A REPÚBLICA BRASILEIRA

A REPÚBLICA BRASILEIRA

Embora festejada por todos e cantada em prosa e verso nos livros escolares onde vilões aparecem como heróis ,a nossa República (em bom latim "coisa do povo) foi,na realidade o primeiro e bem sucedido golpe de estado perpetrado pelos sulistas endinheirados contra o resto do Brasil.E,de coisa pública não tinha nada como bem percebeu o nosso santo nordestino Antonio Conselheiro,que lutou bravamente em Canudos defendendo o governo constituído do Imperador D. Pedro II.Canudos foi o maior genocídio da nossa história como narrou Euclides da Cunha na sua obra primorosa "Os Sertões" ,livro favorito do meu pai e hoje tão copiado por escritores modernos e que,assim,prometem se tornar muito mais célebres do que ele,que começou tudo ,inclusive a denúncia de fatos estarrecedores que culminaram nessa matança inglória.

A história real bem diferente da história oficial é que ricos fazendeiros paulistas estavam descontentes com a possível sucessão do imperador , já bastante idoso,por sua filha favorita a Princesa Isabel ,muito favorável a abolir a escravatura que, segundo eles,fazendeiros e seus seguidores - jornalistas venais ,maçons e inocentes úteis - levariam á falência suas fazendas de café ,cuja existência dependia do braço escravo.Como vocês perceberão neste artigo começou daí a troca de fatos de interesse público pelo privado ,o interesse de grupos poderosos contra as reais necessidades da população.

Depois do Brasil viver épocas turbulentas devido á desorganização econômico - financeira ,jogatina desenfreada na Bolsa,em que o dinheiro chegava ás mãos dos investidores independente da produção ,onde fortunas imensas se criaram do nada e se perdiam numa noite, trabalho livre,militares á espreita, aventureiros, revoltas sociais e tensões políticas,enfim,anos de perdas e danos que culminou numa grande crise financeira.

Tempo da "pobreza envergonhada" constituída por ricos fazendeiros de café ,falidos e do ditado que o Conde Matarazzo,na sua época,repetia á exaustão:"Avô milionário,pai rico e neto pobre."

A chegada da República trouxe consigo a miséria das classes pobres ,constituídas de escravos negros sem trabalho,sem escolaridade e sem uma política social que os protegesse.Essa foi a raiz da desigualdade social de hoje e da violência que a acompanha.

Daí começaram,também,as favelas,depois que milhares de famílias foram desalojadas do centro e empurradas para os morros e periferias. Os cortiços deram lugar a construções modernas . Com a favelização vieram os pivetes,palavra que significava ervas daninhas e designava as crianças criadas nas ruas que,segundo o historiador Renato Venâncio,é oriunda do francês,a língua da moda das elites.O Brasil se europeizava buscando um lugar ao sol.E ,lutava pelo branqueamento.Apesar de ter inúmeros intelectuais mulatos ,um presidente e um vice, mulatos, a guerra contra a africanização do país começou sem tréguas;alimentos negros eram condenados pelos médicos,a cultura negra,humilhada ,o candomblé e a capoeira considerados práticas criminosas e pessoas discriminadas como nocivas ,fontes de doenças,piolhos e totalmente aculturadas (á maneira branca,claro!).

Em Salvador,a maior cidade negra do Brasil ,os costumes,tradições ,festas ,os terreiros foram considerados ilegais.O delegado Pedrito Gordilho e seus esbirros invadiam terreiros,quebravam objetos sagrados,espancavam seus membros e até virou personagem de Jorge Amado no" Batizado de Ogum",um delicioso texto do escritor.

Bom,para se falar da República precisaríamos de tomos e mais tomos de uma obra gigantesca ,e eu recomendo como leitura obrigatória o magnífico livro de Mary Del Priore,"República" que faz parte da trilogia "Histórias Das Gentes Brasileiras',que estuda o Brasil desde o tempo da Colônia até os nossos dias.E veremos que "tudo fica como dantes no quartel de Abrantes" ou como diria o Lampedusa " é preciso mudar tudo para que tudo continue no mesmo."

Helás! ainda se discriminam pessoas,ainda se acreditam em raças superiores,ainda se violentam mulheres,ainda se leva a suicídio presidente e reitor,aviões ainda caem inexplicavelmente,quando conduzem pessoas consideradas inconvenientes e nosso povo ainda continua no sofá.

"Honi soit qui mal y pense!"

Miriam de Sales Oliveira
Enviado por Miriam de Sales Oliveira em 05/11/2017
Reeditado em 15/11/2021
Código do texto: T6162938
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