O PARAÍSO DA VIOLÊNCIA
Se o cotidiano do Brasil não soasse de muitas formas trágico, poderíamos gargalhar gostosamente de uma reportagem estampada no “Wall Street Journal”. Dizia: “Os brasileiros estão fugindo do paraíso, para irem viver em outros países”. Que os brasileiros estão fugindo é fato. Quanto a ser do paraíso...Uma grande piada.
O Brasil tornou-se especialista em bater recordes relacionados a coisas ruins. Aconteceu mais um recorde. O “Fórum Brasileiro de Segurança Pública” divulgou dados das mortes violentas intencionais como homicídios e latrocínios de 2017.
Apesar de assustadores, esses números erradamente serão absorvidos pela sociedade, e infelizmente logo esquecidos. Achamos tudo normal. Nada precisa ser feito para mudar. Afinal, as reportagens vindas do Primeiro Mundo devem ser verdadeiras. São tantas sobre um “cara” chamado Lula. No “paraíso” não se mexe.
Foram 63.880 vítimas de mortes violentas em 2017. Na média 175 por dia, e 7 por hora. Claro que a letalidade policial não foi deixada de lado. Cresceu 20%. Num país cada vez mais violento, esperar que a letalidade policial deixe de aumentar é pura utopia. Para piorar, muitos brasileiros adoram utopias de que nem polícia armada precisamos.
Agora já se admite abertamente, vivemos uma guerra entre facções criminosas na busca por territórios e dinheiro. Talvez, e não demore muito, estaremos também admitindo abertamente que essa guerra tem outros objetivos. A busca por poder dentro dos poderes da nação.
Não estamos deixando apenas as mortes violentas se incorporar ao nosso cotidiano como meras banalidades. Uma outra guerra silenciosa e covarde já se incorporou. Trata-se da violência doméstica contra as mulheres. E geralmente o script do capítulo final acaba em homicídio.
O mesmo “Fórum Brasileiro de Segurança Pública” mostra como o Brasil tem se tornado violento para as mulheres. Os números escancaram que o machismo se expandiu em todas as classes sociais. Cada vez mais, a mulher é vista como um objeto do qual alguém se julga no direito de tomar posse. Um troféu.
Por dia em 2017 mais de 600 mulheres sofreram algum tipo de violência doméstica com lesão corporal dolosa. Foram 60.018 estupros e 4.539 homicídios. É bom lembrar que as estatísticas sempre mentem para baixo. O medo de denunciar, ou a esperança de que o sentimento de posse possa ser “amor novamente” são parte do cotidiano das mulheres.
Não há dúvidas, o Brasil é um paraíso. Um paraíso para a violência. Nele os criminosos comem maças e se lambuzam à vontade. Sabem que não serão expulsos. Nele as mulheres são obrigadas a se humilhar e morrer para o deleite dos seus agressores.