A Teologia
Quando falamos em teologia, logo nos vem à mente, os estudos de preparação e os cursos de formação de padres, pastores, ministros religiosos ou professores de religião.
Embora, para a maioria das situações, esta seja uma visão relativamente correta, o ensino da teologia não tem essa finalidade exclusiva, até porque, qualquer ateu, agnóstico ou cético pode se graduar em teologia.
Sabemos que a teologia fornece informações e conhecimentos que poderão ser utilizados por religiosos ou místicos, mas também é evidente que eles não necessitam nem dependem de conhecimentos teológicos para exercer seus ministérios. Tanto é verdade, que poucos são os padres ou pastores que tem graduação superior em teologia.
Por outro lado, como a teologia que é ensinada pelas igrejas e pela maioria das faculdades é essencialmente hebréia/cristã visto que se resume ao conhecimento dos antigos escritos bíblicos e do Novo Testamento, somos de parecer que ela, como se apresenta, não passa de um curso de bibliologia.
Além disso, como a teologia clássica não reconhece a existência de outro deus que não seja Javé, e nem se preocupa em saber mais sobre as denominações e atributos dos deuses dos outros povos, não teria utilidade prática para um pregador, budista, espiritualista e muito menos para um muçulmano.
Esquecem que Deus, sendo transcendente, mesmo com formas e nomes diferentes, Ele é o mesmo e está presente em todas as divindades desde o Odin nórdico, o Thor dos celtas, passa pelo Alá dos muçulmanos, Brama hindu, Zeus dos gregos, Amon-rá dos egípcios e por tantas outras deidades e avatares inclusive o Olorum do Candomblé, tupã dos indígenas e o Oxalá da Umbanda.
O que queremos dizer é sendo a teologia o estudo de deus, não pode ficar restrita, e nem estudar apenas a existência do deus bíblico ou o deus dos hebreus, ela tem que abranger e buscar conhecer as origens e as manifestações de Deus nas várias denominações dos principais deuses existentes nas mitologias e nas outras religiões.
Como um teólogo não é necessariamente cristão, religioso e muito menos deve pertencer a uma igreja, facção religiosa ou mística, ser teólogo é conhecer também além dos ensinamentos bíblicos, pelo menos as principais doutrinas religiosas como a zoroastrica, védica, hinduísta, budista, muçulmana, judia e evidentemente também a doutrina filosófica espírita e as suas práticas.
Segundo o nosso entendimento, um teólogo que se preze deve conhecer além dos pensadores cristãos tradicionais como Santo Tomaz de Aquino, São Jerônimo, Santo Agostinho, Lutero, Origines e o próprio padre Arius, deve também estudar filósofos agnósticos, como, Marx, Schopenhauer e Kant, incluindo-se aí, liberais como Platão com o seu demiurgo, Descartes com a sua dúvida, Espinosa com seu Deus que não precisa de representantes na terra, as filosofias e teologias orientais como o taoísmo de Lao-tsé e obras como os upanishads indianos, o confucionismo e evidentemente o profeta Maomé e seu alcorão.
Os primeiros deuses da Antiguidade começaram a surgir a partir dos mitos. Pelo seu atraso evolutivo e a sua conseqüente ignorância, tudo que acontecia de bom, de ruim aos homens primitivos, ou que pareciam surgir do nada, como as doenças, acidentes ou a própria morte, era atribuído à ira ou benevolência de algum deus ou a alguma divindade.
No entanto, observaram eles, que uma fera saciada não atacava o homem nem os outros animais, logo, era só mantê-la com a barriga cheia e o perigo ficava sob controle.
Assim, entendiam que os fenômenos naturais, bons ou maus, também eram provocados por seres sedentos e que o trovão, a chuva, o sol ou a lua, só se aplacavam ou se manifestavam, se lhes fosse oferecido um sacrifício que poderia ser físico ou apenas ritual.
A partir dessa concepção, que, aliás, era bastante racional para a época, para conseguir uma boa caça ou obter uma farta colheita, passaram a deixar alimentos em locais próprios onde às vítimas, animais e mulheres, raramente homens, eram imolados. Veja a lenda de São Jorge.
