O meu despertar
Ao acordar-me neste dia frio do mês de julho,lembrei-me de ti. Sim... de ti caro irmão, esquecido, empobrecido e excluído. Não consegui mais permancer em minha cama quentinha, com minhas cobertas de lã de carneiro e o meu aquecedor gigante.
O calor de minha cama agora, pinicava-me o corpo, causando-me coceiras. Minhas cobertas pesavam demais sobre meu corpo e pareciam escorregar para os lados constantemente, e o aquecedor, engolia todo o ar, ressecando minha garganta e causando-me irritação.
Senti desejos...fortes desejos de que o sono voltasse a dominar-me, fechando pesadamente meus olhos. Eu queria sonhar novamente com aquele BMW, com aquela roupa exclusiva e brilhante. O sonho era quase real e eu acordava tão feliz e realizada!
Mas isso não aconteceu... Sentia-me mais lúcida e desperta que nunca. Parei meu olhar bem à frente de um rosário de contas de madeira enorme, e quando dei por mim, chorava...
A cada pensamento, uma lágrima nascia. Não compreendi porque eu me sentia tão triste neste dia.
Penso que Deus age em nós e por nós na surdina, preparando-nos , moldando-nos, à sua vontade, em momentos só seus. Momentos e táticas apenas compreensíveis a si mesmo.
O egoísmo de não ver no outro um irmão, de não agir como filhos de Deus diariamente, passa a nos deixar cegos, surdos e mudos diante dos fatos da vida.
Como posso ser feliz, se é o meu irmão que padece sem o necessário para sobreviver?
Como posso ter sono sossegado se é o meu irmão que morre de frio, por falta de agasalho?
Deus, nesta manhã de inverno congelante, veio deitar-se em meu leito quentinho, para aquecer-me o coração. Corpo quente em coração frio, gera choque térmico na alma.
De repente, as lágrimas cessaram e uma onda de alegria e ânimo, tomaram conta de mim. Compreendi e aceitei os desígnios de minha passagem terrena. Sentia-me encorajada a levantar-me, pôr uma roupa confortável e fazer uma faxina em minha vida.
Mentalmente eu precisava de propósitos firmes, e decisões acertadas, sem radicalismos para não sofrer arrependimentos. Não podia haver confusão em relação ao que fazer, para cumprir o meu dever, como mais um entre muitos, que acabara de ser premiado, de ganhar o troféu " toque divino ", que devolve a visão, audição, paladar, tato, todos os nossos sentidos.
Esses mesmos sentidos que ao longo de nossa existência, vamos atrofiando por egoísmos estrondosos, por vaidades insignificantes e por surdez e cegueira constantes.
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