Valores
Lá pelos idos de mil novecentos e alguma coisa, fui ver uma sala comercial, que estava para alugar, numa das principais ruas de Porto Alegre. O porteiro do prédio me orientou a falar com o responsável, que estaria no local.
Depois de muito andar pelo prédio enorme, localizei a pessoa num cubículo bagunçado do porão, onde havia uma cama velha, e um fogareiro de duas bocas, entre outras tralhas.
O homem de pequena estatura, aparentemente Judeu, estava cozinhando um ovo na chaleira, quando lhe falei sobre o meu interesse em alugar a sala.
Sem delongas ele me perguntou:
- Para que você quer a sala?
Para uma loja de eletrônica!
- Esta sala é muito cara para você. Com esta atividade, você não vai me pagar o aluguel em dia.
Diante do menosprezo lhe perguntei:
Quem é o dono do prédio?
- O dono sou eu. Deste e doutros prédios nesta rua.
Então fiquei pensando sobre o que cada pessoa valoriza.
A riqueza daquela criatura, lhe encarcerava na pobreza, confinado num porão.
As vezes eu penso que a liberdade tem que caber numa mala.
Acioly Netto - www.guiadiscover.com