A mulher que trai
O que antigamente era algo quase que imponderável, restrito às páginas dos romances mais escabrosos, como o adultério retratado em “O Primo Basílio” de Eça, em nossos dias configura-se como um fato mais ou menos normal, pelo menos em alguns segmentos sociais. O que no passado era visto como traição, hoje recebe o rótulo de aventura, escape ou desajuste.
Antes, a moral religiosa remetia, sem apelação, ao inferno todos os que adulterassem, fosse por pensamentos, palavras ou obras. Hoje, com a liberalização dos costumes, tais atitudes mudaram seu eixo. A traição, nós todos sabemos, filha da dissimulação e da mentira, é um mal que acompanha o ser humano desde os primórdios. A grande verdade é que as pessoas, de uma forma ou de outra, consciente ou inconscientemente, sempre traíram a si, seus amigos, parentes, cônjuges e ideais.
A ficção bíblica da serpente que seduz Eva, nos primórdios da história, retrata o epílogo de uma traição multidimensional. Há quem diga que a mulher, quem sabe pelo desenho de seu tipo psíquico, é muito mais afeita à traição. E eu ainda não estou falando na traição sexual. As mulheres são ensinadas no caminho da dissimulação desde cedo. Senão, vejamos.
Quando querem uma coisa, o que fazem? Beicinho, choram, mostram-se magoadas, têm desmaios ou coisa parecida. Cessada a causa, cessa totalmente o efeito. Toda a produção cênica da mulher é uma farsa. Ela mente ao pintar o rosto. Esconde rugas, imperfeições da pele, idade. O salto alto é outra faceta da mentira. Elas querem parecer mais altas, e com isso sobem numa plataforma de vários centímetros, para passar uma idéia de deusa, deslumbrante, mulherão.
No tocante aos cabelos, quem muda a cor? quem usa peruca? quem encrespa o que é liso e alisa o que é crespo? E a “cinturinha de pilão”, forjada na pressão de cintos apertados? E as lentes de contato, coloridas ou corretivas? A meia de náilon é outro embuste, que dá as pernas e coxas uma coloração que em geral não têm. Isso sem contar no enchimento provocado por sutiãs especiais, implantes de silicone, saias de armação e até calcinhas que revelam falsas bundas. Um jovem, depois de muito assédio, foi para a cama com um monumento de mulher. Quando ela tirou todos os “efeitos especiais” ele se viu diante de uma considerável e assustadora mocréia. Saiu dali correndo...
Uma velha senhora, do tempo do antigamente, comia laranjas, à noite, trancada no banheiro, pois o vetusto marido, dizendo que à noite era letal a ingestão daqueles cítricos, proibia-a terminantemente. Pois até no adultério, nos pecados da carne em luxúria, há uma diferença entre o homem e a mulher. Embora as estatísticas de “puladas de cerca” sejam equivalentes, a traição da mulher é mais grave. O homem erra mais por instinto; é quase uma infantilidade... Depois da aventura, às vezes ele nem lembra o nome da parceira.
A mulher que trai, sexualmente, o faz, exceto em patologias, sob o influxo de paixão. O macho trai por instinto, num insight ele diz sim à tentação. No lado feminino a coisa mais premeditada. Além disto, há mais mulheres com problemas sexuais do que homens, problemas esses que vão desde a aorgasmia (incapacidade de sentir orgasmo), até medo (em alguns casos até repulsa) de sexo ou bloqueios de fundo cultural, familiar, religioso ou circunstancial. Tenho ouvido, com freqüência, mulheres se queixando que gostariam de romper suas rotinas, ter um caso, arrumar um amante. Muitas confessam não fazê-lo por medo, respeito humano ou por ainda não haver aparecido o herói ideal.
Há que se somar a isto a insegurança de algumas, que temem o julgamento do parceiro. No campo das traições, diz o folclore, que o que os homens mais temem é que suas mulheres façam sexo com outro homem, enquanto o temor feminino recai no perigo de seu parceiro se revelar apaixonado por outra mulher. Há uma ponderável diferença, além de precipícios a analisar.