Constelação Familiar
Todos os artigos que até hoje escrevemos fossem nas áreas da psicologia, filosofia, teologia, história, sociologia, religião ou comportamento, embora bem fundamentados, sempre foram dirigidos para os leigos, para os menos letrados ou para os curiosos.
Embora este trabalho também seja direcionado para o mesmo publico, e tanto é que a nossa linguagem será a mesma, gostaríamos que os demais pesquisadores, psicólogos, psiquiatras, estudiosos da psicologia, do comportamento humano e das terapias alternativas, acompanhassem o nosso despretensioso raciocínio e as considerações que fazemos sobre a terapia denominada de Constelação familiar, a psicologia junguiana e o espiritualismo.
Antes de darmos continuidade, devemos alertar que nestes escritos, como em todos os demais de nossa autoria, usamos a parcimônia de Occan evitando verborragias inócuas, extensas explanações, fontes ou bibliografias próprias dos trabalhos acadêmicos, que em nada contribuem de fato para enriquecer as nossas proposições.
Assim, não vamos usar aqui termos técnicos, como sistêmico, mórfico, estruturas, rituais, teoria dos bonecos e outras programações. Mas de forma simples vamos, com nossas palavras, suscintamente, definir e explicar porque, para que serve, como é feita e o que acontece uma sessão de terapia com uso da técnica da Constelação familiar, sua aplicação e prática de cura.
Da mesma forma, ao final, fazemos nossas considerações pessoais sobre a dinâmica dessa terapia e concluímos com a nossa opinião sobre como é hoje o que até agora denominamos de Constelação Familiar.
Como este artigo é destinado, principalmente, aos leigos, que acreditamos não estarem muito interessados na longa história, nas pesquisas e no desenvolvimento da Constelação Familiar, vamos dar apenas algumas referências do seu surgimento.
Embora essa técnica tenha sido inicialmente apresentada pela psicoterapeuta norte americana Virginia Satir na década de setenta, certamente ela já existia de forma mais rudimentar entre os povos antigos. Mas foi com o psicanalista alemão Bert Hellinger, a partir da década de oitenta, que a Constelação familiar começou a tomar forma e ser reconhecida como método terapêutico. No Brasil, ela passou a ser praticada, divulgada e conhecida somente a partir de 2010.
Podemos definir a Constelação Familiar como uma forma de terapia dinâmica entre o paciente, representantes e o terapeuta, mas sem o uso da razão visto que, aparentemente, não existem regras nem ordem a serem seguidas.
No entanto, sua aplicação tem demonstrado mais de oitenta por cento de acertos na solução dos problemas de transtornos comportamentais, mentais, emocionais, e litigiosos como divórcios, heranças, guarda de filhos, depressão, problemas de relacionamento com parentes, amigos, namorado, cônjuges, filhos, e conflitos nas relações de trabalho, empresas, equipes e desavenças com antepassados, ou desafetos mortos, etc.
A técnica de cura é muito simples. Em uma sala onde se possa acomodar umas cinco a dez pessoas ou em um auditório para um maior número e assistentes.
Um terapeuta que domine as técnicas de condução da sessão coloca o doente, litigante ou interessado na resolução do problema, aqui denominado paciente, sentado numa cadeira mais ou menos no centro.
Se o paciente não quiser ser o alvo direto dos questionamentos sobre seus problemas, poderá escolher entre os presentes, de preferência, uma pessoa estranha, para lhe representar, a qual sentará na sua cadeira.
Da mesma forma, o paciente deverá também escolher entre os presentes, pessoas estranhas ou mesmo parentes para representar, se for o caso, o seu pai, mãe, irmãos, primos, avós, seus desafetos ou litigantes com quem tenha alguma mágoa, pendenga, disputa pessoal, judicial ou de bens.
De acordo com o transtorno ou problema a ser solucionado, se for problemas com o cônjuge, ex-cônjuge ou pessoas o paciente poderá optar pela própria pessoa presente, ou escolher entre os demais assistentes, preferencialmente, pessoas estranhas, para representa-los.
Se for um problema individual e que não envolva outras pessoas na causa, somente o paciente e o terapeuta são suficientes para se promover a sessão de terapia.
Uma coisa importante é que as pessoas a serem escolhidas podem representar tanto pessoas vivas quanto pessoas que já faleceram desde que sejam importantes para a solução do ou dos problemas.
Outra coisa é que, embora não deva, o terapeuta pode escolher, entre os presentes, os representantes e até mesmo as próprias pessoas envolvidas na trama.
Depois de escolhidos todos os representantes, se o terapeuta for espiritualista, ele fará uma reverência aos espíritos presentes, se não for faz apenas uma pergunta ao paciente, qual é o seu problema?
Mesmo que o paciente não responda ou não queira responder, um dos representantes, já em transe, se manifesta com gestos, estado alterado da consciência, trejeitos ou palavras e começa uma interação entre paciente e representantes, com a mínima intervenção do terapeuta.
