O pecado do senador
Os jornais, incansáveis, estampam diariamente a saga do senador Renan Calheiros para permanecer no comando do Senado.
E o senador, engessado no poder, diz que de lá não “arreda o pé”. Admiro sua perseverança. Eu no lugar dele teria ido embora há tempos. Tenho grandes dificuldades para conviver em ambientes que exalam hostilidade.
Mas por que será que Renan Calheiros faz questão de permanecer na presidência do Senado?
Apego ao poder? Tendência masoquista? Necessidade de provar à sociedade sua inocência?
Já escutei em roda de bate papos que a opção correta é a terceira: ele quer provar à sociedade sua inocência.
Ah, essa necessidade que temos de querer provar as coisas aos outros:
· O marido infiel mente para provar à esposa sua fidelidade de fachada.
· O empregado traz atestado fictício para provar ao empregador que não compareceu ao trabalho porque estava doente.
· O empregador deposita a culpa na dificuldade que está a economia mundial para provar que não pode conceder o merecido e pequeno aumento salarial ao empregado dedicado.
Veja, o caro leitor, são todas situações que queremos provar algo a alguém, e, acabamos por esquecer dos ditames da consciência, comprometendo-nos com a mentira de conveniência.
Vivemos em um mundo onde todos querem provar sua condição, sua capacidade ou inocência aos outros. Poucos são os que se preocupam verdadeiramente em provar apenas à própria consciência suas condições.
Portanto, fica a pergunta:
- Adianta mentir, enganar, mexer nos bastidores para provar a inocência perante esposa, opinião pública, ou seja lá o que for, trazendo sérias acusações da própria consciência?
Podemos enganar a todos, menos a nós mesmos. Eu posso ostentar virtudes que não possuo, mentir que sou bom pai e marido, dizer que faço reciclagem de lixo e bradar ao mundo que sou bom cidadão. Entretanto, se nada disso for real, se fiz de minha vida um teatro a representar virtudes, estou mergulhado em ilusões. E cedo ou tarde despertarei dessa ilusão pelos gritos estridentes da consciência.
Temos de assimilar que o grande compromisso que temos não é com os outros, e sim com nós mesmos. Quando assumirmos o papel de fazer a coisa certa, sejamos políticos ou não, anônimos ou famosos, navegaremos pelos mares calmos da paz consciencial. As acusações viram de fora, os gritos da oposição e a voz pungente de quem pede nossa cassação aos tribunais da vida não abalarão nossa serenidade, porquanto traremos o mundo interior tranqüilo, certos de que fizemos o melhor que pudemos, e isto por si só se constitui na maior prova de dignidade que alguém pode almejar: a consciência tranqüila.
Pensemos nisso.