O juiz louco...
Em um certo país, em algum lugar do passado, não muito distante, um juiz, que gostava de zelar pela Justiça, mas que estava cansado de condenar as pessoas, resolveu que no próximo caso que julgasse, tomaria uma decisão totalmente diferente do que estava acostumado a fazer.
Não julgaria mais com a obstinação que estava acostumado, nem defenderia a Justiça, não ficaria ao lado dos mais fracos e dos oprimidos como sempre fizera, seria totalmente radical, seria diferente.
Eis que o rei deste país, o mandou chamar, na calada da noite, quando ninguém poderia vê-lo entrando no palácio.
O juiz, prontamente atendeu ao pedido do rei, chegou depois das dez da noite.
- Pois não, majestade, em que eu poderia ajuda-lo?
- Pois, pode mesmo, falou o rei, sei que és muito sábio.
- Ora majestade, obrigado pelo elogio, mas apenas procuro sempre fazer justiça.
- Hoje, descobri, que meu único filho, um adolescente, tem tendências para as coisas femininas.
- Como assim, majestade?
- Isso mesmo que o senhor ouviu. Meu filho é...não gosta de mulheres...
- Ele...??? Não gosta de mulheres? Absurdo. Exclamou o juiz enfurecido.
- O que devo fazer? Indagou o rei em desespero.
O juiz, lembrando-se de sua decisão, mas pensando também na situação do rei e de seu filho, ficou em silêncio, caminhando de um lado para o outro no amplo salão do trono. Foram vários minutos em silêncio. Não queria dar uma opinião que ofendesse ou desagradasse o rei, não queria ser injusto. Ele também não queria ofender o filho do rei, estava numa sinuca, era uma situação difícil.
- E como o senhor descobriu?
- Peguei meu filho com outro rapaz, no maior amasso, em flagrante mesmo.
- Já sei o que podemos fazer, disse o juiz. Vamos castrar o outro rapaz.
- Tem certeza de que é a melhor solução?
- Estou certo disso, respondeu o juiz.
- Não sei porque tenho a impressão que o senhor não vai gostar da decisão que tomou.
- Porque majestade?
- Porque o outro rapaz é o “seu” filho. Mas, já que você acha que isso é o melhor a fazer.
O juiz ficou lívido, desconcertado, o chão lhe faltou, ele havia tomado uma decisão e dado um conselho sem pensar, nem investigar, agora seria afetado diretamente.
- Mas espere, majestade, disse o juiz.
- Sim? Disse o rei.
- Eu não tenho filho, tenho apenas uma filha, acho que o senhor se enganou.
- Está dizendo que o rei se enganou? Argüiu sua majestade.
- Desculpe...
Lembrou-se então que sua filha tinha passado uma temporada no Brasil, e tinha voltado meio esquisita.
- Com licença majestade, preciso ir agora.
- Pois não.
Retirou-se da presença do rei, chegando em casa, acordou a mulher e disse, vá ao quarto e traga nossa filha aqui agora mesmo. A mulher estranhou, mas fez o que o marido lhe mandara.
- O rei mandou me chamar, disse o juiz, sisudo, falou a respeito de você e do filho dele.
- Então já está todo mundo sabendo, falou a “menina”.
- Que bom, você e o filho do rei estão namorando? Perguntou a ingênua mãe.
- Mais ou menos, falou a “menina”.
Depois de um longo papo, tudo explicado a respeito das tendências “masculinas” da mocinha e etecétera e tal.
- Como você pode fazer isso, mudar de sexo? Perguntou o juiz, aos berros.
- Ora pai, no Brasil nem precisa de dinheiro, eles fazem pelo SUS.
O juiz ficou desconsolado, sua “filha” tinha virado “filho” e estava apaixonado pelo “príncipe” que queria virar “princesa”, era meio complicado para um homem sincero, honesto e austero como ele.
O juiz achava de vital importância para a sua sobrevivência e bem-estar que ele resolvesse a situação. Ficou tão deprimido, sofrendo tanto, que pensou em mutilar-se cortando o seu próprio pênis. Achou que a melhor solução seria o suicídio para não ver o que considerava a desgraça de sua família.
Naquela noite, de madrugada, fora de si, louco, descontrolado, deu um tiro na cabeça, porém não morreu, como o seu país era muito pequeno e não tinha muita tecnologia, foi trazido às pressas para o Brasil para tentar se salvar.
Foi internado num dos hospitais do SUS, daqueles que estão na UTI, por falta de verbas e assistência pública, morreu meses depois, sem conseguir fazer sequer uma radiografia.
Lá no reino de onde ele tinha vindo, a sua “filha” que tinha virado “filho”, foi castrada, o filho do rei, veio ao Brasil para se tornar “filha”, pelo SUS.
Moral da história:
Pode ser que o dinheiro que faltou na assistência do juiz, tenha sido gasto nas cirurgias feitas em sua “filha” e no “filho” do rei.