e viabilização da palavra tão em voga, contraditório, que tem como núcleo a depuração de arestas ásperas para galgar o cume do entendimento, já que compreensão é privilégio de uns poucos bem como seara de porta fechada para quem fica distante do estudo, da reflexão, da pesquisa e do mergulho no interior do eu despojado de veleidades, entrave e gravíssimo obstáculo para iniciação no processo da compreensão. É preciso erudição e vasta cultura geral, muita leitura para compreender, mas basta empirismo para entender.

Se exalto a internet, vejo ao mesmo tempo nessa ponte de indefinível alcance, um meio disseminador também do comprometimento da cultura e das línguas, tantas são as violências que sofrem, e o pior, com ufanismo e celebrização. Vi ontem na TV reportagem sobre o projeto que intenciona unificar os países de língua portuguesa, difícil empreitada como vem acontecendo.

Assisti jovens na rua dizendo que já modificaram a língua, imagine-se. Não sabem que a língua só se modifica por lei oficial. Infelizmente, não sabem! Mas muitos que se dizem comunicadores, formadores de opinião, etc, também se irmanam a essa impropriedade, pois escrevem as maiores barbaridades ortográficas na mídia em geral, com mais incidência na internet, mesmo na língua coloquial. Concordância em número é uma afronta total, em gênero é menor, em grau absolutamente sofrível. Cedilha, s, rr, z, significação de vocábulos, concordância do verbo com o sujeito é um errar permanente, verbos irregulares são hieróglifos.

Não existe gramática no momento para pretensos comunicadores, a ortografia é brutalmente espancada. Isto é péssimo. Não falo de possíveis sutilezas, falo do rotineiro, da língua do dia a dia.

Qual a razão da abordagem?

Aqui se estabelecem as diferenças entre os homens sob o aspecto cultural pela via da comunicabilidade; o pensamento publicado por um dos meios da comunicação. Impõe-se severa fronteira, nítida linha divisória entre o pensamento culto que se informa em livros ou impressos em geral, trincheira limpa e pura da cultura, como sinalizava Kant, e o pensamento lançado sem reservas na mídia eletrônica, sem conteúdo, embasamento e, perdoem-me o termo, pensamento excretado já que se circunscreve ao resto, o que se joga fora por nada trazer de construtivo, novo em termos de informação ou criativo, muitas vezes mitômano e ficcional em termos de vida real, de atividade e profissão. A internet tem servido de biombo a muitas personalidades patológicas, desconhecidas em suas seqüelas, e as surpresas mesmo do noticiário policial ratificam essa verdade.

Diga-se ainda, afirme-se, que a criatividade não está adstrita à criação como pretendem alguns, pois há de se curvar ao estudo de seu instrumento, no caso à língua pátria, sem o que é desprezível, não se insere na recepção da cultura aceita, estabelecida pelos canais da ordem rotineira impressa onde o que é chulo, tolo ou infantil, não é acatado e muito menos publicado. A internet aceita tudo.

Por vezes o discurso mascara o mundo natural sendo aceito pelos despreparados, mas em nome da naturalidade não se pode atropelar a língua, muito menos a verdade histórica. Seria chegar ao efeito sem o instrumento causal ou à pretensão sem realidade. Um aleijão. Mas a internet está plena dessas manifestações e de profissionais não-profissionais. É um canal veiculador de frustrações e mentiras; há sem ser, já que é um pretenso jornalismo sem nunca se ter sido jornalista ou ter qualquer intimidade com letras, criatividade e vocação. É como disse um mero excretar...

Há um outro compartimento do pensamento, o lado excelente, dissociado da vulgaridade, da mentira e da frustração, da vontade de ser vitrine, visibilidade, este freqüentado por filósofos, pensadores, eminentes cérebros dos vários ramos do saber, onde se inserem os teólogos como Bento XVI, que vem sendo repelido na internet por incapazes. Como Bento XVI, teólogos, são personalidades íntimas de um dos mais complexos campos metafísicos da pesquisa intelectual e da erudição.

No momento um dos maiores teólogos do mundo está entre nós; o Cardeal Ratzinger, Papa Bento XVI.

A teologia é porta estreita por onde poucos passam. Não são permitidos passeios nem mesmo vestibulares para andamento neófito e muito menos para tolos que acham estarem inseridos no processo investigativo de alta indagação; não distinguem ser de existir.

A listagem de possibilidades de reflexão sob perspectiva clássica divide-se em três capítulos principais: o homem, o mundo e Deus. A doutrina de Deus forma a primeira parte, frontal e mais decisiva da metafísica em seu conjunto.

Deus constitui o horizonte mais vasto para uso do pensamento. Esse sistema tripartido deu ensejo a diversas críticas sem se poder falar ter havido reforma de estrutura do Kantismo para cá. Pensadores imunes a ligações clericais como Lachelier, Lagneau, Alain e outros não suprimiram a doutrina de Deus apesar de pretenderem fazer dela a terceira parte da filosofia. A supressão de Deus seria a eliminação da metafísica. Mesmo os que afirmam a morte de Deus não suprimem a função filosófica da ideia de Deus.

É desse tratamento que é dado a pequeníssimo universo que Papa Bento XVI é uma das máximas autoridades doutorais vivas.

É dessa função metafísica onde se reencontra a intenção do mito que se extrai a tarefa de assegurar ao gênero humano a coerência e sua estabilidade em ideia. É essa a alta missão dos Papas, metafísica e humana ao mesmo tempo, elementos díspares, distantes do coloquial, do entendimento da grande massa. Não é em vão o venerável respeito prestado aos papas, e é inesquecível a despedida do mundo ao Papa João Paulo II, quando todos os poderosos do mundo disputaram cadeiras para presenciar suas exéquias.

Bento XVI lega para os interessados a sintonia, a sincronia entre a razão e a fé, vale dizer, entre a luz e a sombra, o conhecido e o desconhecido, o cérebro e a crença, enfim a sinergia de pólos que se excluem. A tarefa é metafísica e necessita quem dela quiser se aproximar, de muita reflexão e estudo, que evidentemente trará imenso retorno.

Algumas de suas posições, ainda que pareçam óbvias, originadas de seu notável pensamento:

“Tanto o capitalismo como o marxismo prometeram encontrar o caminho para criação de estruturas justas. Esta promessa tem-se demonstrado falsa.”

“A Igreja é advogada da justiça e dos pobres precisamente ao não identificar-se com os políticos nem com interesses de partidos”.

“É realidade somente os bens materiais, os problemas sociais, econômicos e políticos? Aqui está o grande erro das tendências dominantes do último século.”

“Igreja é fé em Deus não é ideologia nem movimento social”.

Celso Felício Panza.

Publicado na Revista FORUM, quando faz alguns anos, houve a visita do hoje Papa Emérito, sobreexcelente intelectual. Matéria bem atual.

Celso Panza
Enviado por Celso Panza em 27/10/2018
Reeditado em 27/10/2018
Código do texto: T6487699
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