Tristão Araripe, Estadista e Guerrilheiro
Tristão, Estadista e Guerrilheiro
Oscar Araripe
Em boníssima hora o Arquivo Público do Ceará publica o primeiro dos três códices milagrosamente salvos do incêndio de duplo sentido mandado atear por Félix de Azevedo e Sá, referente aos primeiros atos de Governo da Confederação do Equador, escritos e assinados por Tristão de Alencar Araripe no exercício da primeira presidência republicana do Brasil. Palmas, portanto, à equipe de pesquisadores do Professor André Frota pela transcrição dos preciosíssimos textos, raros e importantíssimos para nossa História, e muito reveladores da personalidade, crenças, desejos, competência e grandezas do nosso maior e mais animoso herói.
A primeira surpresa é mesmo sua dupla função de estadista e guerrilheiro. Com letra clara e ritmada, Tristão, Presidente total do Ceará Confederado, quase um país, governa salomônicamente e sobre tudo. E aqui a velha alusão ao seu caráter afoito cai outra vez por terra, pois Tristão mostra-se equilibrado, gentil e sereno, humilde e magnânimo, determinado, sábio em todas as ordens de seu Governo. Animoso sim, manda a Companhia de Melhoramentos (uma criação republicana) cuidar das estradas, ordena que se plante mandioca ao invés de cana, manda prender malfeitores e portugueses, procura ladrões, premia heróis, obriga os covardes, repugna e proíbe os castigos corretivos aos alunos, pede armas, confessa-se em iminente ataque e diz aos seus soldados da Companhia de Guerrilhas...” Hé vantajoso brigarmos em guerrilha por entre as árvores, e este hé o único meio de conseguirmos a Victória”. Pragmata, acossado por Portugal e pela Europa, Araripe chega a ordenar que seus soldados se defendam usando cada um “vinte e quatro flexas e dois arcos”, tal a consciência da pobre realidade bélica da nossa mais bela República.
Outra constatação revelada pelos manuscritos de Tristão Presidente é seu compromisso com os índios, a quem chama “meus valorosos patrícios” e com aos negros, ambos velhos aliados dos Alencares no Ceará.
Grande Estadista, Tristão governava um Estado soberano, cristão, republicano, independentista , abolicionista e Confederado. É belo ver como Tristão evolui em seus despachos agora publicados, das idéias para práticas, da guerra para a paz, da segurança para a convicção. Guerrilha e Poder. É notável o ânimo elevado dos escritos de Araripe buscando a legitimidade da Confederação, seja a dedicando a Deus, seja respeitando a propriedade e os acordos, seja lutando para manter o seu governo republicano e o seu Ceará governado.
Vamos ainda ouvir falar muito destes códices.
Oscar Araripe é pintor, escritor e jornalista.