Herói Nacional
Um levantamento recente feito por uma grande fábrica de bebidas nos traz números muito reveladores. Existem nesse nosso Brasil um pouco menos de um milhão de estabelecimentos dedicados a vender comidas e bebidas. O detalhamento desse levantamento é mais revelador ainda. São detalhes que deveriam servir aos nossos governantes como base para estudo da economia escondida. Vamos observar:
- 80% desses estabelecimentos são micro empresas. Quando falamos micro, não estamos usando a classificação oficial. São empresas que, em média, têm um proprietário e 4 colaboradores.
- O faturamento da maioria delas não ultrapassa cinco mil reais por mês.
- A grande maioria funciona em prédio próprio, na casa do proprietário.
- A média de vida dessas empresas é de 15 anos.
- O projeto da maior parte delas é fazer melhorias no prédio.
Não vamos aqui nos perguntar o que faz um empresário sobreviver 15 anos no mesmo patamar. Vamos nos ater aos números. Temos em torno de 800.000 casas que empregam mais de 3.000.000 de pessoas. É o dobro da população economicamente ativa de todo o Amazonas. Reparemos ao detalhe que nessas micro (ou deveríamos falar nano) empresas os proprietários estão sujeitos às mesmas leis trabalhistas que uma multinacional. A lei não considera que o faturamento global dessa empresa é menor – talvez menos da metade - do que o salário de um único legislador.
São 5 pessoas – talvez pais ou mães de família – vivendo do valor agregado de R$ 5.000,00. Pessoas essas que não estão engrossando as filas do Bolsa Família, seguro desemprego, pleiteando financiamentos públicos ou outro programa assistencial. Como fazem para sobreviver e se manter durante 15 anos na atividade?
As melhorias no prédio – melhor chamar de casa, para não dar a idéia de pomposidade, que absolutamente não existe – são reformas pequenas. Pequenas reformas, principalmente de pintura. Coisas que não custam mais de R$ 1.500,00, mas que o proprietário não pode tirar do seu movimento porque faltaria para comprar produtos.
Esta é uma realidade que muitos fingem que não existe. Esse é um universo de desassistidos que além de conseguirem sobreviver ainda criam empregos. Muitos deles passaram da posição de desempregado para empregador. E trabalham muito. Muitas e muitas horas por dia, atendendo pessoas de baixa renda que encontram naquele estabelecimento um refúgio. Férias? Décimo terceiro salário? Só os seus colaboradores têm esse direito.
O único investimento que fizeram em muitos anos, talvez seja o de levarem seus filhos para a escola e assim poderem seguir um rumo diferente dos pais. Nisso são iguais a todos os pais que querem uma vida melhor para seus filhos.
Aqui nós devemos fazer uma reflexão: Quando, nas escolas, estudamos os grandes vultos da nossa história não deveríamos também parar para fazer uma reverência a esse herói anônimo que numa luta diária – e noturna – enfrenta as mais diversas dificuldades para não depender da caridade de ninguém nem se submeter às ordens de um patrão para, muitas vezes, ser achacado por autoridades, por moralistas ou apontado por mulheres mal amadas como causador de problemas.
Vamos bater continência a esse Herói Nacional?
O autor é escritor e empresário.
Luiz_lauschner@yahoo.com.br
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