Obra poética de Noraldino Lima
O ilustre poeta e político paraisense Noraldino Lima, depois de estudar no Ginásio Granbery, de Juiz de Fora, Minas Gerais, transferiu-se para Belo Horizonte, em 1910, onde iniciou o curso de ciências jurídicas na Faculdade de Direito. Foi nesse estimulante ambiente universitário, onde havia constantes atividades literárias e artísticas, que o jovem acadêmico pode dar asas mais férteis à sua vocação poética, iniciando uma fase produtiva de sua produção literária. Nessa época, o poeta da terra natal havia conhecido sua futura esposa, Dejanira Vieira, com quem se casou e constituiu família.
Desde os tempos dos seus estudos secundários, Noraldino Lima trabalhava como professor e inspetor de alunos, no próprio Ginásio Granbery, para reforçar o orçamento estudantil. Alguns anos após fixar residência em Belo Horizonte, continuou sua carreira docente, ministrando aulas em renomados colégios da capital mineira., onde a comunidade literária pode admirar, de perto, sua vibrante produção poética, na obra “Vesperaes”, publicada em 1919.
O inspirador título traduzia, com muita propriedade e leveza, o momento vivenciado pelo inspirado intelectual, como se estiver às portas de um novo tempo de maior plenitude e realizações, em sua trajetória de trabalho, estudo e persistência. A obra despertou o interesse de intelectuais e literatos, que frequentavam os principais centros culturais daquele início da última década de Primeira República. O estilo literário estava essencialmente integrado ao seu tempo e contexto social.
Ao ler a parte interna do referido livro, o leitor descobre que a beleza maior não está somente no título. Uma coletânea de sonetos escritos em momentos de pura glória, acalentados pela musa inspiradora desejada pelos poetas. É um trabalho da mais elevada inspiração que justifica a razão pela qual fora admitido como membro da Academia Mineira Letras. Onde, em seu discurso de recepção, brindou os amantes da literatura com uma eloquente conferência sobre variados conceitos e estilos da arte poética. Para viver esse retorno histórico e literário, transcrevemos abaixo dois sonetos de sua autoria.
Penhasco - Noraldino Lima
“No cimo agreste e nu desses velhos penhascos / Entrevistos no azul da abobada solene, / Vem desfilando, há muito, a multidão infrene / Dos trovões à gandaia e da procela aos chascos.
A pique sobre o mar são belicosos cascos / Da terra contra a vaga indômita e perene / Como que, no sopé granítico, sirene / Adormece o furor dos tubarões carrascos.
Arremesso do caos, o retorcido tope / Vibra, na confusão de fanfarras e trilos, / Vendo passar-lhe em frente as eras, a galope
Rebentam, pelo oceano, as ondas uma a uma, / Os penhascos, porém, alteiam-se tranquilos / Os pés dentro da vaga e os píncaros na bruma.”
Nunca mais – Noraldino Lima
“No mar trancado das paixões abertas, / Pontilhado de escolho e de marouço, / Larguei um dia o coração de moço, / Na ânsia febril de novas descobertas.
E, em meio às ondas rápidas, incertas, / Desceu, fugaz, ao líquido colosso, / Ouvindo de sirene com alvoroço / A voz que anima as vastidões desertas.
Desde então, noite e dia, torturado, / Ao fundo vezes mil tenho descido, / À tona veze mil tenho voltado.
Impreco, imploro, clamo – aguço o ouvido.../ E o mar, sempre a rugir, sempre fechado, Não me devolve o coração perdido.”
A leitura e transcrição desses belos e inspirados versos permitem conhecer um pouco mais, as raízes poéticas, do paraisense que foi homenageado, há mais de 50 anos, com a atribuição do seu nome ao terceiro Grupo Escolar de São Sebastião do Paraíso.