A autoridade espiritual
Embora não se trate de uma submissão cega e irracional, a obediência à autoridade espiritual faz parte do processo hierárquico da Igreja desde seus fundamentos históricos. Por ser, em sua organização terrena, um conjunto harmônico de carismas, serviços e objetivos, a Igreja carece de um sistema de disciplina onde, além de respeitar a vontade do Deus Uno e Trino, que é a primeira autoridade, também se faz mister que os fiéis acolham as ordens daqueles que foram constituídos como legítimas autoridades, com o fito específico de orientar a caminhada do Povo de Deus.
Na Bíblia vamos encontrar cinco níveis de autoridade: a) os apóstolos; b) os profetas; c) os pastores; d) os evangelistas e c) os doutores ou mestres da Palavra (cf Ef 4,11). Por profetas entende-se o ministério profético, que é perene, e não o dom da profecia que pode ser transitório. A autoridade confiada por Deus aos homens, consagrados e missionários não é absoluta; ela é limitada por obrigações morais. No campo da distribuição desses carismas, observa-se que eles são concedidos a quem crê: sejam ordenados, leigos ou religiosos.
Os dons são os carismas de governo e ensino, importantes para a união da comunidade. Vence o inimigo quem se coloca docilmente sob uma autoridade espiritual. O Espírito Santo suscita essa obediência. Como obedecemos? a) sendo submissos; b) servindo; c) estando em comunhão e d) não se rebelando.
Hoje, o problema da obediência tem gerado muitas questões, diversos “achismos” e teorias que levam ao desrespeito e ao desvio da lei moral. Quem se submete a uma autoridade espiritual aqui na terra, não tem nenhum problema de se submeter a Deus. Quem não se submete a Deus nunca vai acatar as autoridades humanas. E vice-versa. Josué foi submisso à lei de Moisés: “Eu e a minha casa serviremos ao Senhor” (cf. Jz 24,15).
O Senhor Yahweh concedeu sua autoridade a Moisés, que a transmitiu a Josué que agiu conforme Deus lhe havia ordenado (cf. Dt 34,9). Quem está debaixo da autoridade espiritual prepare-se para coisas fantásticas em sua vida.
Na encarnação, Jesus surge como o depositário da autoridade, poder (exousía) do Pai (cf. Mt 7,29; 8,8s; 9,6ss; 12, 28; 21,23). Por esta razão, depois da ressurreição ele afirma aos discípulos “...todo o poder me foi dado, no céu e na terra...” (cf. Mt 28,18). Em tempos da Igreja, os apóstolos de todas as épocas, enviados em missão, tornam-se depositários da autoridade de Jesus.
Na obra da Igreja a obediência a Deus e a quem ele constituiu como autoridade, ajuda na edificação das pessoas e da comunidade. Nessa obra ninguém faz nada sozinho. Há entrelaçamento de autoridade, carisma e serviço.
o autor é Doutor em Teologia Moral