A TRAGICOMEDIA NACIONAL
A tragicomédia é um gênero de peça teatral que mistura elementos de tragédia e de comicidade. O momento atual brasileiro leva-nos a refletir que estamos sendo atores de uma tragicomédia. Os papéis nesse teatro estão sendo protagonizados por todos nós, cada um desempenhando um personagem que concorre para o enredo tragicômico em que nos metemos. Por atos ou omissões estamos construindo o script dessa peça teatral.
Vivemos uma tragédia nacional nas décadas 60 e 70 do século passado. Parece que a História quer se repetir. O pior é que estamos contribuindo para isso. Há um explícito esforço para desmantelar as forças populares, concentrar poderes nas mãos de uma elite que teima em sacrificar os mais necessitados como forma de aumentar seus privilégios e assumir o comando da situação. Impera um clima de insegurança, medo, incertezas. É colocado em curso um projeto que destrói todas as conquistas populares, a pretexto de uma falsa ação moralizadora e da necessidade de uma enganosa estabilidade econômica e financeira do país.
O que chega a ser risível, se não fosse trágico, é que estamos perdendo a esperança, e nos tornamos uma sociedade apática, omissa, sem amor próprio. Caimos no perigoso sentimento do “não acreditar em mais nada”. Porque esse comportamento é risível? Porque demonstra uma postura de quem está levando a questão na brincadeira, beirando a irresponsabilidade. Impera um falso moralismo, uma negação de espírito cívico, uma insensibilidade inadmissível nas atuais circunstâncias.
Estamos tristes, mas resignados. Abatidos pela desânimo, mas dando a impressão que “está tudo bem”. Inconformados na intimidade, mas manifestando alegria publicamente. Observamos que o Estado está deixando de ser o escudo dos mais pobres, mas isso não incomoda ninguém a ponto de motivar reação. Fala-se em combate à corrupção, mas as instituições estão todas em frangalhos, atingidas por escândalos que as fazem perder autoridade para exercerem essa luta.
Precisamos reescrever o roteiro dessa peça teatral. É importante que cada um de nós reveja o papel que está desempenhando nessa “ópera bufa”. Abandonemos os personagens burlescos que estão nos levando a uma situação ridícula de alimentadores do caos.