Páginas e Prostitutas
Páginas e prostitutas
O primeiro documento do mundo, considerado livro, foi encontrado há muitos e muito séculos, numa caverna, todo gravado em placas de pedra! Obviamente evoluímos, e temos a mais variadas tecnologias para permitir uma publicação de altíssima qualidade, mas e os assuntos? Os temas a serem tratados nestas obras, mudou tanto quanto forma de publicá-las? Cada lugar anda de acordo com seu tempo, com seus hábitos, com as exigências do mercado. O leitor adora polêmica, gosta de ver “o circo pegar fogo”, quer realidade e novidade. E o mundo da literatura tem atendido muito a estes pedidos. Um bom clássico, um Machado de Assis, Clarice Lispector, são descartáveis sem muito pensar, depois que o mercado se tornou sem qualquer pudor. No começo da coisa, a censura dominava, sabia fazer temer, mas hoje ela não mais existe. Na extinta ditadura militar, muitos foram exilados por querer mostrar ao mundo sua opinião sua visão, a verdade dos fatos! No entanto, a revolução foi tamanha que hoje em páginas de livros mostram a verdade e um pouco mais! Como é caso da nova onda na literatura nacional, para ser escritor, publicar uma obra, não necessita ser entendido do ramo, basta ter uma história, dinheiro, e/ou sorte. E baseadas nestes conceitos, prostitutas e ex-prostitutas cada dia investem mais nas autobiografias. É uma forma de contar ao mundo seus segredos, o que se passa com uma profissional do sexo entre quatro paredes, tudo com uma visão própria, colocando vantagens onde bem entendem, e omitindo o que não lhes agrada. A profissão mais antiga do mundo está deixando as camas e dominando as páginas: na lista de “best-sellers” (livros campeões de venda), sempre está presente uma biografia, ou autobiografia de prostituta.
Assim como em tempos recentes, acontece co as obras de Bruna Surfistinha, autora de “O doce veneno do escorpião” e com Marise, autora de “O diário de Marise”. Ambas brasileiras, ambas “aposentadas”, ambas cheias de histórias pra contar, sendo esta última residente aqui de SC mesmo, mais precisamente, de Balneário Camboriú, ex-“trabalhadora” daquela cidade. E não para por aí, nos EUA, algumas mulheres já fizeram isso, algumas nem mesmo exercendo a função, mas no título de escritoras, e até mesmo escritores famosos, sob pseudônimos escrevendo algo que lhes pudesse render mais fama, quando o nome do verdadeiro autor saísse do sigilo, e bom dinheiro. Na Espanha, Vírgínia, lançou o “A agenda de Virgínia” causando bastante polêmica, muitas edições e cifras. O segredo de sucesso, é por ser algo novo, e por conter histórias ditas reais, contadas na íntegra, e repletas de detalhes, pelo motivo do ser humano sempre gostar de saber da vida secreta de alguém até então anônimo.
Em todas as obras, está presente uma mixagem de temas: uma versão atualizada do Kama Sutra , já que, como disse, relata com detalhes a vida destas mulheres. Também discutem o pensamento e as visões delas sobre a profissão, e os perigos desta. Os planos para o futuro. As opiniões sobre as pessoas com quem saíam, e o que faziam, por conter muitas aventuras, e pelo motivo de que as prostitutas sempre foram tachadas como loucas, e polêmicas. E de repente todo este universo passa a ser aberto ao público por meio destas autobiografias... É sucesso na certa!
E ainda mais sucesso quando a imagem da autora repercute não somente e seu livro, mas também em outros, como foi o caso de Bruna Surfistinha, que relata e seu livro, que fez um casal divorciar-se, e hoje ele é o esposo dela. Por conta disto, Samantha Moraes, a ex-esposa do atual marido de Bruna, escreveu um livro, descrevendo a situação da separação e de ser trocada por uma prostituta, este intitulado: Depois do escorpião. Polêmica e fama duas vezes mais para Bruna!
Como tudo, esta revolução tem seus dois lados, e devemos esta liberdade a Tarsila do Amaral, Anita Malfatti, Oswald e Mário de Andrade, entre outros, que nas décadas 20 e 30, implantaram o modernismo no Brasil. Mas a polêmica e a cobertura da mídia não atinge a todos. Os ocupantes das cadeiras da Academia Brasileira de Letras, ainda seguem uma antiga linha, ligados a clássicos conceitos, a maioria idosos e retrógrados, são muito conservadores e apenas por milagre permitirão que algum dia ex-prostitutas entrem para a academia, mesmo que ganhem os mais altos prêmios do ramo e vendam milhões de exemplares, só por milagre! ... Mas como já disse, o mundo evolui, as pessoa estão cada vez mais sabendo separar as coisas, quem sabe um dia não seja diferente, enquanto isso não acontece, vá até uma livraria, adquira seu exemplar e confira algumas “posições” da nova literatura!