Invenções inteligentes da fantasia para um mundo melhor

Aline Vieira Malanovicz

Analista de Sistemas, Desenvolvedora de Software, Estudante de Direito. Técnica em Gestão, Doutora em Administração de Sistemas de Informação, Bacharel e Mestra em Ciência da Computação. Técnica em Eletrônica, Especialista em Engenharia de Software, e aspirante a escritora. Interessada em aprender de tudo um muito. MB 1533.

malanovicz@gmail.com

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A chamada de trabalhos para esta edição da revista resgatou um dos motes da Mensa: “usar a inteligência para melhorar o mundo”. O tema “ideias e ações para um mundo melhor” tem tamanha importância, que é capaz de mostrar, de forma provocativa, “para que serve a Mensa” (além de promover as saudáveis “horas felizes” e nem-sempre-saudáveis “tretas no grupão”). :-)

Se quisermos achar jeitos de usar a tal inteligência para melhorar este planetinha, então creio que, primeiro, precisamos saber o que raios precisa ser feito. Felizmente, a ONU já nos deu essa mão, estabelecendo Objetivos para o Milênio e Objetivos de Sustentabilidade. A ideia - beeeem ambiciosa - é tornar o mundo melhor para todas as pessoas, sem fome, com educação e saúde de qualidade, igualdade de gênero, respeito ao meio ambiente, desenvolvimento com energia limpa acessível e trabalho decente, redução de desigualdades, consumo e produção responsáveis, instituições eficazes, justiça e… a paz mundial.

Nosso próximo passo é buscar ajuda na imaginação de gente criativa - as chamadas “mentes férteis e inquietas”, como por exemplo, aqueles 2% que incluem você e eu. É bem possível encontrar aí algumas soluções inventivas para resolver certas agruras por que passam as pessoas neste nosso planetinha.

Como sabemos, algumas mentes férteis direcionaram seus donos para a literatura de ficção, e em vários casos, a ficção prenunciou as melhores invenções. (E também as piores! Quem não se lembra das pavorosas mazelas sociais e políticas previstas nos livros clássicos de George Orwell, Michel Foucault, Aldous Huxley e Ray Bradbury? Inesquecivelmente perversas!)

A propósito, já aviso que, nos exemplos a seguir neste texto, nada de armas, pois queremos resolver, e não complicar mais a encrenca toda. (Se você discorda, leia a seção Dialética Mensan desta edição.) Então não, não teremos espadas, varinhas, anéis de poder, sabres de luz, pistolas laser, canhões de fótons, bombas atômicas, tridentes, lanças, martelos, machados, nem manoplas (aliás, nem mesmo a Arma de Ponto de Vista).

Exemplos do lado luminoso da força são fáceis de lembrar. Que tal: a viagem à Lua de Julio Verne, bem antes daquela da NASA; os tablets e o satélite de Arthur C. Clarke, antes do iPad e do Sputnik; a enciclopédia virtual global de Douglas Adams, antes da Wikipedia; as bibliotecas sem-fim de Jorge Luis Borges, antes do Google Books e até da própria internet; os multiutilitários robôs de Isaac Asimov que hoje existem de tudo que é forma e jeito e função... entre vários outros exemplos que já nos ocorrem.

Para alcançar os objetivos de saúde de qualidade e vida boa para todos, e fim da fome, poderíamos desenvolver artefatos inspirados, por exemplo, na Fonte da Juventude, que mantinha a saúde e o vigor de quem nela se banhasse, ou na Pedra Filosofal, que permitia (além de fabricar ouro, é claro) elaborar o Elixir da Vida e dar longevidade a quem o bebe, ou no Santo Graal, que se acreditava que permitia recuperar a vida e o vigor (sorry, Henry Jones senior). As Relíquias da Morte não valem, porque são apenas metáfora (!), e o Espinafre do marinheiro Popeye também não, porque é puro anabolizante.

Desenvolver itens que permitam viajar no tempo talvez possa ser muito útil para a educação global. Imaginem o aprendizado sobre como surgiram os planetas, as montanhas, a vida no planeta! Aulas práticas in tempus. :-) Seria maravilhoso presenciar a Evolução, as variações geológicas, a degradação do meio ambiente (e com o choque, conscientizar). Seria incrível ver as mudanças sociais e de costumes das sociedades (ainda lembro dos Voyagers...), o contexto de cada época das artes (que sonho aquele Meia-noite em Paris!). Ver o que funcionou e o que bugou nas civilizações seria ótimo! Sabemos que a falta de conhecimento de História, por exemplo… pode condenar os povos a repeti-la! Entre os itens fictícios inspiradores para o desenvolvimento dessa possibilidade, incluo a TARDIS, o De Lorean, os vira-tempos da professora McGonagall. Importante que o projeto considere a feature de impedimento da manipulação dos eventos passados, para evitar os paradoxos temporais (melhor assim, não é, McFly?).

