É aqui, Pitangui!

Minha tricentenária cidade nasceu nos albores do ciclo do ouro nas Minas Geraes. A data aproximada do estabelecimento de garimpeiros na região é 1709, havendo a povoação sido elevada a Vila, em 1715, notadamente, a Sétima Vila do Ouro.

E não foi pacífico o seu começo, originado de aventureiros descontentes com as pesadas imposições da Coroa Portuguesa, ciosas das riquezas de sua Terra de Santa Cruz. Embates entre forças da ordem colonial e habitantes do Pays do Pitanguy deixaram muito sangue derramado nas fraldas das serranias do Centro Oeste do Estado, berço

da formação de novos núcleos rurais e urbanos, que incluem centros regionais importantes demográfica e economicamente, como Divinópolis, Pará de Minas, Itaúna, Nova Serrana, Bom Despacho, e dezenas de outras cidades.

Berço e aconchego de gente ilustrada e ilustre Pitangui também foi. No município nasceu Martinho Campos, Presidente da Província do Rio de Janeiro, Presidente do Conselho de Ministros e Senador. A cidade homônima, antiga Abbadia dos Monjolos, ex-distrito de Pitangui, o homenageia.

Se foi intensa, breve também foi a febre do ouro na região. Fonte de muita riqueza, cobiça, imponência, e destaque no cenário de uma colônia que atraía as atenções do mundo. E o esvaziamento, a estagnação e a fome generalizada se seguiram no decorrer do século XIX, com a dispersão da população e a concentração no cultivo da terra e na exploração da pecuária.

De minha meninice em Pitangui, guardo a bucólica - e quiçá, melancólica - lembrança do casario colonial ainda predominante nas tortuosas ruas e vielas da cidade, do calçamento em pedras redondas de suas indomáveis ladeiras e dos muros de adobe a emoldurarem os quintais, frutíferos até demais...

O crescimento desordenado, não planejado, entretanto, não significou desenvolvimento no sentido pleno da palavra. Casarões deram lugar a sobrados modernosos, desarmonizando o visual da cidade. E até a velha Matriz, que, suntuosa, continha acervo iconográfico e histórico de incalculável valor, sucumbiu às chamas em 1914, sendo substituída por templo imponente que, infelizmente não preenche todo o vazio da

gente...

Paulo Miranda
Enviado por Paulo Miranda em 10/10/2018
Reeditado em 10/10/2018
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