A mulher e o sexo
Na Idade Média, em pleno obscurantismo sociocultural, o sexo feminino foi visto como a causa de todos os males humanos, qual uma mitológica “caixa” de Pandora.
Para os escolásticos, a perdição da humanidade ocorreu por causa da mulher, e tudo seria melhor – se possível fosse – sem elas. Isso levou à convalidação da obrigatoriedade do celibato para os clérigos, como se isso os imunizasse contra as “obras da carne”.
Na verdade, o sexo tem sido mal usado e compreendido por séculos afora. Com a histórica e remota constatação de que sua genitália podia dar alegria aos homens, algumas mulheres descobriram aí uma fonte, se não ética, pelo menos rentável e prazerosa. A verdade é que, e essa constatação é histórica, que certas mulheres têm usado o sexo como arma, na intrincada guerra da sedução.
Dizem que a mulher faz sexo sob três pretextos: por prazer, por obrigação ou por motivos políticos. Por prazer é notório, todos sabem como é, e toda a mulher apaixonada o faz (ou pensa fazer). Por obrigação é quando a coisa cai na rotina, e a mulher transa (diferente de fazer amor) apenas para “cumprir tabela”, e assim evitar – o que nem sempre consegue – que o marido procure fora. O terceiro caso é mais complicado. É quando o sexo é usado como instrumento de domínio e de obtenção de poder.
Dizem até que se a mulher soubesse o real valor de sua genitália, o mundo masculino já teria sido totalmente dominado, caindo inerme a seus pés. Há dias vi num shopping um homem, com inequívocos traços de maturidade com uma mulher bem jovem e bonita. Alheios aos olhares, reprovadores de alguns e despeitados da maioria, eles iam de mãos dadas, trocando beijos. Talvez, ao vê-los, alguém tenha pensado: “Essa aí deve estar tirando o dinheiro do trouxa!”.
Seria impossível haver amor entre os dois? Será que um homem maduro é incapaz de despertar paixão em uma mulher mais jovem? Além disto, num mundo sem emoção, muita gente daria o que tem (e o que não tem) para viver uma grande e avassaladora paixão, dessas de arrasar quarteirão...
Na verdade, a curva da libido feminina é diferente da dos homens. Depois de uma certa idade, as mulheres, pelo menos uma boa parte delas, se acomoda, deixando as coisas esfriarem, incapazes de tomarem a iniciativa. Algumas se escondem atrás de evasivas, para fugir daquilo que há vinte ou trinta anos atrás um recusa seria impensável.
A libido, o popular tesão, do homem, embora lá adiante experimente um arrefecimento também, quando a cabeça é boa, vai mais longe, ativa e interessada. Por isso que é mais fácil de encontrar, na terceira idade, homens que buscam novas mulheres “novas”, do que o inverso. Outro dia, em uma festa, depois do jantar, na hora das filosofices etílicas e dos charutos, alguém citou alguns remédios, como coisa mágica para restaurar a libido masculina.
Foi quando alguém, mais experiente, sentenciou: “O grande afrodisíaco para o homem é a mulher; quem tem uma parceira ativa, agressiva e apaixonada, não precisa de tomar remédio nenhum!”. Lembrei o caso de um amigo, cuja mulher estava viajando. Um dia ela ligou: “Te prepara, amanhã teu Viagra está chegando!”. Como diz Martinho da Vila a uma de suas (tantas) musas: “É a tua sensualidade que me faz viril”.
A sexualidade da mulher busca também, e privilegiadamente, o prazer da maternidade. As coisas se complicam quando algumas entendem que se extingue aí sua feminilidade, e que sua missão acabou. Embora ditas liberadas e esclarecidas, muitas delas ainda não sabem conduzir de forma adequada, amorosa e crescente, todo o seu potencial de ser mulher.