Auf wierdersehen!

Era fim de tarde de um frio dia de outubro. Àquela hora, a operosa cidade de München começava a despertar da longa letargia de um dia de trabalho. München, todos sabem, é o nome original de Munique, uma das mais belas cidades da Alemanha, com quase dois milhões de habitantes. Nessa cidade, em 1918 foi fundado o Partido Nazista. Os turistas vêm a Munique para participar dos festivais de cerveja, na mundialmente conhecida oktoberfest, que, como diz o nome, acontece em outubro de cada ano. Naquele fim de tarde, cumprindo o roteiro obrigatório aos turistas, ele se dirigiu a uma rua onde ficam aquelas que são consideradas as melhores cervejarias do mundo. O alemão é como o argentino: tudo que é dele é melhor. Na hora de entrar, esbarrou em uma moça loura. Ele desculpou-se: “I’m sorry”. Ela compreendeu seu inglês, sorriu-lhe maliciosamente, mas respondeu em alemão: “Bitte !”. Enquanto se dirigiam, cada para sua mesa e seu grupo, ela pôde observá-la. Era uma loura alta, entre vinte e cinco e trinta anos, cintura fina e quadris proeminentes. Vestia um vestido preto de mangas compridas, curto e justo, completado por uma meia fumê, que realçava suas belas pernas. Esse bonito conjunto humano era todo ele ornado com uma magnífica cabeleira loura, e uma pele branca como a porcelana que é a grande especialidade do parque fabril da cidade. Minutos depois, dentro da descontração natural das européias, ela veio convidá-lo para dançar. E lá se foram dançando pelo salão. À medida que o tempo passava, ele sentia um aperto no peito, pois embora tentasse falar-lhe em inglês ou português, a moça só respondia em alemão, e sorria de sua atrapalhação. Quando ela juntou seu rosto ao dele, deixando-se abraçar para desfrutar de uma melodia romântica, ele sentiu-lhe a maciez de sua pele, o perfume provocante, assim como o calor de seu corpo. Terminada a música, ambos foram sentar-se junto ao balcão, para tomar a cerveja característica do local. Ele pôde notar que os olhos dela, ao contrário da maioria das germânicas, não eram azuis, mas castanhos, claros, quase cor de mel. A comunicação que a linguagem impedia, eles faziam através de sorrisos e do tato. Aquilo parecia conduzi-los ao paraíso das valquírias. De repente, um chamado. Ela tinha de ir. Os olhos tristes dos dois se fitaram, em perguntas e promessas. A moça abaixou a cabeça, balbuciou auf wiedersehen e saiu.

Antônio Mesquita Galvão
Enviado por Antônio Mesquita Galvão em 27/10/2005
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