O Brasil na Civilização industrial
A integração do Brasil na Civilização industrial passou por uma mobilidade demorada. Durante a era colonial e até meados do século XIX, as grandes plantações dominavam uma economia baseada na mão-de-obra escrava. Uma segunda etapa surgiu caracterizada pelo predomínio da economia do café e com o trabalho assalariado, mesmo que, ainda, voltada para a exportação. O Brasil só veio a ter um papel efetivo na industrialização mediante a propagação de ideias liberais e positivistas.
A partir de 1930, essa situação começa a se modificar rapidamente. Os primeiros produtos feitos no território brasileiro foram realizados por um processo de industrialização substitutiva e espontânea resultante da Grande Depressão ocorrida em 1929 nos Estados Unidos, grande importador do café brasileiro cujo preço entrou em declínio. Com isso, havia mais lucro no investimento em produtos destinados ao mercado interno do que no financiamento da exportação, ou seja, inicia-se o processo de industrialização no Brasil apesar de uma maneira não programada nem planejada, só aprimorada após o pós-guerra (1930-1945).
Durante o processo de industrialização, o Brasil se organizou como polo passivo ou dependente de um sistema econômico político. Como era um país periférico, não se emergiu como sujeito de suas próprias decisões devido, principalmente, a estrutura colonial que penetrou em todos os aspectos constituintes do sistema de relações de mercado. Podem ser citados alguns aspectos relacionados a este problema: a economia apresentou várias consequências, como a evasão para o exterior da maior parte da renda; o restante fica concentrado nas mãos de poucos, enquanto a maioria vive na pobreza; predomínio do setor externo na economia; predomínio total do setor primário guiado para o exterior; existência de pouco mercado interno, etc.; dentro da perspectiva sociológica, vê-se que há um imobilismo social, ou seja, o dinamismo e as tensões decorrentes da existência de classes sociais, havendo, na verdade, uma estratratificação social; do ponto de vista cultual, acentua-se, como centro de interesse e o modelo a ser praticado, o mesmo centro metropolitano de turno vindo do exterior; já no domínio político, a maior parte da população, ou seja, a massa populacional se encontrou totalmente fora das grandes decisões tomadas no país em qualquer uma de suas manifestações.
Além da própria marginalização (econômica, social, política, cultural, etc.), o sistema de colonização e neocolonização provocaram uma consciência oprimida caracterizada pelo mutismo, pela passividade, pelo fatalismo e pela submissão, ou seja, as estruturas de opressão dominam a consciência das pessoas que chegam a comprometer o desenvolvimento das características básicas das pessoas. Resultado: a situação de dominação acaba sendo um dado natural para o ser oprimido e este se assume incapaz e inferior, intensificando a injustiça e o peso esmagador das estruturas de opressão, das relações de dominação formadas em sistemas.
Com a industrialização substitutiva, não houve uma programação nem um planejamento sistemático (desenvolvimento espontâneo) para que ocorresse, de fato, um auto-sustentamento, uma vez que o Brasil tentava imitar os modelos aprovados pela Revolução Industrial. Esta crença de progresso vem a ser assumida na segunda metade dos 50 (no governo de J. Kubitschek que pretendia levar o Brasil ao desenvolvimento semelhante ao dos países europeus em curto espaço de tempo). O resultado desse rápido avanço contribuiu para o imobilismo e a estratificação brasileira que só se irrompe no segundo quartel do século XX.
Existem três níveis da consciência popular brasileira: a “semi-intransitiva” ou “submersa”, caracterizada pela falta de capacidade de perceber e interpretar a realidade, e de se agir ativamente nela, resultando no fatalismo, na submissão e no mutismo que são as principais características de uma sociedade fechada devido à colonização e a neocolonização; a “emergente” ou “ingênuo-intransitiva”, marcada pela maior participação na história e a reivindicação de melhorias nas condições de vida, resultando na superação da passividade e do fatalismo, fato predominante em sociedades em transição estrutural de uma sociedade fechada para uma aberta (caso do Brasil na terceira década do século XX); e a “transitiva-crítica”, em que prevalece o amadurecimento e a crítica, marcos de uma sociedade inteiramente aberta e democrática, que só ocorreu no território brasileiro a partir de 1964.
O ídolo da racionalidade tecnocrática foi instaurado a partir de 1964, quando aplicaram o modelo tecnocrático-militar para o desenvolvimento econômico brasileiro, de sorte que a população marginalizada foi deixada ainda mais de lado e pobre. Para a solidificação desse novo ídolo da racionalidade técnico-científico e por meio de uma ditadura, são viabilizadas e propostas as soluções para os problemas socioeconômicos, visto que somente esta elite possuía o logos para os problemas do subdesenvolvimento. Consequência desses atos, apesar do grande crescimento da economia durante a ocupação militar no poder: o endividamento externo brasileiro atingiu taxas elevadíssimas, tornando o Brasil um dos países mais devedores na época, e a queda da taxa de integração social, aumentando a marginalização de grande parte da população se resultou à custa da tentativa de aprimorar a economia.
Afirma-se que a democratização não modificou muito a integração social de grande parte da sociedade brasileira, uma vez que os problemas estruturais herdados do período colonial e neocolonial ainda existem apesar de formas diferentes. Ainda há certa dependência e dominação sob os países mais fracos, ocorrendo o crescimento da vinculação centro-periferia por meio de outro feitio no qual aumentou o número de centros e periferias e estas possuem seus direitos parcialmente representados pela elite dominante cuja disposição de organização aumentou a distância entre pobres e ricos, fato que, atualmente, se relaciona à assimetria causada pela capacidade tecnológica do país ou da região.