As quatro estações
(Benedita Azevedo)
PRIMAVERA
O céu azul macio sobre a Cinelândia e o sol nascente alongando as sombras do gradil da Praça Paris, sobre a calçada coberta de folhas são prenúncio de primavera. Um resto de frio atípico para esta região ao final de setembro faz-me vestir o casaco enquanto caminho.
Um sopro de juventude espalha-se ao romper da aurora e tenho a sensação de rejuvenescimento ao aspirar o perfume espalhado pelo leve vento que chega do Aterro do Flamengo. Pego a mão do meu companheiro de caminhada e, mesmo sem pronunciar uma só palavra, entramos em sintonia com a natureza em nossas três voltas, três quilômetros, na caminhada matinal.
Suave perfume
na leve brisa que passa –
Manhã de domingo.
Dia a dia uma sensação de júbilo, de festa interior e vibrante colorido das flores na paisagem vai crescendo, e a sensação de que tudo se renova deixa em mim um sentimento de perda quando as flores já não brilham com a mesma intensidade e o verão se aproxima.
Final da estação –
Na chuva que não para
vai-se a primavera.
VERÃO
O sol brilhando com mais intensidade num horizonte mais amplo e céu sem nuvens, chegam as férias escolares e a vibração da criançada que pode brincar, ir à praia, ao cinema, jogar bola, aproveitando a alegria do verão para se divertir. O final do ano se aproxima. É tempo de preparar a festa de fim e começo do ano. A fugacidade do tempo deixa as noites mais curtas e os dias muito quentes.
Na Serra dos Órgãos,
a cachoeira murmura.
Esplendor de verão
OUTONO
O ritmo do vento e da chuva torna-se mais constante e o sol brilha menos. Começa um tempo de prostração de muita chuva. Sensação de melancolia, de decadência, de impotência do homem frente às transformações da natureza.
Silêncio da tarde –
Somente acordes de um piano
na sala vazia.
Nos olhos fechados
uma lágrima aparece –
Noite de luar.
INVERNO
O frio se aproxima trazendo a sensação de tristeza, velhice, solidão e morte. As folhas amarelas do outono agora desnudam as árvores e apodrecem no chão.
Tapete de pétalas.
Ao som de cânticos sacros
vai o Corpus Christi.
Memorial do Carmo –
Quantas almas vagueiam
nesta noite de inverno?
Os dias começam a se alongar e a sensação de transformação, de mudança a vontade que o frio acabe e chegue a Primavera, fechando o ciclo da vida em eterna renovação.
Rio de Janeiro
Benedita Azevedo
(Benedita Azevedo)
PRIMAVERA
O céu azul macio sobre a Cinelândia e o sol nascente alongando as sombras do gradil da Praça Paris, sobre a calçada coberta de folhas são prenúncio de primavera. Um resto de frio atípico para esta região ao final de setembro faz-me vestir o casaco enquanto caminho.
Um sopro de juventude espalha-se ao romper da aurora e tenho a sensação de rejuvenescimento ao aspirar o perfume espalhado pelo leve vento que chega do Aterro do Flamengo. Pego a mão do meu companheiro de caminhada e, mesmo sem pronunciar uma só palavra, entramos em sintonia com a natureza em nossas três voltas, três quilômetros, na caminhada matinal.
Suave perfume
na leve brisa que passa –
Manhã de domingo.
Dia a dia uma sensação de júbilo, de festa interior e vibrante colorido das flores na paisagem vai crescendo, e a sensação de que tudo se renova deixa em mim um sentimento de perda quando as flores já não brilham com a mesma intensidade e o verão se aproxima.
Final da estação –
Na chuva que não para
vai-se a primavera.
VERÃO
O sol brilhando com mais intensidade num horizonte mais amplo e céu sem nuvens, chegam as férias escolares e a vibração da criançada que pode brincar, ir à praia, ao cinema, jogar bola, aproveitando a alegria do verão para se divertir. O final do ano se aproxima. É tempo de preparar a festa de fim e começo do ano. A fugacidade do tempo deixa as noites mais curtas e os dias muito quentes.
Na Serra dos Órgãos,
a cachoeira murmura.
Esplendor de verão
OUTONO
O ritmo do vento e da chuva torna-se mais constante e o sol brilha menos. Começa um tempo de prostração de muita chuva. Sensação de melancolia, de decadência, de impotência do homem frente às transformações da natureza.
Silêncio da tarde –
Somente acordes de um piano
na sala vazia.
Nos olhos fechados
uma lágrima aparece –
Noite de luar.
INVERNO
O frio se aproxima trazendo a sensação de tristeza, velhice, solidão e morte. As folhas amarelas do outono agora desnudam as árvores e apodrecem no chão.
Tapete de pétalas.
Ao som de cânticos sacros
vai o Corpus Christi.
Memorial do Carmo –
Quantas almas vagueiam
nesta noite de inverno?
Os dias começam a se alongar e a sensação de transformação, de mudança a vontade que o frio acabe e chegue a Primavera, fechando o ciclo da vida em eterna renovação.
Rio de Janeiro
Benedita Azevedo