O QUE CONTROLAMOS NESSA VIDA?


Não controlamos o que outras pessoas fazem. Não temos poder para guiar seus destinos. Podemos tentar orienta-las até um certo ponto, mas cada um só seguirá nossos conselhos se for de sua vontade.

Não controlamos os governos. A política e as forças sociais se movem numa marcha cujo controle não pertence a ninguém. Mesmo o mais poderoso tirano pode perder uma guerra, pode ser deposto pelo seu próprio povo ou aristocracia ou pode morrer a qualquer momento e tudo perder. Não temos qualquer controle sobre o trânsito da história.

Não controlamos nossos filhos. Queremos acreditar que, quando mais novos, somos capazes de dar bons rumos às suas vidas. Mas na adolescência ou na idade adulta eles podem se virar contra nós e fazer o oposto do que previmos. Quando menos esperamos, eles saem de casa e vão viver suas vidas. Cada ser é singular e não controlamos o destino dos nossos filhos. Nossos filhos não nos pertencem e não os controlamos.

Não controlamos nossos bens, nossas coisas e nosso patrimônio. Um incêndio pode destruir tudo; um roubo pode tirar tudo o que pensamos ser nosso; uma crise financeira pode nos obrigar a vender nossas propriedades. Com o tempo tudo se desgasta, quebra, enguiça, perece, sai de moda, perde a validade, fica no passado. Não temos poder sobre qualquer objeto deste mundo.

Engana-se aquele que crê controlar seu próprio corpo. O organismo humano é depositário de doenças dos mais diversos tipos. Por mais que se faça dietas mirabolantes, exercícios, remédios e todo tipo de alimentação saudável, sempre é possível se definhar numa doença. Alguns podem nos estuprar; outros podem nos agredir; outros ainda podem cortar nossos membros; nos provocar acidentes; muitos podem nos matar, destruindo definitivamente nosso veículo físico. Podemos tomar todas as medidas possíveis de segurança, e mesmo assim não há garantia final de proteção certa e permanente em relação ao nosso corpo.

Não controlamos também nossas emoções. Uma pessoa vem e nos ofende. Sentimos raiva. Outra vem, nos dá amor e nos abandona. Sentimos decepção, mágoa e tristeza. Um homem mata nosso filho, nossos pais ou alguém que amamos e caímos na mais profunda depressão. Sentimos amor e ódio, angústia e aflição, tristeza e alegria. Às vezes a carga emocional é tão violenta que algumas pessoas preferem reprimir fortemente seus sentimentos, mas essa ausência pode gerar conflitos internos ainda piores. Muitos querem, se esforçam ao máximo, mas não conseguem esquecer um ex-namorado. Outros não querem sentir ódio de um desafeto, mas o ódio sobressai e não passa. Portanto, podemos de vez em quando amenizar sua força, mas nem mesmo nossas emoções podemos controlar totalmente.

E nossa mente, controlamos? Não… Nem mesmo nossa mente podemos controlar. Nossos pensamentos vão e vem sem que nos demos conta. Pensamentos negativos invadem e assaltam a mente de muitos, e por mais que tentemos evitar, tão logo nos distraímos, os pensamentos retornam com toda força. Um trauma não pode ser facilmente esquecido. Ele sempre se faz presente em nossa mente, mesmo contra a nossa vontade. Saímos à rua a noite, e sem intenção já imaginamos cenas de violência, estupro, assaltos, sequestros. Mesmo sem querer, olhamos as aparências e já julgamos sem conhecer o conteúdo. Supomos as coisas sem nem perceber. Acreditamos sem ver e vemos, sem acreditar. Formamos cenários ideais que são irrealísticos e não conseguimos evitar essas construções mentais de sonhos e fantasias. Aquele que para e faz um esforço para nada pensar… Quando menos espera, lá estão diversos pensamentos chegando com a intensidade de uma correnteza mental cuja potência é maior que nossa vontade consciente.

Você pode até acreditar que está controlando algo em algum momento de sua vida. Mas esse controle é sempre relativo e passageiro. Tomar consciência que não podemos controlar nada nos dá um certo alívio e uma sensação de liberdade, pois uma das maiores prisões que o ser humano se coloca é a tentativa de controlar aquilo que não pode ser controlado. Quando a pessoa entende que nada controla, ela se liberta, fica menos preocupada, menos ansiosa e sente-se mais livre.

Então, fica a pergunta: afinal, o que controlamos nessa vida? Não controlamos coisa alguma? Somos meras marionetes das circunstâncias e até de nós mesmos?

A resposta a essa pergunta é simples… Só podemos controlar aquilo que nos pertence de fato. Mas o que nos pertence?

Outras pessoas não nos pertencem… Os objetos do mundo também não nos pertencem. Tampouco nos pertence os acontecimentos políticos e sociais do mundo.

Nosso corpo físico também não nos pertence. Nossas emoções também não nos pertencem. Nossa mente, algo tão próximo e tão presente, tampouco é nossa de verdade.

O que é nosso então verdadeiramente?

A única coisa que temos de verdade, que é real, que é essencial, que não muda, que está sempre presente, que é e será nosso para sempre é o nosso espírito.

Nosso espírito, esse sim, é nosso, pois é nossa essência. É a verdade do que somos. É aquilo que ninguém pode nos tirar. É a realidade perene que nem o céu e nem a terra podem fazer passar…

O espírito é nosso, ou melhor, somos o espírito. O espírito nunca se perde… O espírito não tem começo nem fim, não aumenta nem diminui, não pode ser destruído nem construído. O espírito simplesmente é o que é.

Quando você sentir que não tem controle sobre coisa alguma nesse mundo. Quando tudo se transformar, tudo acabar, tudo se perder e nada mais for seu, lembre-se que seu espírito sempre estará consigo, pois você é espírito e o espírito é você.

Não duvide disso: seremos o espírito para sempre…

Nisso você pode depositar sua fé.