Lula X Bolsonaro
Uma amiga é dona de uma empresa com aproximadamente 70 funcionários. Ela mesma faz a seleção de seus possíveis futuros colaboradores entrevistando-os. Uma das perguntas que ela faz é deveras interessante. A amiga indaga a preferência política do provável futuro colaborador. No meio do papo, que ela conduz de forma bem informal, indaga a ele se vota em Lula ou Bolsonaro. Após a resposta, ela pede a ele para elencar três pontos positivos do adversário. Isto mesmo. Se o indivíduo responde que vota em Lula, ela pede para que dê três pontos positivos de Bolsonaro. Caso ele vote em Bolsonaro, ela pede três pontos positivos de Lula.
Intrigado, indaguei o que ela faz quando a resposta não contempla nenhum dos dois. Simples, disse, sem afetação. - Peço para que fale três pontos positivos tanto de Lula quanto de Bolsonaro. Contou-me a amiga que alguns não respondem. Outros são bem "políticos". Olha, veja bem, penso que todos têm virtudes... Alguns levantam-se e vão embora, outros ficam surpresos, e os mais exaltados ameaçam processá-la por assédio, preconceito e por aí vai...
Enfim, reações das mais interessantes. O mais engraçado, segundo ela, é o semblante de espanto das pessoas. O que você pretende com isso, perguntei. Olha, não me interessa a preferência política de quem quer que seja, o que me interessa é como este possível colaborador lida com o oposto, o contraditório, o diferente.
Então, respondendo sua pergunta, duas coisas me interessam. Primeiro é verificar se há boa vontade em identificar pontos positivos em quem pensa totalmente diferente. Independentemente da visão ideológica, é fundamental o respeito ao diferente.
E não vale esconder-se na caixa de liberdade de expressão, pois há um limite para isso que é o do respeito ao quadrado alheio.
Portanto, se tenho o direito inalienável de expressar-me, gostar deste ou daquele, tenho o dever, não menos urgente, de não passar dos limites caindo em ofensas, sarcasmos e ironias lamentáveis. Respeitar é condição básica para bem trabalhar em equipe.
Segundo ponto é medir o índice de belicosidade do indivíduo. Em tempos de polarização, todo cuidado é pouco. Curioso, perguntei a ela em que votaria nas eleições de 2018. Sua resposta foi, digamos, interessante: 'O voto é secreto, meu caro...' Quer dizer que se o pretendente à vaga em sua empresa responde que o voto é secreto você o elimina. E ela, ainda mais enigmática: 'Os sábios são discretos...'