Não podendo visualizar as entidades que lhes infligiam castigos, ou concediam benefícios, o homem começou a construir ídolos e estátuas com características que imaginava para cada divindade. Umas eram carrancas, outras, meio homens, meio animais, e não raro cultuavam representações de seres alados.
Esse período marca o início da idolatria e das oferendas, o próprio “deus”, respeitando o limitado grau de evolução do povo hebreu, solicitava-lhes sacrifícios de animais ou piedosas oblações.
Em algumas civilizações como a egípcia e indiana, animais vivos faziam parte da plêiade de deuses, aos quais eram ofertados óbolos em troca de favores, perdão, proteção e outras graças.
Podemos dizer que os deuses antropomórficos, isto é, com formas e comportamentos humanos, presentes em quase todas as culturas, inclusive na hebréia, já é o resultado de uma evolução comparativa, visto que embora a maioria desses deuses, fosse considerada imortal, estavam sujeitos as mesmas paixões, fraquezas e temperamentos dos simples humanos como, amor, ciúme, ira, vingança, arrependimento etc.
No entanto, é curioso observar que, no aspecto teológico, sempre houve um equilíbrio entre o bem e o mal, visto que sempre houve um ou vários deuses do bem e um ou vários deuses do mal. O cristianismo herdeiro da cultura hebréia e fiel aos castigos e recompensas também conservou um deus bom e um deus ruim, ou seja, Deus e o diabo.
Foi para colocar os deuses como objeto de estudo distinto é que se criou a teologia holística, a qual para ser fiel a sua origem além de estudar cada deus separadamente ainda se propôs estudar a relação ontológica, sociológica e até antropológica entre os diversos deuses de todos os povos e crenças onde cada divindade além de criar e manter o universo é ainda responsável por uma causa e, muitas vezes, também pelos seus efeitos.
Como existem acentuadas diferenças no modo de ver Deus, no oriente e no ocidente, as religiões orientais sendo menos teóricas que as ocidentais, a rigor não precisaram de uma teologia tão complexa.
Em contrapartida, a teologia ocidental, que tem suas origens no zoroastrismo e na tradição helênica, traz em seu bojo restos da filosofia grega onde o mundo verdadeiro é o mundo sobrenatural.
Por exemplo, Platão, sempre afirmou que a terra era apenas uma cópia, mal feita, do mundo espiritual que é perfeito, onde o deus Demiurgo governa absoluto. Assim, sabendo ser o mundo espiritual melhor que o mundo material o nosso espírito busca se religar a deus para poder voltar ao paraíso.
Todas as teologias afirmam que Deus é transcendente, o que quer dizer que Deus é maior que todas as coisas. As mesmas teologias dizem ser Deus, também imanente, isto é, está em todas as coisas.
Nem tanto ao mar, nem tanto a terra, pois o grande perigo é enfatizar a transcendência e esquecer a imanência de Deus, ou às vezes o contrário.
Aqueles que enfatizam a transcendência, só se concentram em coisas religiosas, elaboram belas liturgias, valorizam o misterioso e divino, e esquecem o deus no contato diário com o próximo.
Já a imanência exagerada, nos leva a pensar que como Deus está em todas as coisas, podemos relaxar nossas obrigações religiosas como momentos de oração e dedicar menos tempo aos atos de recolhimento ou de meditação.
Outra imagem de deus, que é comum a todas as teologias, é que Ele só nos aprova se renunciarmos a tudo que é bom e bonito, como sexo, roupas, divertimento, bens materiais etc.
Conta-nos uma lenda que diversas crianças foram deixadas na casa do tio Jorge para passar uns dias. Sabendo que as crianças eram levadas, já de início o tio Jorge, mostrou para elas um porão escuro onde tinha diversas imagens de diabos e esqueletos, e ameaçou, “aquele que fizer alguma traquinagem, desobedecer às ordens, ou disser que não gosta do seu tio, será trancafiado no dito porão”.
