O DIA DE FINADOS

O DIA DE FINADOS

Desde criança acompanhei meus pais ao cemitério no dia de finados.

Frente à lápide rezávamos, recordando o comportamento daqueles falecidos.

Com o desenvolvimento das cidades, o cemitério deixou de se expandir, ficando superlotado, ocupando áreas supervalorizadas na zona urbana da cidade. Sem contar que as famílias proprietárias dos jazigos iam falecendo, sem deixar herdeiros que cuidassem dos seus despojos. Com isso, surgiram os Crematórios, contrariando os costumes religiosos na crença da ressurreição dos mortos. Muitos entes queridos tornaram-se pó espargidos nos campos, rios, mares, montanhas ou relicários residenciais. Graças à tradição, tenho os meus antepassados nos cemitérios São Paulo e Consolação, podendo rezar fronte aos seus túmulos desde memoráveis tempos de criança. Porém, hoje em dia, já não faz sentido o cumprimento do Dia de Finados para a maioria daqueles que cumpriram o desejo, de última vontade, de seus falecidos, quando cremaram seus restos mortais.

É uma pena vermos que esta data ficou na história, como ficou os jazigos ao percorremos por eles, notando verdadeiras obras de arte em granito e mármore, bronze, porém abandonados, onde repousam famílias tradicionais, de industriais, políticos e artistas, dilapidados por vândalos, gatunos, quiçá até pelos próprios empregados contratados por algumas famílias sobreviventes para manterem em ordem seus túmulos. Ficou no calendário o Dia de Finados que se encontra decomposto, reduzido a cinza ou em ossário, perpetuando seu DNA, aguardando a sua ressurreição.

Chico Luz

CHICO LUZ
Enviado por CHICO LUZ em 21/10/2018
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