CONCEITO DE AMIZADE NA ÉTICA A NICÔMACO DE ARISTÓTELES

Constata-se que Aristóteles foi o primeiro a idealizar de forma estruturada e delinear os tipos de amizade (Wolf, 2013). E em sua ética nicomaqueia tratou desse tema nos Livros VIII e IX. Assim sendo, surge um questionamento sobre qual seria a razão para essa escolha. Giovanni Reale (2015), explica que há diversas razões e nos dá três delas:

Em primeiro lugar, a amizade é para Aristóteles, estruturalmente ligada à virtude e à felicidade, portanto, aos problemas centrais da ética. Em segundo lugar, a problemática da amizade, por Sócrates e, sobretudo por Platão, como vimos, já fora debatida a fundo e conquistara uma notável consistência filosófica. Em terceiro lugar, a estrutura da sociedade grega dava à amizade uma importância decididamente superior á que dão as modernas sociedades, de modo que também desse ponto de vista explica-se a particular atenção que lhe dedica o Estagirita. (REALE, 2015, p.114).

Mondin (1981), afirma que entre as virtudes investigadas por Aristóteles, a amizade ocupa um lugar de destaque, pois sem ela o homem não pode ser feliz. Aristóteles assegura essa importância no início do Livro VIII, dizendo que, mesmo se alguém possuísse todos os bens, não escolheria viver sem amigos. Levando isso em consideração, os ricos e as pessoas que exercem autoridade e poder são os que mais precisam de amigos, pois de pouco serve a prosperidade sem a oportunidade de beneficiar alguém.

Duas características fundamentais da amizade são a reciprocidade e o querer o bem do outro, no interesse dele próprio e não só nos nossos. Quando se deseja o bem a outrem, mas não há uma correspondência, nem o outro sabe, chamamos isso de benevolência, apenas (ARISTÓTELES, 1984).

À luz dessas ideias, o conceito de philia, apresentado por Aristóteles, aproxima-se, de certo modo, ao que se entende por amizade atualmente: relação positiva, entre pessoas que desejam bem uma a outra. Dessa forma, a busca do bem por si mesmo (o bem querer), a base e a essência da amizade, não pode permanecer oculto (WOLF, 2013). Caso permaneça oculto e não seja mútuo, não pode ser considerada amizade, pois essa relação acontece de forma superficial e que passa, não existe intimidade, ao contrário disso, acontece repentinamente.

Alguém que ao passar na rua, dá uma esmola a um mendigo não está desenvolvendo uma relação amistosa, mas agindo com boa intenção e boa vontade. De fato, isso pode ser o início de uma amizade, mas não é em si. Uma das marcas da amizade é o desejo de estar junto, sentir prazer na companhia do outro. Sobre isso, Aristóteles afirma:

É por isso que, enquanto os jovens são rápidos em fazer amizades, o mesmo não se dá com os velhos: os homens não se tornam amigos daqueles em cuja companhia não se comprazem. E, da mesma forma, também as pessoas acrimoniosas não se tornam amigas facilmente. (ARISTÓTELES, 1984, p. 184).

A reciprocidade e o desejo de estar juntos são considerados marcas da amizade, visto que os homens podem até ajudar-se mutuamente no que for preciso, mas se estes não passam os dias juntos e se deleitam da companhia do outro, e dessa forma, não é possível afirmar que são amigos (ARISTÓTELES, 1984). A amizade é baseada na partilha e apreciação de coisas afins, mostrando assim, a sensação de convivência entre eles.

Em contrapartida, explica Aristóteles, duas pessoas que estão distantes uma da outra podem manter sua relação de amizade, mas o que se desfaz não é a amizade, mas a atividade. Entretanto, se esse distanciamento é longo, pode parecer que houve um processo de esquecimento (ARISTÓTELES, 1984).

Amizade é uma virtude e o amor é uma emoção. Sendo assim, é possível sentir amor por coisas inanimadas, mas não amizade, já que o amor recíproco pressupõe uma escolha, que tem origem em uma disposição de caráter (virtude). Os homens são benevolentes com aqueles que amam, não por sentimento, mas por virtude e pelo que eles são. O amigo torna-se um bem para o outro (ARISTÓTELES,1984). Quanto a isso, explica Reali:

Enfim, o homem, como ser estruturalmente polítco, ou seja, feito para viver em sociedade com outros, pela sua própria natureza tem necessidade de outros, justamente para poder gozar dos bens: um homem absolutamente isolado não poderia gozar de nenhum bem. (REALE, 2015, p. 117).

Pedro Xavier
Enviado por Pedro Xavier em 15/01/2018
Código do texto: T6227108
Classificação de conteúdo: seguro