Bárbara de Alencar
Dona Bárbara de Alencar. Dona Bárbara do Crato. A Brava do Cariri.
Oráculo de Santa Bárbara. Diana do Açu. A Iansã do Araripe.
Santa de Fortaleza. Heroína do Ceará. Mãe da Independência e da República Brasileira.
Minha adorada hexavó, Rainha Esplendorosa dos Álamos do Brasil.
Eu te agradeço e a meus pais e a todos meus queridos primos, a oportunidade, o prazer e a honra de retratá-la como heroína para uma medalha e uma bandeira do Centro Cultural Bárbara de Alencar.
Alta, forte, inteligente e não só no olhar, feições nem tão masculinas, guerreira, sem dúvida, mas lúcida, bondosa, tantas vezes santa.Uma santa inusitada, pois teve a glória de morrer já bem idosa, em cama amiga, pedindo uma simples rede como esquife, dispensando lápides, portanto, mas vendo a República nascer claudicante mas triunfante, vencedora mesmo, pois já o cruel tirano português estava fora do Brasil -, Bárbara, Mãe do Brasil.
Invacilante, humana, foi uma guerreira piedosa. Perdoou seus inimigos cruéis, sendo protegida , quando perseguida, até por Matilde Teles, sua maior inimiga.
Todas elas meninas de fazendas, extensas fazendas pioneiras, de gado, algodão, milho, feijão, arroz, abóbora e jerimum, e árvores frutíferas -, duras meninas de fazendas, sem muitos folguedos, depois matronas de famílias heróicas; alencares e araripes, martinianos, sucupiras, terésios, cabrais e quantos mais ? e que ela frutuosa prosseguia e inaugurava com seu bravos filhos, à frente Tristão Gonçalves de Alencar, o Nobre Herói Cearense, depois e para sempre Araripe, meu admirado e querido pentavô.
Tristão Gonçalves de Alencar Araripe, Pai da Pátria brasileira, Presidente do Ceará, primeiro Presidente da República da Confederação do Equador, logo, primeiro Presidente Republicano do Brasil, Nobre Príncipe do Araripe. Conquistador de Aracati, Fortaleza e Aquiraz. Protetor do ouro da República, filho de Dona Bárbara.
Em suas mãos esteve o futuro do Ceará, que ela e ele e os outros heróis da Confederação do Equador não quiseram que fosse um país separado do Brasil. Brasileira, portanto, de primeiríssima hora, foi ela a eterna cearense do Ceará brasileiro.
Eis aí a nossa Bárbara maior, a Bárbara de Tiradentes, Felipe dos Santos, Maria Quitéria, Anita Garibaldi, Zumbi e Betinho, e tantos outros, bela síntese de bravos anônimos e injustiçados esquecidos.
Bárbara a mulher brasileira.
Iracema, a de Alencar – eis aí uma forte, dupla face da cultura cearense, da bela mulher cearense. Uma de verdade, mítica; outra de ficção, mas até hoje passeando seus lábios de mel nas areias e calçadões da Praia de Iracema, entre palmas caídas de coqueiros.
Quem não quereria uma antiga avó heróica e bondosa ? Uma virgem dos lábios de mel ? Existiria harém e Olimpo mais belo e maravilhoso ? E melhores mulheres para os Reis ? E melhores dunas ( maiores e mais quentes) para ver tal belo mar? Ou melhores jangadas pra se arriscar ? Ah... O Ceará, a cearália.
Novos rastros de heroínas, nossa heroína maior, retrato/auto-retrato, saudades de vovó. Ouço uma Gymnopédie, uma saudade, de Eric Satie e a vejo de pé em sua bela fazenda branca e azul de alpendre, dona de tudo e de todos, conspirando e fazendo caridade, com suas duas escravas sempre ao lado ( seriam também conselheiras de seu Estado Maior ? ), abolicionista, antes mesmo de todos, mesmo plantando cana de açúcar e criando boi naquele lindo e promissor fim-de-mundo duríssimo, a terra do Sol eterno, da Água Divina e que às vezes vinha do céu - e sempre da Serra do Araripe ( ela às vezes confundia), água dos deuses, e que vinha sempre do céu do Araripe. Araripe, como ela, é aquele que vê do alto e longe. E dali ela viu o Porvir.Oh! Deus, mas como sofreu esta nossa antiga avó. Ganhou, perdeu tudo, recuperou, menos os três filhos, e seus tantos amigos leais, suas maiores riquezas.
Vejo-a assim, os cabelos pretos mas já cheios de branco. Mais ou menos fardada. Três estrelas de comando, três botões republicanos.Sua cristandade.O Pai, o Filho e o Espírito Santo. Não, não quis retratá-la sofrendo na tumba viva da Fortaleza, nem nos ferros que a martirizaram e tentaram humilhar. Quis retratá-la heroína, triunfante, invacilante na luta pela justiça, pelas liberdades democráticas na terra brasileira e no mundo.
Proponho uma bandeira branca, branca como a da Confederação do Equador, bordada por mulheres do Crato. Uma bandeira-relíquia.
E também uma outra, verde e amarela, com seu retrato pintado dentro, uma bandeira nova, que leva a arte consigo, azul e branca e confederada. Uma bandeira listrada, cheia de cores e culturas, antepassados, realidades, lutas, presente e futuro. Vitória e gratidão.
Uma bandeira do Brasil.
Oscar Araripe
Fevereiro de 2004