A oitava casa

O tabuleiro de xadrez possui, verticalmente, todos sabem, oito casas. Sendo quadrado, também há o mesmo número de casas na transversal, embora esse sentido seja menos importante que o longitudinal, de baixo para cima. Deste modo, o modesto peão que conseguir, com técnica e habilidade, sucumbir à voracidade das peças maiores e chegar até a última casa, tem o direito de transformar-se em outra pedra, de mais valor, como um bispo, uma torre, um cavalo ou mesmo uma dama. A dama. ou rainha, é a peça mais importante, em mobilização, no tabuleiro. Embora o rei tenha mais valor, uma vez que morto o jogo acaba, é na dama que repousam todas as expectativas do jogador, seja de defesa ou de ataque. Assim, o peão que conseguir chegar à oitava casa, tem o direito de se transformar em uma dama, dando substancial apoio ao jogador. Na vida das pessoas também ocorre uma analogia com o jogo de xadrez. Quantos peões, humildes e limitados, que poderiam ascender a coisas melhores, que no entanto foram devorados pelas peças maiores. E mesmo estas, investidas originariamente de força, mobilidade e importância, não conseguem levar adiante o que delas era esperado, e no primeiro confronto se perdem, abandonam a luta, desfalcam o jogo... Já vi muito homem-torre, só andando em quadrados, com o espaço limitado pelas retas, fazendo estritamente o que era previsto em seu papel, sem se aventurar... Vi também homens-bispo, que tinham velocidade, mas só atuavam perifericamente, nas diagonais da vida, sem entrar no âmago das questões e sem influir diretamente no composição da história. O homem-cavalo é aquele bitolado, cujo movimento em “L” não lhe permite a conquista de maiores horizontes, terminando, muitas vezes, pela forma como se conduz, voltar sempre ao lugar de saída. Mérito mesmo tem o peão que chega à oitava casa, e depois de galgar, com tenacidade, coragem e habilidade, todos os degraus do tabuleiro, converte-se em uma dama. Conheço muitos homens que atingiram a oitava casa. Qual larva que se transforma em borboleta, eles deixaram as origens humildes para se converter na peça mais importante do jogo, atuando com desenvoltura e eficácia, revestindo-se da capacidade dos que querem e saber fazer a história. Conheço pessoas que, mesmo chegando à oitava casa, não perderam a simplicidade e a singeleza do peão. Trabalham como leões mas têm coração de cordeiro. São esses que vencem o jogo da vida...

Antônio Mesquita Galvão
Enviado por Antônio Mesquita Galvão em 27/10/2005
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