AtOalidades
Não batemos a marca de um milhão ainda. Mas ninguém duvida que delas já passamos, há muito e por muito. Refiro-me ao número de pacientes que se amontoam na fila do SUS para se submeterem a uma cirurgia eletiva.Esse levantamento, solicitado pelo Ministério da Saúde, em maio passado, está ainda ao aguardo - e já um tanto aguado - das respostas de dez estados da Federação...E ao mesmo tempo, há pessoas, ou houve, - se é que vivas ainda estão - a esperar e a se exasperar por mais de dez anos para intervenções tipo operação de catarata, remoção de hérnia, extração de vesícula...
Nosso mandatário, por exemplo, e pela natureza do cargo, não teria tempo para se submeter à morosidade dessa lista de espera, e assim, do eletivo mesmo, ao que parece, só lhe coube escolher entre o Militar de Brasília e o Sírio-Libanês de São Paulo para que se fizessem as necessárias intervenções. Todas essas de desobstruções de emergência. Faça-se-lhe Justiça.
Mais jovem, porém mais folgozo e inveterado amante das baladas e noitadas, o roqueiro francês Johnny Hallyday, não teve essa sorte. E, compulsoriamente, vai ter que ficar descansando no campo santo do Père Lachaîse, em Paris, até que lhe sobrevenha a ressurreição. Como era um Dieu du Rock, não deverá levar muito tempo de aterramento. Se não é que a família tenha optado pela crémation.
Mas Johnny, no universo francófono do roque, foi como um Delon, ou uma Bardot para as telas. Nó, era ídolo até dizer chega. Uma versão de Beatle ou Rolling Stone para gente da Gália. E tudo numa pessoa só, ao invés do conjunto, que necessitam os ingleses para fazer sucesso.
Acho que já ouvi algum vídeo Hallydayano sim. Mas se perguntado por título de canção sua, sou mais Amado Batista, de quem de cara, citaria uma dezena.
Assisti ontem a uma didática apresentação do panorama político-econômico do Brasil, proferida pelo brilhante Gustavo Franco, que presidiu o Banco Central no Governo FHC. Impossível sintetizar sua fala - sem se tirar as crianças da sala: mas o nosso pecado original, além da descoberta e de tanto Cabral, foi - nas palavras franco-gustavianas - a opção errada pelo modelo de desenvolvimento, via substituição de importações, abraçado fervorosamente pelos militares que governaram o país, de 64 a 85, mantendo-o trancado, até ver ao poder Tancredo elevado, num sonho nem começado.
E na trajetória da tragédia, tudo, ou quase, mal-ajambrado, com o país sempre espoliado. O desgoverno propicia centenas de bilhões de reais comprometidos com atividades típicas da inércia e autofagia devastadora do Estado. Os casos de corrupções e desvios monstruosos que estamos acompanhando nas lava-jatos da vida corresponderiam a mera fração desse buraco grego sem tamanho. E, nesse contexto, sem reformas radicais, que envolvam todo o arco social, o pique vai ser abissal. Os elequentes dados macro-econômicos mostrados e citados na apresentação mostram que o apocalipse já chegou.
O que me pareceu curioso, no entanto, na fala do luminar economista foi não ter explorado, ou ao menos exaltado, as virtudes da privatização maciça do Governo que serviu. Servil?