REFLEXÕES DA BOLEIA - Sobre a greve dos caminhoneiros
A greve dos caminhoneiros iniciou-se como a revolta de uma classe trabalhadora contra o descaramento do governo, isto é, contra um estamento burocrático que, encastelado no poder, pretendia (e ainda pretende) transferir para o povo a conta da irresponsabilidade e da corrupção de administrações passadas. No entanto, o movimento acabou canalizando uma série de insatisfações que não eram apenas dos caminhoneiros, mas da sociedade como um todo. Sociedade esta que se sente cada vez menos representada por uma classe política que, embora alegue representar o povo, em geral representa somente a si mesma e a seus próprios interesses escusos. Nesse contexto, as paralisações foram percebidas pelo povo como uma possibilidade real - algo traumática, é bem verdade - de chacoalhar o establishment e fazer-se ouvir e ver. Uma possibilidade, enfim, de encurtar a distância abissal que se formou no país entre governantes e governados. Isso explica o apoio popular e espontâneo recebido pelos caminhoneiros, especialmente na região sul. É importante notar, nesse sentido, que o movimento foi essencialmente apartidário, não tendo sido cooptado por nenhuma sigla ou agremiação partidária específica - o que corrobora sua espontaneidade e reforça o caráter legítimo de suas reivindicações. De resto, cabe dizer que, apesar de não ter surtido uma mudança palpável e imediata na combalida situação nacional - mesmo porque isso seria muito improvável em tão pouco tempo -, essa movimentação serviu para trazer à tona questões importantíssimas, que haverão de pautar o debate público com mais frequência daqui pra frente - por exemplo, a necessidade urgente de se reduzir a mastodôntica carga tributária que esmaga e oprime a nação brasileira.
Por tudo isso, só me resta dizer o seguinte: Bravo, caminhoneiros! Vocês foram, mais uma vez, a ponta de lança na luta por um Brasil melhor e mais justo.