Vencedores ou vencidos
O prêmio é uma convenção. A vitória é uma condição estabelecida para que todos tenhamos dela a mesma noção de realização pessoal que consideramos fundamental. Daí a necessidade que temos de vencer, sempre que possível. Quando isto não acontece, é natural que nos projetemos na figura do vencedor. O que pode acontecer de diferentes maneiras – quando, por exemplo, enchemos estádios para ver grandes jogadores de futebol ou ídolos da música pop.
O Papa, por exemplo, é muito mais um vencedor que um santo – na medida em que qualquer santo sempre foi um perdedor. Até porque precisa, o Papa, concorrer com outros cardeais para ser escolhido. E só ele e o concelho de cardeais (ou talvez alguns Bancos Ambrosianos) sabem das disputas e detalhes, em geral políticos, que envolvem a escolha. Mais ou menos o mesmo ocorre com artistas, cientistas, poetas, escritores, desportistas, etc. Sempre haverá a disputa. O escritor precisará de que alguém divulgue a sua obra. Ou que ela tenha a confirmação de seu valor literário através de premiações ou congregações que tenham se tornado vencedoras também.
No caso dos cientistas, ainda que no campo das ciências exatas, onde teoricamente tudo pode ser provado, só será vencedor quem se destacar em sua passagem pela universidade, tiver seus trabalhos publicados em revistas especializadas ou reconhecidos por associações específicas. Caso do Prêmio Nobel aqui também.
E tudo isso pra quê? Ou por que? Pela vitória. Que é uma condição humana. E como tal, perecível. Na medida em que as conquistas que a maioria das vitórias obtêm acabam não sendo inteiramente revertidas em prol dos seres humanos. À exceção de obras cujo subjetivismo é a sua caraterização maior e que, por isso mesmo, relutam em se distanciar do apelo indutivo que todos os dias fazemos a nós mesmos, embora não o consigamos admitir. Tal é o caso, por exemplo, de Dom Quixote, de Miguel de Cervantes. Que talvez tenha sido uma obra que não teve a vitória como meta.
Rio, 05/09/2017