Nessa interação, os representantes, pessoas estranas, passam a falar, sentir as mesmas emoções dos seus representados, vivos ou mortos, sentem as mesmas dores, as mesmas rejeições, as mesmas perdas, os mesmos traumas ou vivencias, como acidentes ou perdas, as mesmas situações boas ou ruins pelas quais tanto o paciente quanto os representados passaram ou passam.
Como uma sessão de terapia, normalmente não passa de hora e meia, ao final desse tempo o terapeuta encerra a sessão e, curiosamente, os litígios e desavenças desaparecem a ponto dos ex-inimigos, comovidos, se abraçarem fraternalmente e aceitarem mutuamente condições amigáveis de resolução dos conflitos.
Nos casos de traumas ou transtornos pessoais, o resultado é o mesmo, isto é, a pessoa simplesmente se livra do problema ou dos antigos incômodos.
É bom considerar ainda que quem participa como paciente numa sessão de terapia de Constelação familiar não pode se submeter a uma nova sessão antes de quatro meses ou mais.
Certamente, você está curioso para que expliquemos como uma pessoa estranha escolhida aleatoriamente numa plateia, uma vez admitida na “roda”, comece a sentir as, dores, do paciente?
Então vamos lá. Para essa pergunta temos duas respostas. A primeira, mais física e acadêmica, diz que se trata de pura energia mental que interage entre os participantes.
A segunda mais espiritualista, diz que os espíritos dos representados se manifestam nos representantes dando-lhes conhecimento e sensações dos fatos, situações ou acontecimentos por eles vividos.
De qualquer forma, essas respostas certamente não satisfazem uma pessoa realmente critica e, portanto, necessitam de maiores explicações. Como pesquisador e mais ou menos inteirado do assunto vamos dar o nosso parecer.
A primeira resposta de que se trata apenas do poder da mente não explica como funciona essa interação, é evasiva e não tem qualquer sustentação prática nem cientifica. Pois, ao contrario do que muita gente pensa e divulga a nossa mente, enquanto física, por si só não tem poder algum, nem vontade, nem tampouco existe, ela é apenas uma espécie de acumulador e distribuidor de energia de onde partem as descargas elétricas que vão movimentar o corpo, o cérebro, os membros e as sensações dos sentidos.
Já a segunda resposta, da intervenção espiritual, nos parece a mais sensata e coerente visto que a própria técnica da Constelação foi concebida com base em fatos e experiências espiritualistas como a psicologia profunda de Jung o inconsciente individual e o inconsciente coletivo. O próprio Hellinger usou na formulação da sua teoria o termo “movimento das almas”, e como espírito e alma são a mesma coisa a “roda” de uma constelação nada mais é que o movimento dos espíritos.
Por outro lado, faz parte do ritual da Constelação o “ deitar com os mortos”, reverenciar os mortos, entenda-se saudar os espíritos de antepassados presentes, e a fila de ancestrais. Ora, quando falamos em ancestrais logicamente estamos falando de mortos.
Mas alguém ainda pode perguntar. E no caso de pessoas vivas, por exemplo, um casal disputando a partilha de bens num divórcio litigioso. Como seus espíritos se manifestam nos representantes?
Boa pergunta meu caro. Para o leigo em espiritualidade parece realmente uma questão insolúvel, más não é. Sabemos nos meios espiritualistas que o nosso espírito é formado por vários “pedaços” denominados corpos e que um desses corpos denominado corpo astral, o tal corpo da viagens astrais, pode estar em qualquer lugar enquanto você trabalha ou namora. Muito bem, no caso em pauta, o corpo astral dessas pessoas pode se manifestar nos seus representantes mesmo elas estando plenamente conscientes. Em tempo, é bom lembrar que essa terapia da Constelação familiar tem muito a ver com a regressão e terapia de vidas passadas, e mais ainda com uma sessão de Apometria.
Antes de encerrar vamos fazer uma observação que, entendemos não esteja sendo levada em conta pelos operadores da Constelação familiar. O que temos a observar é que a denominação original de Constelação familiar já não se aplica e nem é mais adequada aos modernos métodos de tratamentos.
Em outras palavras, a denominação de Constelação familiar foi muito útil e adequada na época do seu surgimento quando essa terapia era usada apenas para resolver problemas familiares ou transtornos ligados a árvore genealógica do constelado ou paciente.
Mas a partir do momento em que ela passou a ser largamente utilizada em quase todas as áreas de conflitos nas relações humanas, deixou de existir somente a figura do constelado ligado a problemas de família e surgiu um ou alguns outros arquétipos independentes cujas demandas nada tem a ver com a família ou famílias dos litigantes.
Em decorrência disso, os problemas deixaram de ser unicamente familiares e a terapia passou a ser universal com aplicações diversas nos meios jurídicos, administração, grupos humanos, equipes de trabalho e até nas escolas. Dessa forma, seria um contra senso falar em constelação ou terapia familiar numa sessão em que estejam presentes apenas litigantes estranhos entre si numa pendenga jurídica ou entre pessoas estranhas ao meio familiar.
Assim, modernamente até para identificar a real abrangência e focos da terapia, somos de parecer que a denominação mais apropriada seria Dinâmica dos Espíritos e não mais constelação familiar.