A inveja
A filosofia popular, publicizada nos pára-choques dos caminhões, afirma para quem quiser ler que “A inveja é a arma dos incompetentes”. Se a gente for olhar bem, verá quantos problemas do mundo ocorrem a partir de um ato de inveja. Na metáfora da narrativa de Adão e Eva no paraíso, observa-se que a sedução levada a efeito por uma hipotética serpente falante, foi movida por inveja.
Cervantes afirma que não há amizade ou parentesco que resista às insídias da inveja. Quem teve a oportunidade de ler a Odisséia, recorda que Homero usa, diversas vezes a expressão ftónos, para referir-se ao sentimento de pura inveja que Circe sentia da esposa de Ulisses. Em La Fontaine, se encontra a expressão jalousie a caracterizar uma inveja, quase ciúme que a raposa sentia da altura da girafa.
Já os estóicos latinos falavam em invidia como a inveja que os deuses capitolinos sentiam da liberdade e da capacidade de sentir paixão que os homens tinham e eles não. Na psicologia, vê-se a inveja como um estado patológico proveniente da impotência e da irrealização, seja ela psíquica, social ou intelectual. Nesse terreno, a inveja nada mais é que o desgosto ou o pesar pelo bem ou pela felicidade de outrem, que pode chegar ao desejo violento de possuir o bem alheio.
No dia em que preparava esta crônica, percorrendo a tumultuada estrada Tabaí-Canoas, li na traseira de um furgão: “A inveja é uma merda!”. Na verdade, sentir inveja, ou uma ponta de ciúmes, em níveis toleráveis, é um sentimento humano. Por invejar os bons nos tornamos iguais a eles. Pior é quando a pessoa reconhece a diferença que o separa da outra e, sem poder superá-la, passa ao ataque, ao desmerecimento e à injúria.
Se o galã tem uma beleza que não temos, logo dizemos que ele é bonito, mas um tremenda bichona. Quando não têm mais o que desmerecer suas rivais, certas mulheres acusam-nas de tudo que lhes vêm à cabeça, desde lésbica, frívola, mercenária, até artificial, cheia de plásticas e silicone.
Se o homem teve sucesso, é ladrão; se têm muitas mulheres, é porque elas andam atrás do dinheiro dele; se é intelectual, não concordamos com suas idéias. Em geral as pessoas cooptam mais pela mediocridade do que pelo destaque. A inveja é o ódio à superioridade e ao talento. Em Bastos Tigre achei um primor: “A inveja dos inimigos é uma forma de admiração, às vezes mais sincera que a lisonja de alguns amigos”. Assim mesmo, segundo Ésquilo, não é feliz o homem a quem ninguém inveja.