O cidadão e o bandido
Uma amiga mandou-me (via Internet) um cartaz, onde dizia: “Eu sou da paz! Nesta residência não há armas! Srs. Bandidos: podem agir sem medo de encontrar alguém armado. É a lei do desarmamento garantindo sua segurança!”. Isto nos revela que o bom senso, sob o fogo cerrado da proposta de proibição do comércio de armas, pode ser mais uma das vítimas da ingenuidade ou violência da demagogia.
O que pretendem com a proibição? Criar segurança e reduzir a criminalidade; resposta, tão imediata quanto impensada e equivocada. A proibição do comércio de armas não vai recuar a ousadia do crime nem baixará a delinqüência e a insegurança que, hoje, atingem a sociedade. A auto-defesa é um direito do cidadão. Na teoria, “idéias valem mais que armas”, mas quando nossos inimigos vêm, armados, contra nós, nossas idéias pouco valem.
A proibição das armas criará uma falsa sensação e produzirá um efeito danoso: o mercado inteiro de armas de fogo irá para a clandestinidade.
Nessa maré de equívocos, há uma inversão: o criminoso é o bandido e não o cidadão honesto. É ingenuidade de uns (e razões suspeitas de outros) imaginar que, diante da proibição, ninguém mais comprará ou irá portar armas. O mercado não vai estancar só porque o Estado proibiu a comercialização. Esse é o terreno fértil para a corrupção. O cidadão tem boas chances, como réu, perante um Juiz; nenhuma como alvo, diante do bandido. Só um tolo não vê isto. As razões de quem é a favor das armas são: a) impunidade judicial (agora estão soltando bandidos “por engano”); b) ineficácia policial (eliminam o alvo errado); c) corrupção de quem faz as leis. A medida certa está no controle da fabricação, comercialização e do porte de armas de fogo.
A violência não é fruto das armas mas da ignorância, da fome, da miséria, do desemprego, do coronelismo e da falta de perspectivas sociais. No fim-de-semana que passou, na Capital, uma mulher matou o genro, em casa, com uma faca de cozinha, por um maço de cigarros. Desarmado, o cidadão assaltado pode requerer indenizações ao Estado, que lhe roubou o direito de defesa.
A arma é neutra. O indivíduo é que transmite a ela seus valores ou desvalores. A campanha do “desarmamento” tem em suas hostes, artistas, intelectuais, religiosos, conferências episcopais, ONGs, ingênuos e idealistas que nunca sentiram o drama de um bandido dentro de suas casas. Com o custo astronômico do referendo (600 milhões), deviam perguntar ao povo se ele quer 600 congressistas, 100 deputados, 15 vereadores, o programa “A voz do Brasil”, o voto obrigatório, e as propagandas partidárias e eleitorais gratuitas. Isto seria uma oitiva honesta.