As viagens no espaço também têm alto potencial de contribuir para um mundo melhor. O pessoal do Design e da Engenharia que está lendo poderia se inspirar, por exemplo, no tapete do Aladim, na prancha do Surfista Prateado, nas vassouras das bruxas (talvez não muito confortáveis). Ou poderiam desenvolver, para vestir, os sapatos da Dorothy, as sandálias de Hermes e as botas de sete léguas. E um acessório plus-a-mais seria talvez uma capa élfica ou capa de invisibilidade, poderia ser até um elmo de Hades, que serviu bem para o Perseu. Lembro que os skates hoverboard até já existem (mas ainda não voam!). Soluções otimizadas neste campo certamente ajudariam os centros urbanos a resolver suas questões de mobilidade e até acessibilidade. Já se está chegando perto disso com os carros autodirigidos, e podemos evoluir até as esteiras dos Jetsons ou os trens aéreos de Gotham. Alguém precisa resolver as questões do transporte quanto a energia limpa. Além disso, as aulas de Geografia poderiam ser mais facilmente in loco! hehehe Mucho loco! Aliás, seria pedir demais se deslocar via guarda-roupa de Nárnia ou pó de pirlimpimpim? :-}

Para promover o trabalho decente para todos, creio que a tecnologia pode auxiliar muito na área das ferramentas e, especialmente, dos robôs. Evidentemente, é necessário treinamento e aprendizado para que o maior número de pessoas domine as manhas da lida com as tralhas tecnológicas (mas isso comento depois). Entre as ferramentas, logo me lembro da parafernália extremamente útil contida no batcinto de utilidades e nos apetrechos do agente 007. Ah, e a corda élfica do Sam e a chave de fenda sônica também não são desprezíveis, assim como o anel do Lanterna Verde (e sua respectiva… lanterna? bateria?). E, para carregar a tralharada toda, talvez uma pokebola sirva (mas essa talvez possa conter apenas, digamos, pets), ou a lâmpada do gênio (mas essa talvez seja exclusiva para djinns?), ou até o chapéu do Presto (melhor não!). Então, nada melhor que desenvolver uma bolsa da Hermione, o que talvez exijam o desenvolvimento de uma ampliação no tecido do espaço-tempo...

Já no quesito robôs, que contribuiriam para a promoção do trabalho decente para todos, vemos que, atualmente, os maiores avanços da tecnologia conseguiram meramente... um aspirador de pó (vc ainda é meio tosco, Roomba), e um assistente pessoal (vc também ainda está tosco, Jibo), fora aqueles humanóides (Asimo? aff!) que mal conseguem andar, mas já foram programados para... dançar (!?!). Eficiência e desenvolvimento com energia limpa deveriam as diretrizes principais para os robôs, assim como o consumo e a produção responsáveis. Nessa área, evidentemente, nada se compara à incrível e tudo-de-bom Rose Jetson, que tornava eficientes todos os pequenos detalhes da administração econômica dos recursos da família (Roses poderiam administrar as empresas, instituições públicas, até o governo!). Perto dela, até mesmo os fofuxos R2D2 e BB8 parecem bastante limitados (C3PO mais ainda). O próprio gênio da lâmpada, ainda que pudesse ser desenvolvido pelos gênios da Mensa, nem ele seria minimamente comparável, pois ele se restringe a conceder apenas três desejos (e todos que os utilizaram fizeram mau uso - vai ver, não sabiam que “Com grandes poderes, vêm grandes responsabilidades”). Falando em mau uso, melhor nem mencionar o clone de George Jetson que ia para o trabalho em seu lugar, tão ruim quanto o guaraná (pobre ovelhinha!). A grande coisa das invenções de Os Jetsons era - além da Rose - o fato de tudo já ser sem-fio! :-)

Para o entendimento entre os povos, creio que o C3PO tem sido uma inspiração clássica. Outro item mais recente é coleira do cachorro do Up, que traduz os pensamentos do pet (e por que não de bebês chorões?) (Aliás, C3PO conhece “cachorrês”? E “bebeliano”?). Atualmente, software e hardware tradutores de linguagens já atuam em real-time, com reconhecimento de escrita e do som da fala, em uma grande quantidade de idiomas, mas... ainda têm muito a melhorar! Imaginem o potencial de alcance da Aldeia Global, com a internet, em termos de comunicação entre pessoas, intercâmbio de ideias, de progresso científico, social, jurídico, entre as diferentes sociedades, começando pelo fato de se entenderem.

Os artefatos que exemplificam os possíveis desenvolvimentos da mente humana são talvez os mais interessantes para o público mensan. Por exemplo, a penseira de Dumbledore, que ajuda a destacar um pensamento (uma memória, uma preocupação, um raciocínio) e compartilhá-lo, ou o neuralizador dos Men in Black, que apaga memórias de determinado período recente (creio que Funes gostaria de se livrar, por exemplo, de músicas-chiclete). Também ajudariam nesse aspecto aqueles itens que permitem “ver longe”, seja no espaço, como a palantir, seja no tempo, como a bola de cristal, seja na mente de outras pessoas, como o cérebro do Professor Xavier (mas isto é um tanto perigoso!).

