EMPREGADOS... MAS ATÍPICOS

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A crise do desemprego corre solta e sem previsão de fim. Cresce a cada dia o número de desempregados. Vemos situações atípicas como, por exemplo, pessoas de todos os níveis, até mesmo com diplomas universitários, concorrendo a vagas num concurso para gari. A profissão de gari tem a nobreza de qualquer outra profissão, mas essa situação é realmente inusitada. Com o passar do tempo, o desespero se instala entre pessoas desempregadas. As economias no fim, a família que não tem mais o que cortar para poupar, chegando a faltar o essencial. Mudam-se para casas mais simples, vendem objetos que foram importantes para sua realização pessoal e, diante da realidade, vão se tornando supérfluos. E muitas dessas famílias caminham para o total empobrecimento, chegando a morar em favelas ou sob uma ponte.

Mas quero falar daqueles que têm a sorte de estarem ainda empregados. É visível o medo confesso de perderem aquele emprego. Empenham todos os esforços para mantê-lo. Apavoram-se ante a idéia do desemprego.

Os patrões sabem disso. Nem sempre compreendem. Alguns até se mostram solidários, preocupados com o bem-estar de seus subalternos. Mas têm sempre presente o objetivo da empresa, que não é beneficente... O objetivo maior é o lucro, claro, sempre o lucro. Afinal, o País precisa crescer... O bem-estar do indivíduo fica para segundo plano, apesar de ninguém contestar a máxima tradicional: “Uma Nação é seu povo”.

Isso cria uma situação nova de injustiça. Diante da crise, não se pode pensar em novas contratações. Como uma empresa precisa crescer sempre, o trabalho aumenta. Apesar disso, não há ampliação de equipes, mas um aumento na jornada de trabalho das equipes existentes. Aumenta a mão-de-obra, mas não aumenta proporcionalmente o número de seus executores. Há propostas de aumento de trabalho com aumento salarial não integrado no contrato trabalhista. Sempre temendo o desemprego, os empregados vão se submetendo e se sobrecarregando com tarefas novas para as quais não foram contratados inicialmente. Vão assumindo novos encargos, movidos pelo senso de responsabilidade aliado ao medo. O tempo de repouso e de lazer, tão necessários, vai minguando. O nível de exigência imposto às pessoas resulta em um número cada vez mais alto de doenças. O estresse vai se instalando, quase imperceptivelmente de início. O trabalho deveria realizar e produzir satisfação, mas quando acumulado produz o contrário. Para que se atinja produtividade e qualidade, são precisos indivíduos saudáveis além de competentes. Mas, muitas vezes, o indivíduo é pressionado, o que o conduz a estados de insatisfação e reduz sua motivação. Doenças se instalam, como a fadiga, distúrbios do sono, alcoolismo, diversos distúrbios orgânicos e até mesmo a dependência de medicamentos que embotam a mente para aliviar o estresse. Estresse - o grande fantasma! O número de doenças diretamente relacionadas a ele está aumentando. Os estados crônicos do estresse afetam diretamente a execução das tarefas e o desenvolvimento do trabalho. Vai caindo, pois, nesse ritmo louco, a competência e a auto-estima do empregado. E chegará o dia em que sua força de trabalho vai esmorecer, o patrão vai constatar que ele não serve mais. Uma nova contratação vai se efetuar. Será apenas uma troca...

E volto a lembrar os milhares de desempregados. Quantos deles poderiam ser contratados para dar suporte aos sobrecarregados empregados atípicos! Ah, não fosse a desmedida ambição...

Num sistema capitalista, o verdadeiro poder está no capital. O ser humano só interessa se produtivo e quanto mais melhor. Poucos atinam para uma verdade simples: a prevenção é o melhor remédio. Será que o poder deste país está percebendo isso?

Essa a situação atípica dos trabalhadores hoje. Embora aposentada e fora dessa terrível roda-viva, é como vejo e sinto a realidade através de leituras, pesquisas, conversas. E a minha rebeldia não se conforma...

Sal
Enviado por Sal em 25/10/2005
Código do texto: T63212