O meu despertar - parte dois

Enquanto minha mente se ordenava, em busca da conscientização, dos meus mais novos pensamentos, os meus sentimentos buscavam ações de reparação em minha alma, em meu coração e em todos os membros do meu corpo físico.

Já de pé...olhei meus pertences. Eram tantos que faltavam números para contá-los. Peguei metade de tudo, coloquei em caixas e levei para o carro. O vento gélido, parecia cortar minha pele ainda quente e agora arrepiada pelo frio que fazia lá fora. A geada havia criado uma camada sobre a grama verde, agora esbranquiçada.

Caminhei até a cozinha, tomei um café quente, torradas com geléia.Mas tudo parecia frio e de gosto amargo. Sentia-me apressada.

Uma voz parecia chamar-me ininterruptamente. Por vezes cheguei a olhar nos vários cômodos da casa, para averiguar se alguém havia acordado.A voz era aflita, gritante e me apavorava.

Peguei novamente uma caixa e abarrotei-a com mantimentos para alimentar um batalhão. Coloquei-a no carro e saí sem rumo certo.Fui deixando-me guiar por meus instintos.

Ao longo do percurso, avistei um rapaz de aproximadamente 16 anos, ensanguentado, cheirando cola. Seus rosto estava vermelho e seus lábios roxo berinjela.Pouca roupa e inerte... estático e o olhar perdido no nada. O medo percorreu meu corpo. Acelerei sem nem mais olhar para trás.

Mais a frente, embaixo de um viaduto, uma senhora amamentava uma criança recém-nascida. Quando passei, nossos olhos se fundiram. Eu senti como se ela me conhecesse e aguardava a minha chegada. Parei o carro. Fiquei ali olhando tudo. Os detalhes eram tantos e tão chocantes! Fiquei ali, petrificada por horas.

Eu e ela. Ambas apenas nos observando. Num toque no vidro traseiro, voltei ao meu estado de pavor. Aproximou-se um senhor de meia idade e pediu-me para dar um abraço em sua esposa. Para aquecer o seu corpo, na tentativa de descer o leite...única fonte de alimento para seu filhinho, de poucos dias de vida.

O medo evaporou-se de mim e me pus a fazer oq ue o homem pedira. Fechei o carro e abracei a mulher, que continuava muda a fitar-me. Seu olhar mesclava entre ternura e desespero.

Dei as chaves para que o homem pegasse as caixas no carro. Tirei meu casaco e aqueci a criança. Olhei... parecia um anjo...

Enquanto aquecia aquele anjinho, comentei sobre o meu despertar, e também sobre o menino se drogando, e ambos que me ouviam atentos disseram: " Todos somos um pedaço do pão, caído do céu ", todos necessitamos de fermento para crescer, ingredientes variados para ficarmos saborosos e calor o suficiente para nos alimentarmos uns aos outros.

Eu nunca fiz muitas amizades e nunca valorizei muito o que a vida me ofertou. Mas o meu dia amanheceu quente, fervoroso, numa manhã fria de um inverno rigoroso. Para que eu aprendesse o valor de carregar comigo uma imagem tão significativa e única, como a imagem do Pai. E valorizar essa semelhança agindo em mim, por meio dele.

continuação na página seguinte

milizinha
Enviado por milizinha em 20/08/2007
Reeditado em 20/05/2011
Código do texto: T615813
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