A canoa virou

A prática de esportes aquáticos é para quem tem coragem, sangue frio e, sobretudo, experiência. É freqüente a leitura de acidentes, alguns graves, fatais até, ocorridos, principalmente no verão, quando, no afã de se divertir, algumas pessoas esquecem as elementares normas de segurança, sobrevivência até. Gente mais calejada, assim mesmo está sujeita a problemas e acidentes, quanto mais os “marinheiros de primeira viagem”. Nas praias catarinenses, alugam caiaques e jet-sky para o pessoal andar. O mar é calmo, e desde que não se faça maiores exageros, praticamente sem risco. Para entrar no mar, fazer passeio ou excursão às ilhas mais distantes, os pescadores fretam suas enormes baleeiras de madeira. Como são pilotos de enorme experiência, essas viagens, por volta de duas horas, não têm maiores sobressaltos, exceto, às vezes, a mudança no regime de ondas, mas que nada mais provoca que um jogo mais acentuado do barco. Agora, tem gente peituda, cuja coragem ultrapassa o bom senso. Eu admiro coragem mas repudio a imprudência, principalmente nas coisas desnecessárias. Pois um cidadão, resolveu alugar um enorme barco inflável, para sair, por conta própria, na direção das ilhas. O cara, comerciante em Porto Alegre, nunca tinha manejado um barco a motor, e decidiu sair, com mais cinco pessoas, todas da família, para empreender uma tresloucada aventura. Havia no barco, além do casal. duas crianças, uma senhora idosa, por certo a sogra, e uma moça. Eu os vi carregando barco: caixas com gelo, refrigerantes, cervejas, farnéis com alimentos, guarda-sol, cadeiras de praia e outras quinquilharias tão usuais aos excursionistas farofeiros. Foi uma guerra para fazer o motor “pegar”. O homem puxou a cordinha umas dez vezes. Assim que pegou e deu aquela fumaceira de motor afogado, o “piloto” pulou para dentro da barcaça, onde já estava a família, olhou vitorioso para a massa que apupava, e como um comandante dos sete-mares, acelerou, disposto a vencer as primeiras ondas, que àquela hora da manhã estavam bem fortes. Ele andou uns vinte metros e o motor apagou. Havendo apagado o motor, o barco ficou à deriva, meio de viés. Na primeira onda forte, a canoa virou. E de lá saltaram pessoas, crianças, a velha, liquinho, papel higiênico, isopor, frutas, cachorro, etc. Tiveram sorte que ali era raso e os banhistas ajudaram...

Antônio Mesquita Galvão
Enviado por Antônio Mesquita Galvão em 26/10/2005
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