O JOGO QUE NINGUÉM PODE VENCER


 
    Muito antes de os profissionais de PNL desenvolverem as técnicas para efetuar mudanças comportamentais através de um ajustamento consciente das nossas sensibilidades, os grandes comunicadores e os cultores do chamado pensamento positivo já discursavam sobre a possibilidade de melhorarmos os nossos resultados sociais e profissionais através daquilo que hoje nós chamamos de quebra de padrão. 
     Um exemplo muito explorado dessa técnica é o seguinte: você acabou de conhecer uma pessoa. Ela lhe passa uma sensação de antipatia. Digamos que a pessoa lhe procurou para reclamar ou cobrar alguma coisa, que ela pensa que você lhe fez ou deve, ou por algo que a incomodou e ela acha que você tem alguma responsabilidade por isso. Você sabe que ela não tem razão, mas ela pensa que tem. Ela entra na sua sala agressivamente, e você, sentindo a iminência da agressão, já se posiciona para a defesa. Se você não tomar cuidado, é bem possível que até acabem rolando pelo chão. 
     Essa é uma resposta muito natural. Vem do nosso sistema límbico, da área responsável pela nossa autodefesa, área das respostas instintivas, onde a inteligência emocional ainda não foi desenvolvida. Ali são interpretadas, não as mensagens verbais propriamente ditas, mas principalmente as mensagens não verbais que a pessoa emite. Essas mensagens estão presentes na postura dela, na coloração da pele, no timbre da voz, nos gestos, no fulgor e no movimento dos olhos, na espessura dos lábios, enfim, no corpo e não nas suas palavras, por isso é a nossa mente inconsciente que responde e não a nossa razão.
     As técnicas desenvolvidas pela PNL para esse tipo de experiência aconselham o seguinte: não responda de imediato a agressão. Ao invés de posicionar seu corpo para a luta, respondendo à mensagem não verbal da pessoa, imagine que ela é um possível cliente do seu negócio. Convide-a para sentar-se, ofereça-lhe água ou café, deixe-a dizer tudo que pensa, mesmo que isso lhe pareça ofensivo. Isso é o que se chama "oferecer a outra face" sem se machucar. É simples e não dói.
     A ofensa é uma carapuça que a gente só usa se quiser. Lembre-se que a pessoa entrou em sua sala para brigar. Se não achar alguém com a mesma disposição, não terá ninguém com quem dividir o ringue. Isso é quebrar o padrão dela. Depois que ela falou tudo que quis, exponha o seu ponto de vista de uma forma que você não esteja meramente contestando o dela. Não use conjunções adversativas, do tipo mas, contudo, todavia, entretanto, só que...etc. Esse tipo de conjunção denota, já de início, que tudo que ela disse já foi julgado e contestado dentro da sua mente. Use no lugar das conjunções adversativas, conjunções aditivas ou alternativas; e, ou, e mais, etc.Isso indica que você vai somar, ou alternar alguma coisa aos argumentos dela e não simplesmente descartá-los.
     Seja o que for que você diga, nunca deixe que ela pense que foi completamente derrotada. Muitas vezes, o que a pessoa quer é apenas uma satisfação. Se você a deu, é o que basta. Observe como se iniciam as discussões. As pessoas se digladiam como se fossem pugilistas num ringue. Dão estocadas um no outro, demarcam espaços, estudam os movimentos dos adversários antes de partirem para a luta aberta. Empenham-se tanto em demolir os argumentos do outro que nem se propõem a analisar suas razões. Vencer a discussão lhes parece um caso de vida ou morte.
     Como se alguém pudesse vencer uma discussão! Você já viu alguém que já tivesse, de fato, vencido uma discussão? Você já viu, aliás, alguém que já tivesse vencido um debate político? Há pessoas que dizem que determinado candidato venceu. Depois você lhe pergunta qual é o candidato dele e aí descobre por que ele acha que o tal candidato venceu. É claro, mesmo que o sujeito fosse mudo, gago, ou incapaz de formular uma única frase coerente, ele teria vencido. Afinal, é o candidato dele....
    Vencer uma discussão é como torcer para um time de futebol. Mesmo que o nosso time seja rebaixado à segunda divisão, ele sempre será melhor do que os outros times. Se você está acostumado a discutir com sua mulher, seus filhos, chefes, patrões, etc. você sabe do que estou falando. Mesmo que eles não digam nada, você sabe, pelas mensagens não verbais deles, que tudo que você disse não vai servir para coisa alguma...
      Discussões são jogos que não podem ser vencidos. Vitória é um resultado que não existe nesse jogo. No campo dos relacionamentos humanos, não se pode obter bons resultados com uma parte tentando impor-se à outra. Uma discussão é sempre um confronto de mapas mentais. E eles nunca são idênticos, nunca dividem, pacificamente, o mesmo espaço, nem se conformam aos mesmos limites. Por isso, nesse jogo, se você quiser vencer, não faça força para ganhar. Esse é um jogo que quem pensa que ganha, na verdade, perdeu.