Esta é a figura teológica de Deus, que foi criada pelo povo do Antigo Testamento, e que se estende até os nossos dias. Ou o crente teme e obedece a deus, ou vai para o porão escuro, aqui entendido como inferno. Assim, na teologia padrão, essa concepção se traduz numa visão alienante do Reino de Deus, onde devemos abandonar e renunciar a tudo para poder ganhar o céu, e alguns segmentos cristãos ainda se pautam por esta radicalização, especialmente ordens religiosas, beatos e os fanáticos penitentes.
Embora o Novo Testamento insista que as recompensas e o fim dos sofrimentos humanos, só se darão no céu, teólogos progressistas, há muito, vêm reformulando essas antigas interpretações.
As modernas teologias já sinalizam no sentido de que o céu, inferno, purgatório e o juízo, não são realidades que irão começar a partir da morte, más que podem ser vividas e experimentadas desde já, embora de forma incompleta.
Fruto dessa nova corrente surgiu em 1968, nos meios católicos da América Latina, a Teologia da Libertação, proposta no Brasil, pelo então, frei Leonardo Boff, cujo conteúdo prega um rompimento com as imposições religiosas, sociais e econômicas. Embora seguida por poucos outros sacerdotes, essa teologia causou um grande estrago na tradicional doutrina católica.
Aproveitando os trilhos do tempo e das novas teologias, as igrejas neopentecostais, criaram a Teologia da Prosperidade, também conhecida como a teologia do aqui e agora, que prega exorcismo, a riqueza e saúde já, porque Deus é fiel. Essa teologia também motivou radical transformação nos antigos costumes protestantes e é hoje seguida pela maioria das igrejas evangélicas.
De qualquer forma, podemos até afirmar que nos postulados teológicos ensinados nas igrejas cristãs foi invertida a ordem da criação. Ao invés de Deus criar um homem com sua imagem e semelhança, o homem é que criou um deus com a imagem e semelhança humana.
Por exemplo, o homem criou um deus vingativo e justiceiro, que tem um corpo, mãos, pés, cabeça, olhos e boca. Sendo guerreiro presume-se masculino. Um deus que se arrepende do que faz, pune, despreza e amaldiçoa. Que gosta do cheiro de carne assada e se compraz com o sacrifício de animais. Um deus egoísta que castiga quem adorar outro deus e ainda permite a existência de um bando de diabos chefiados por satanás.
Já o Deus, que nós cremos e que ensinamos existir é o Deus do amor e do perdão, que não tem corpo nem é físico. Não é homem nem mulher, é a suprema energia cósmica, que tudo criou e que tudo pode.
Um Deus que não pune, não premia, não castiga, nem é vingativo, porque deu ao homem o livre arbítrio condicionando suas ações à lei universal da causa e efeito.
O Pastor que ama os animais e que dá a vida por suas ovelhas. É o Deus que, simbolicamente, fez o Adão e a Eva, e abençoou toda a sua descendência. É Aquele que rege o movimento harmônico do universo, astros e planetas, as coisas visíveis e invisíveis e que não se cansa de recomendar aos homens a prática do bem, e de não fazer ao próximo o que não quer para si.
É para divulgar o nosso entendimento de como se manifesta à presença desse Deus, nas dimensões material e espiritual, no cosmos e na terra, nos reinos mineral, vegetal e animal e principalmente nas diferenças, físicas, morais, intelectuais, materiais e sociais próprias da raça adâmica, que escrevemos esta obra cujos temas e postulados versam sobre a Sua doutrina e sua forma de governar o mundo e os homens.
É por não buscar conhecer o Deus verdadeiro que a maioria dos teólogos cristãos nos apresenta um deus que está mais para um deus humano e fraco, do que para um Deus divino e onipotente.
Para finalizar este capítulo, diremos que sendo a teologia uma ciência essencialmente teórica e que até hoje, não conseguiu explicar Deus, fica para a fé de cada um provar que seus postulados, de fato servem para alguma coisa.