O INFERNO NO METRÔ
(OU O KARMA COLETIVO)

Já houve o Inferno na Torre. E já abordei este assunto aqui n'outra ocasião, mas de uma forma bem humorada. Não é o que vou fazer desta vez - porque a coisa perdeu a graça - a pouca graça! - o quê de humor negro que possuía...

Recomendo, ao menos aqui, no Rio de Janeiro, este transporte, como um severo exercício de humildade para qualquer um que sofra do mais leve sintoma de soberba. Porque é lá que nos nivelamos ao diluído e infinito rebanho humano; é lá que desaparecem todas as diferenças; lá, todos somos, pois, igualmente triturados, e reduzidos à massa informe do populacho desconsiderado pelas empresas responsáveis pelos transportes públicos - e não importando, aí, quem você seja, ou quem ainda pense que é, num resquício final de ilusão de grandeza: do trabalhador braçal; da empregada doméstica exausta ao final de mais um dia; do funcionário público ao funcionário de indústria; de gerentes ou diretores de banco interessados no único e insuficiente fator de peso capaz de induzir alguém a ainda utilizar este transporte inacreditavelmente infernal, qual seja a rapidez da viagem, ao empresário que o pega por ter, de improviso, o seu carro importado emperrado ali, na esquina da Avenida Rio Branco...não interessa!..
 
Tudo ruí! Tudo vai por terra!
 
Diferenças e ilusões de grandeza ou de inferioridade somem - e todos são nivelados ao barro ordinário do qual somos feitos - padecendo irmamente a indizível indignidade, e o escatológico desconforto que representa, nos dias de hoje, uma viagem de metrô nos horários de pico, por mais curta que seja!

Por duas vezes esta semana, por exemplo, vi-me impedida de respirar - literalmente! Lembro-me de uma outra vez em que levantei um pé e não mais consegui repô-lo no chão, viajando todo o trajeto de três estações tal qual uma garça! Em outra ocasião, enfiei meu nariz no rabo de cavalo da mocinha à minha frente sem ter nem mesmo como voltar meu pescoço para escapar daquele martírio; e, n'outra vez ainda, minha única alternativa, imobilizada como uma múmia em seu sarcófago, foi fixar minha visão no teto, já que não me sobrava mais espaço para olhar para qualquer outro lado!

E some-se a isso a gritaria; a falta de educação cavalar de alguns; os debochados que, sem nenhuma vigilância em estações como a da Central, por exemplo, invadem o chamado carro das mulheres na maior desfaçatez, com um sorrisinho vitorioso no rosto, e ainda desafiando aquelas que porventura queiram ver respeitado o seu espaço criado através de uma lei estranha, concordo - mas criado! O suor, a despeito do ar condicionado; o fedor do mau hálito! A sensação de que de repente o fundo do trem vai ruir! Sobretudo, a indignidade! A indignidade de se viajar, como já ressaltei no artigo anterior, em condições piores que as daqueles rebanhos de carga já vistos em caminhões, todos folgadões, com o seu espaço físico preservado dentro dos seus engradadinhos!

Que inveja daqueles bois! Muito mais respeitados nos seus direitos de viajar sem stress! Chique! Coisa de primeiro mundo, diante destas geringonças motorizadas e alardeadas como a última palavra do universo dos transportes de massa, que submetem o coitado do trabalhador já esgotado, diariamente, a este indescritível martírio!

Fiz, portanto, hoje o meu juramento - acrescido deste protesto público:
chega de metrô! Nunca! Jamais!

Nem que a viagem de volta num ônibus seja de si também famigerada, devido ao inchaço no Rio de Janeiro que até hoje não convenceu as autoridades do trânsito da urgência do revezamento das placas nas ruas, a exemplo de São Paulo; nem com as duas horas de viagem do centro da cidade para o bairro da Tijuca, onde resido - uma demora estúpida, em se levando em conta que o mesmo trajeto, em dia de domingo, é feito em vinte minutos; nem com os dez engarrafamentos desesperadores e agravados por guardas de trânsito incompreensíveis, colocados nas ruas tão logo cheguem as dezoito horas, com a sua missão sádica, diabólica, de atormentar ainda mais o trabalhador na sua volta para casa com o pandemônio desnecessário que fazem no trânsito, invertendo a ordem dos sinais, apitando, atrasando, enlouquecendo!

E nos eventuais anúncios o metrô sempre aparece silencioso, limpinho, com alguns seres extraterrenos exibindo aquele sorriso de capa de revista que os faz mais parecidos, antes, com uma hiena!... Rá! Pois sim!!...

Turistas no Rio de Janeiro: eu vos aconselho! Prefiram táxi, patins, bicicletas, patinetes, ovnis, motos, aviões, helicópteros, carroças, charretes...tudo!!
Menos o desgraçado do metrô, entre as dezessete e vinte horas dos dias de semana!!
 
Basta!! Prefiro o ônibus, o segundo instrumento de tortura!! Ao menos sofro sentada!!

Nenhuma força no mundo, destarte, me obriga a repor os pés nesta máquina atroz de tormento, de mortificação, de flagelação, de desrespeito público, chamado Metrô - ao menos no Rio de Janeiro!!

Grata pela atenção de todos a este desabafo.



Christina Nunes
Enviado por Christina Nunes em 07/09/2007
Reeditado em 07/09/2007
Código do texto: T642683
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