A importância de se fazer o que se gosta

Sabe aqueles sujeitos penteadinhos, arrumadinhos de terno e gravata que são pagos para te dizer que você pode melhorar seu rendimento no trabalho? Ora bolas, pense aqui comigo: por que cargas d'água é necessário pagar alguém para te dizer isto? Será que é porque você faz o que faz pelo salário, por ser seu sustento, pela obrigação e não porque gosta?

Para iniciar o assunto "sim, eu gosto do meu trabalho", imaginem aquela situação tão comum e tão chata do atleta profissional, o craque do time, muito machucado e sendo retirado do campo ou da quadra numa maca. Imaginem uma contusão séria. Meses de afastamento. Se ele for entrevistado durante este tempo de recuperação, provavelmente encontraremos um sujeito muito triste. Continua ganhando salário, tem qualidade de vida, mas está triste. E volta à atividade radiante! Ficar sem jogar, para ele, é pior que ter se machucado. É o amor pelo que ele faz que o deixa assim. Perguntem a ele se assiste a palestras de engravatados engomadinhos revelando maneiras fabulosas de como pode ser mais produtivo e/ou "como ficar rico". Certamente responderá que não. Auto-ajuda alguma é necessária quando se ama o que faz. Quem tem saudade do trabalho durante as férias e fica animado para a volta, está no emprego certo. Ninguém tem que "enfiar" na cabeça destas pessoas aquelas dicas prontas e manjadas.

O mesmo vale para os estudos. Vejo piadinhas aqui e ali, ao vivo e na internet, tais como de quem estuda Biologia "está condenado a ser pobre para o resto da vida" ou quem se forma em Filosofia corre o risco de não ter sua profissão valorizada ou tampouco reconhecida pelos brasileiros, tendo como "única saída" dar aula. Bom, se eu amasse Biologia ou Filosofia, eu cursaria por esse motivo, independente dos preconceitos e dos ganhos.

Falando nisso, lembro de alguns comentários da época da faculdade (curso da área de Tecnologia da Informação). Diziam que "informática dá dinheiro". E percebi que boa parte dos alunos que cursavam estavam lá por este motivo. Não conheciam ou não gostavam tanto assim de computadores. Cerca de 5% da sala era composta por apaixonados pela área. E cinco por cento é provavelmente o número de alunos que seguiram carreira depois de formados.

Por isso um alerta aos estudantes: se você está estudando o que estuda por achar que "dá dinheiro" ou porque "tem mercado" e não gosta nem um pouco do conteúdo ministrado nas aulas, está perdendo seu tempo. Gosta de outras coisas? Então mude o quanto antes. Afinal de contas, não dá pra saber se você vai enriquecer simplesmente por trabalhar em determinada área. A única certeza com que podemos contar é a da satisfação de estudar e trabalhar com o que gostamos.

Outro detalhe importante: às vezes não dá para saber, antes de começar a estudar / trabalhar, se a área é, de fato, interessante, especialmente se o estudante conclui o ensino médio muito cedo e lá ainda nos dezessete tem que escolher um curso. Acertar o que gosta de verdade de fazer, estudar e trabalhar é loteria! E imagine se você descobre que não gosta do seu curso depois de uns dois anos. Sim, até lá você pode ter passado por aulas empolgantes, professores legais, mas se dá conta de que o curso como um todo não te agrada. O que fazer? A mesma coisa indicada linhas antes: mudar. Mude de curso.

E quanto ao trabalho? Como é para você e seus colegas o sentimento a respeito? Sensação de que o dia não passa? Vinte minutos antes de finalizar o expediente bate aquele desespero? Domingo à noite é o momento mais dramático da semana? Já se perguntou se não seria melhor estar trabalhando em outra coisa?

Calma, não se desespere. Você tem salvação (e calma! Eu não sou pastor!). Vale aqui também, mais uma vez o conselho: mude de atividade. Resgate na memória velhos interesses. Informe-se. Converse com pessoas que trabalham nas áreas que você gostaria de atuar. Não se abale se você ficou por um tempo estudando e/ou trabalhando em algo que por fim descobriu que não gosta. Não considere tal acontecimento perda de tempo. Pior seria ter continuado em um ramo de que (já) tem certeza de que não se interessa. Imagine como seria sua vida. E mais: há quem descubra - e acontece com muita gente - outros interesses mais tarde na vida, talvez já na maturidade, enquanto faz outros cursos, uma segunda, terceira graduação. E, se for o caso, não hesite em mudar de área. Não deixe de fazê-lo porque te disseram que "não dá dinheiro", que você "vai ficar desempregado", é coisa de "louco", ou de "vagabundo". Até hoje há quem acredite que músico, por exemplo, é vagabundo. Se usar camisa florida, óculos de sol e tocar um violãozinho por horas é o que te faz bem, mais do que usar terno e gravata e se ver obrigatoriamente dia após dia perdido na correria das grandes cidades com as mãos agarradas a uma pasta, então siga a sua vontade.

E se o que você gosta de fazer não dá dinheiro? Qual a solução? Veja, por exemplo, quem gosta de Literatura. Existem casos tristes neste país que não dá valor a esta Arte. Clarice Lispector, a grande Clarice, falecida devido a um câncer, passou seus últimos dias com dificuldades financeiras, internada em hospital público, do antigo INPS. Mário Quintana foi expulso do hotel onde morava, também por problemas financeiros (curiosamente, o prédio hotel em questão, em Porto Alegre, se transformou em um centro cultural que leva o nome do poeta). Sabe o que você pode fazer se gosta de absorver e produzir Literatura? Transformar em hobby. Faça como Drummond: ele tinha um ganha-pão como servidor público e nas horas livres escrevia poemas. E que poemas! Foi recentemente revelado que ele, juntamente com Jorge Amado, haviam sindo indicados para o Nobel. Seja a sua atividade de interesse Literatura, outras Artes, ou qualquer outra que possa não prover sustento, trabalhe em outra coisa (que goste, de preferência!) e pratique sua paixão nas suas horas livres. Pintura, música, escultura, fazer um belo cardápio, confeitar um bolo... uma ou outra atividade pode até render um dinheirinho. Independente disso, lembre-se da recomendação lá do começo do texto: para estes casos também, em nome de horas felizes, em que você não vai nem diferenciar o que é trabalho e o que é lazer, vai fundo!