O meu despertar- parte três
Aquele menino ensanguentado, foi um anjinho um dia, que nunca, ninguém, se quer viu. Um excluído, sem voz e sem vez, nesse mundo materialista e rotulador. nesse mundo impregnado de seres de boa vida, mas inúteis. Nesse mundo de seres sem braços para abraços, sem olhos para ver o sofrimento... a angústia e a necessidade do outro. Do outro que pede, tão pouco, desse muito que é nada para alguns.
Fiquei sem palavras diante do que ouvira. Será que Deus esta me colocando a prova?
Me desfiz de antigos e maléficos hábitos, extraí minhas necroses, agarradas a minha visão medíocre e distorcida, de mundo e de felicidade.
Quando dei por mim, já estava anoitecendo. Meu estômago começava a apresentar sinais, pela falta prolongada de ingestão de nutrientes.
Falamos por horas... sem interrupções. Falamos de assuntos que nos causaram risos, lágrimas e outros indignação e revolta. Falamos deles e de mim.Sentía-me leve e satisfeita. Ao passo que ouvia e falava uma paz intensa, tomava-me conta.
Perdi o controle habitual do tempo. O relógio parecia tão sem importância agora. Após esse desabafo de ambos, resolvi voltar para casa.Precisava de um tempo só. De mim mesmo, comigo mesma.
Despedi-me de meus mais novos amigos, com a certeza de que jamais os veria novamente. Minha presença ali, era o acalento que aquela mulher necessitava para compreender os desígnios de Deus, e também para eu abrir meus olhos para o que é a vida e a nossa missão .
Tudo o que Deus escreve é certo, mesmo que nos pareça errado, por ele escrever em linhas tortuosas. E nesta manhã eu fui sua emissora e receptora automaticamente. Pois dei e recebi ensinamentos. Vivi nesta manhã fria,a lição do valor que tem na vida da gente, o calor humano.
Quando passei pelo local do menino drogando-se, já nada mais havia ali, mas prometi a mim mesma, fazer esse trajeto outras tantas vezes.
Cheguei em casa e nada... ninguém parecia se quer ter sentido a minha falta, nenhum resquicio de preocupação. E foi aí que percebi, onde minha tarefa deveria iniciar-se.
Dentro de mim... fora de mim...nos que fazem parte da minha rotina, dos que circulam a minha volta, dos conhecidos e dos desconhecidos que ainda quero conhecer.
Despertei para a missão interminável de minha existência. Eu como pessoa devo e quero aperfeiçoar-me cosntantemente, para completar minhas inúmeras, incalculáveis partes, que estão espalhadas por esse universo infinito.
Eu pai, mãe, filho(a), amiga(o)...
Eu solteira, casado, viúva, namorado...
Eu jovem, idoso, criança...
Eu negro, branca, mestiço...
Eu rica(o), pobre...
Eu... uma centelha do criador... uma fagulha de luz na terra...formando o SAL do mundo.