O Som do Silêncio
Vivemos num mundo de barulho. O aperto irritante da buzina no trânsito, o motor do caminhão que passa bem ao nosso lado, o estressado que xinga num cruzamento, as pessoas conversando no ônibus alto no celular, a propaganda que invade ouvidos pra melhorar as vendas, a criança que chora pedindo um doce, casais que não se entendem mais e que competem com as palavras pra ver quem atinge o outro mais rápido...
Não é fenômeno recente isso. Paul Simon em sua canção “Sound of Silence” escrita nos anos 60 já dizia que as pessoas falavam muito sem nada a dizer e ouviam sem escutar. Há ainda um antigo provérbio atribuído aos chineses que diz que a palavra é prata e o silêncio é ouro.
A palavra “Silêncio” vem do Latim SILENTIUM, “ato de estar quieto”, e de SILERE, “ficar quieto, evitar ruído”. O gesto que qualquer um conhece desde os primeiros meses de vida é universal, seja em que época ou civilização com o dedo indicador atravessado verticalmente na frente dos lábios expressa nitidamente o cessar das palavras, o cerrar dos lábios, o silêncio.
A cultura do "bateu-levou" nos dá falsa sensação de autoproteção quando somos ameaçados, criticados ou injustiçados vivendo uma espécie de ditadura da resposta.
É comum, encontrarmos comentários ou publicações onde se lê que “o silêncio fala mais que que mil palavras” ou ainda o clássico “quem cala consente” concedendo ao ato de silenciar um poder quase que mágico nas resoluções das questões e decisões nas relações humanas e dos acontecimentos da vida. Estamos deixando de praticar esse poder quase que místico e não ouvimos o que precisa realmente ser ouvido: nossos pensamentos. Estamos tão focados nos outros que ignoramos a nos ouvir, a nos conhecer, a nos buscar a nos entender.
Somos e estamos cada vez mais críticos em excesso, escravos de uma necessidade absurda em responder a tudo como forma de ter controle sobre pessoas ou a certos acontecimentos e por isso, muitas vezes, sofremos ou além disso, também machucamos alguém.
O psiquiatra Dr.Augusto Cury, autor de mais de 24 livros sobe o funcionamento da mente, diz que é preciso um silêncio não daqueles de contar até dez para não explodir e sim, o silêncio do respeito por si mesmo, pela própria inteligência e pela liberdade de não se ver obrigado a reagir em situações de desacordos.
Silenciar-se então pode ser muito mais como ato de inteligência do que humildade, mansidão ou até mesmo de introspecção. O silêncio deve ser visto como de fato ele é: um poder mágico que se adquire com a prática de se interiorizar, de refletir, de se afastar para meditar para só depois, agir. É a pausa naquele momento pesado ou de caos que se precisa para recolher os cacos para não se cortar mais e entender o que mudou, ou está mudando ou que precisa ser reconsiderado ou o que precisa ser jogado fora.
Palavras ríspidas impulsivas e impensadas demonstram uma tentativa desesperada de controle ilusório caracterizando um círculo doentio e doloroso.
Só com o poder do silêncio que se aprende que o máximo que se pode controlar (e com muito esforço) será a nós mesmos e isso, acredite, já é um grande feito existencial.