Artefatos que buscam informações, como o espelho da Rainha Má, possivelmente passariam no Teste de Turing. Já o Anel de Salomão é um item que promove o desenvolvimento dos conhecimentos de uma pessoa, e assim poderia fazer “a” diferença quando se trata da mobilidade social e do acesso a oportunidades para quem não as tem. Já poderia ajudar a promover a redução das desigualdades, sejam sociais, sejam de gênero. E o que eu mais curto, o Laço da Verdade, que expõe “a realidade como ela é”. Imaginem o progresso das ciências, a transparência nos relacionamentos pessoais, profissionais e até comerciais e governamentais, sem falar nas campanhas políticas. Além disso, promoveria a eficácia das instituições, assim como a acurácia das investigações de polícia e dos julgamentos (até Justiça). Incrível! Creio que desenvolver ao máximo as tecnologias que ampliem o conhecimento serve para esclarecer as pessoas e promover o entendimento do mundo, o que é um objetivo positivo. Qualquer mensan que pretenda se dedicar a tamanha empreitada pode se inspirar, é claro, nos livros.

Todas essas invenções da fantasia servem às pessoas, seja para viver mais ou melhor, para viajar no tempo ou se deslocar no espaço, para ficar incógnito ou simplesmente facilitar as tarefas do dia-a-dia, para a comunicação e o entendimento entre as pessoas, para o melhor uso da memória ou para obtenção de conhecimento. E todas parecem ter amplo potencial como “ideias e ações” para contribuir para “um mundo melhor”. Se analisarmos bem, é muito possível que algumas deem uma bela mãozinha para alguns daqueles megaobjetivos da ONU. Já pensou no desenvolvimento e na melhoria das condições de vida que cada uma delas poderia trazer? Talvez até… a paz mundial!

Então, mãos à obra! “Mensans do mundo, unamo-nos”: “usemos a inteligência para melhorar o mundo”.

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Fontes de Consulta

BUENO, Eduardo. Buenas Ideias. 24 abr. 2017. Canal no YouTube. Disponível em: <https://www.youtube.com/channel/UCQRPDZMSwXFEDS67uc7kIdg/featured>. Acesso em: 6 maio 2018.

DODSWORTH, Alexey. “Revista Mensa Brasil - Chamada para edição de inverno”. 20 abr. 2018, 16:37. Post do Facebook (Grupo Associação Mensa Brasil). Disponível em: <https://www.facebook.com/groups/mensabrasil2016/permalink/2006760102909903/>. Acesso em: 20 abr. 2018.

ESTANTE VIRTUAL. Escritores visionários: eles previram o futuro em seus livros. 20 mar. 2012. Disponível em: <http://blog.estantevirtual.com.br/2012/03/20/escritores-visionarios-eles-previram-o-futuro-em-seus-livros/> Acesso em: 30 abr. 2018.

ONU - Organização das Nações Unidas. Conheça os novos 17 objetivos de desenvolvimento sustentável da ONU. 25 set. 2015. (Atualizado em 12 abr. 2017) Disponível em: <https://nacoesunidas.org/conheca-os-novos-17-objetivos-de-desenvolvimento-sustentavel-da-onu/> Acesso em: 28 abr. 2018.

R7: Tecnologia e Ciência. 10 invenções da ficção científica que você queria ganhar de Natal. 19 dez. 2015, 00:10. Disponível em: <https://noticias.r7.com/tecnologia-e-ciencia/fotos/10-invencoes-da-ficcao-cientifica-que-voce-queria-ganhar-de-natal-19122015#!/foto/7> Acesso em: 5 maio 2018.

ROSA, Rafael de la. 7 objetos mágicos en las novelas de fantasía. set. 2017, 9:14. Disponível em: <https://www.dragonmecanico.com/2017/09/objetos-magicos-novelas-fantasia.html>. Acesso em: 6 maio 2018.

SUPERINTERESSANTE: Tecnologia. 10 invenções que a ficção científica inventou. 22 abr. 2010, 22:00 (Atualizado 9 jan. 2017, 19:56). Disponível em: <https://super.abril.com.br/tecnologia/10-invencoes-que-a-ficcao-cientifica-inventou/>. Acesso em: 29 abr. 2018.

TAVERNA DO ARKANUM. Top 10 itens mágicos mais poderosos! 2 ago. 2017, 23:15. Disponível em: <http://tavernadoarcanum.blogspot.com.br/2017/08/top-10-itens-magicos-mais-poderosos.html>. Acesso em: 6 maio 2018.

UNICEF - Fundo das Nações Unidas para a Infância. Objetivos de Desenvolvimento do Milênio. 8 set. 2000. Disponível em: <https://www.unicef.org/brazil/pt/overview_9540.htm>. Acesso em: 29 abr. 2018.