Cães e Bancos

O noticiário dos últimos dias tem assinalado vários casos de pessoas atacadas por cães. Em muitos deles, o dano é protagonizado pelo animal, que vivia na casa, alimentado por sua vítima. Isso nos leva a suspeitar de alguma alteração genética que pode estar se processando nos cachorros, até então considerados mansos e de absoluta confiança. Como dizem os filósofos do estoicismo, “confiança é coisa relativa; nunca absoluta”.

O fato é que, de uns tempos para cá foram desenvolvidas novas raças de cães, que se convertem em legítimas armas de defesa e coerção das visitas indesejáveis. Junto com vigias, grades, cercas eletrificadas, as pessoas têm optado pelo concurso desses cães ferozes. Como toda a arma, o cachorro, por mais “de confiança” que possa parecer, pode voltar-se contra seu dono. Muitas pessoas – especialmente crianças – têm sido vitimas desses animais, com ferimentos graves, mutilações e – não-raro – mortes.

No Brasil, com os bancos ocorre a mesma coisa. Se você tem um baita saldo em sua conta, eles nunca o avisam desse superávit. Mas basta sua conta cair “no vermelho” que eles já estão telefonando. Tem aquela história do calavera que protestou: “quando meu saldo era positivo, eu não liguei para vocês, enchendo o saco... por que agora que está negativo, ligam para mim?”. Assim como os cães estão cada vez mais perigosos, os bancos se revelam cada vez mais vorazes.

Enquanto o salário do povo não cresce, o lucro dos bancos revela uma assimetria imoral e cruel, com percentuais astronômicos em cifras de quatro ou cinco bilhões de lucro anual. Esse lucro estupendo está baseado nas cobranças de juros e taxas de serviços. Como o governo não faz nada para coibir essa agiotagem, o Brasil tornou-se o novo eldorado dos banqueiros internacionais. O salário-mínimo tem aumentos ridículos, enquanto as tarifas bancárias são majoradas acima da inflação. Isto sem falar nas filas e nas horas trabalhadas e no salário aviltado da maioria dos bancários.

O meu banco – todos que me conhecem sabem qual é – andou me aprontando uma. Antes de viajar à Europa, me ofereceram um Visa Turismo. Como fazia parte do programa de pontos da gerência, aceitei, embora – mesmo sendo gremista – tivesse três internacionais, um Mastercard, um Visa Gold e um American Express. Pois lá em Istambul após um jantar, resolvi estrear meu novo Cartão. Dali a alguns minutos o garçom veio, cheio de dedos, mostrar um tíquete da máquina que informava “no credit”.

Já imaginaram se eu não tivesse levado outro cartão? Até cheguei a pensar que fosse “migué” do restaurante, pois lá fora eles não gostam muito de cartão internacional. Apresentei-o em Madri e ocorreu a mesma coisa. Na chegada cancelei o cartão. Arma de fogo, cachorro e cartão de crédito só me fazem falseta uma vez. Depois a fila anda...

Cães e bancos a gente sempre pensa que eles são nossos amigos. Que engano! São amigos em termos, por interesse, pois um dia, quando menos se espera, eles nos metem o dente.

Antônio Mesquita Galvão
Enviado por Antônio Mesquita Galvão em 21/08/2007
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