Bem que ele advertiu!
Temas podem ser estudados em grupo
Selecionamos ao leitor sérias advertências feitas pelo Codificador do Espiritismo, que são muito apropriadas para o atual momento vivido pelo movimento espírita, embora sejam orientações válidas para todas as ocasiões:
a) A tática ora em ação pelos inimigos dos espíritas, mas que vai ser empregada com novo ardor é a de tentar dividi-los, criando sistemas divergentes e suscitando entre eles a desconfiança e a inveja.
b) A natureza dos trabalhos espíritas exige calma e recolhimento. Ora, isto não é possível se somos distraídos pelas discussões e pela expressão de sentimentos malévolos. Se houver fraternidade não haverá sentimentos malévolos; mas não pode haver fraternidade com egoístas, ambiciosos e orgulhosos.
c) Todo grupo ou sociedade que se formar sem ter por base a caridade efetiva não terá vitalidade.
d) Dizei que aquele que em sua alma nutre sentimentos de animosidade, de rancor, de ódio, de inveja e de ciúme mente a si mesmo se pretende compreender e praticar o Espiritismo.
e) O egoísmo e o orgulho matam as sociedades particulares, como matam os povos e as sociedades em geral.
f) Devo ainda assinalar-vos outra tática dos nossos adversários – a de procurar comprometer os espíritas, induzindo-os a se afastarem do objetivo da doutrina, que é o da moral, para abordarem questões que não são de sua alçada e que, a justo título, poderiam despertar suscetibilidades e desconfianças.
g) Procurai no Espiritismo aquilo que vos pode melhorar. Eis o essencial.
h) Se alguns quisessem fazer um grupo a parte, não os olheis com prevenção: se vos atirarem pedras, nem as recolhais, nem as devolvais. Entre eles e vós Deus será o juiz dos sentimentos de cada um. Que aqueles que se julgam os únicos certos o provem por maior caridade e maior abnegação...
i) Em caso de divergência de opiniões, o meio fácil de sair da dúvida é ver qual a que reúne a maioria, pois há nas massas um bom senso inato, que não engana.
j) Pela vossa união, frustrai os cálculos dos que vos quisessem dividir; provai, enfim, pelo vosso exemplo, que a doutrina nos torna mais moderados, mais brandos, mais pacientes, mais indulgentes – o que será a melhor resposta aos detratores.
Todas essas lúcidas advertências estão em matéria publicada pelo Codificador na Revista Espírita, edição de fevereiro de 1862 (1), em resposta aos inúmeros cumprimentos recebidos por ocasião do então novo ano, de grupos espíritas de Lyon.
As frases estão em transcrição parcial, adaptadas na seqüência acima, sem a preocupação de ordem ou seqüência no texto, pois por si só trazem instruções de muito valor. Especialmente considerando as dificuldades vividas pelo movimento espírita, fruto, sem nenhuma dúvida, da imperfeição humana.
Após as considerações iniciais, Kardec pondera sobre a pergunta de muitos de como pode ter adversários uma doutrina que nos torna melhores e felizes. E faz tais ponderações com os dizeres que a própria lógica indica: uma doutrina de libertação moral fere muitos interesses. E interesses egoísticos. Daí as constantes lutas.
E como a doutrina atrai pelos benefícios que espalha, os interesses feridos voltam-se ferozmente contra aqueles que trabalham pela divulgação da própria doutrina ou que procuram vivê-la em si mesmos.
E uma das táticas para alcançar esses propósitos é lançar divisão entre os próprios adeptos, em situações e circunstâncias nem sempre perceptíveis porque ainda nos deixamos iludir pelo envolvimento do egoísmo e do orgulho. Outras vezes, e não poucas, tais táticas são evidentes, claras. E mesmo assim nos deixamos levar.
Daí a oportunidade da advertência de Kardec. Para que novamente estejamos atentos aos ataques programados e seqüenciais infiltrados no movimento.
Após tais considerações, ousamos sugerir ao leitor um estudo dos itens relacionados e mesmo sua multiplicação em nossos grupos, a título de estudo e debate, pois serão de muita utilidade para acalmar atropelos e reconduzir para o caminho da concórdia e do trabalho permanente que aguarda decisão, coragem e continuidade.
(1) Edição Edicel, tradução de Julio Abreu Filho.
Matéria publicada originariamente na RIE – Revista Internacional de Espiritismo, edição de abril de 2005.