Patrícia Bildner
Sobre Patrícia Bildner
Caros amigos de Patrícia Bildner,
Um axioma : Patrícia Bildner era extraordinária.
Imaginem que ela, a par ser uma analista social e política principal, transitava e atuava muito bem em muitas outras áreas. Lembro-a no Rio de Janeiro visitando atelies de artistas, dirigindo com Betinha e outra não menos inesquecível, a Sra. Sage, muitos destinos de muitos jovens estudantes do Brasil e de outros países. Não creio que a conheci bem, pois éramos outros, muito jovens, e aqueles eram tempos assustados e muito velozes. Mas diria que nossos espíritos eram gêmeos, e que compartíamos gostos e interesses semelhantes, embora ela estivesse mil anos luz à minha frente. Não exagero. Um dia, em Washington, de um telefone público, ela ligou para o Robert Kennedy e marcou naquela mesma hora uma visita ao famoso senador, que nos pegou à entrada do Anexo do Senado, dirigindo ele mesmo um carrinho elétrico e nos levou até sua salinha( devo dizer que Robert kennedy era um bom e alegre chouffer). Acredito que Patrícia pertencia a uma nobreza democrática, com uma linhagem de serviços prestados à Pátria, embora ela não gostasse nada do bélico, pró-bélico, fosse na política, fosse na música, fosse na pintura. Aqueles eram tempo de muitas transformações. Os Estados Unidos parecia estar todo pensando, parecia que o mundo ia mudar, queríamos que mudasse, aqui como lá vivíamos na Ditadura. Ditaduras diversas, mas capazes de suscitar os mesmos desejo de mudança e transformação. Imagino que ela pudesse com a clareza de seu raciocínio, seu talento, ver o quanto Brasil e Estados Unidos estavam juntos em sonho e horror. E para ainda mais melhorar, tínhamos a arte entre nós. Recordo o dia em que a apresentei à grande atriz Maria Fernanda, que lhe disse magnificamente como dizia, trechos do Romanceiro da Inconfidência, de sua mãe Cecília Meirelles.Patrícia gostou muito deste encontro. Elas conversaram em inglês por um bom tempo. Ingleses diferentes, Patrícia eu imagino que fosse um puro meio-oeste e Fernanda era um old vic parnasiano, mas ambas se entenderam muito bem e ficaram amigas. Outro encontro memorável foi com Augusto Rodrigues, no Largo do Boticário, com a presença de Dona Zoé Noronha Chagas Freitas. Arte e Educação. Creio que ela sempre imaginou que viesse a fazer um trabalho como este do Gife, pois acreditava muito que o homem pudesse ser melhor, muito melhor, razão maior do bom combate.
Muitos outros momentos estivemos juntos, nos encontros da AUI e outros.Tenho que lembrar.
Foi duríssimo quando nos comunicou em minha casa da Delfim Moreira que estava terminal. Uma enorme coragem, uma enorme nobreza. Tínhamos ali aquele mar imenso e lindo a nossa frente e suas palavras nos despedaçaram. Foi muito difícil aceitar que aquela mulher Diana e Atenas a um só tempo, Afrodite tantas vezes, Juno e Cupido num só coração, com aquela cabeça harmônica de rara inteligência e beleza, tivesse sido atingida...
De modo que foi uma grande alegria saber da existência, quase por acaso, de vocês. Ela ia gostar muito disto.
Saudades eternas,
Oscar Araripe (RJ - 66 - Direito) oa@oscarararipe.com.br