Psicologia analítica
Todos os artigos que até hoje escrevemos fossem eles sobre filosofia, teologia, história, sociologia, religiões, seitas, esoterismo, espiritualismo e mesmo sobre psicologia, embora bem fundamentados, sempre foram dirigidos para os leigos, para os menos letrados ou para os curiosos.
Embora este trabalho também seja direcionado para o mesmo público, e tanto é que a nossa linguagem será a mesma, gostaríamos que os demais pesquisadores, psicólogos, psiquiatras, estudiosos da psicologia e do comportamento humano, acompanhassem o nosso despretensioso raciocínio e as considerações que fazemos sobre a psicologia junguiana mais conhecida como Psicologia Analítica ou Complexa.
Antes de darmos continuidade, devemos alertar que nestes escritos, como em todos os demais de nossa autoria, usamos a parcimônia de Occan evitando verborragias inócuas ou extensas explanações, próprias dos trabalhos acadêmicos, mas que em nada contribuem de fato para enriquecer as nossas proposições.
Portanto, quando falamos de eminentes psicólogos ou mesmo das suas teorias e práticas deixamos de nos alongar no assunto porque entendemos que todos os profissionais da área sabem muito mais do savoir-faire do que nós.
Como estamos vivendo uma nova era do comportamento individual na busca de uma maior religiosidade, como a explosão evangélica, a gnose dos carismáticos e o misticismo aflorado dos segmentos espiritualistas, não podemos negar que a psicologia, antes tão laica, não esteja se dobrando as evidências da noética, da recente psicologia trans-pessoal e da novíssima psiêutica.
Chegou a hora de repensarmos em todos os passos e caminhos percorridos pela psicologia desde o seu surgimento e com um olhar crítico perguntar qual o seu papel, o que de útil ela faz ou está fazendo, qual a contribuição que está dando e quais os recursos ou técnicas que está usando para de fato resolver ou pelo menos amenizar os conflitos de um borderline, transtorno afetivo bipolar ou mesmo um transtorno obsessivo compulsivo.
Referimo-nos a esses distúrbios porque temos observado que a maioria dos transtornos mentais já está fora do alcance terapêutico da psicologia ortodoxa que não teve a capacidade de mantê-los na área da sua competência, e por isso mesmo, passou-os para a tutela da medicina tradicional ou no máximo para a psiquiatria.
A nossa tese começa com inequívoca constatação de que a psicologia de hoje não é a mesma criada e proposta por Myers em 1872, que logo na sua vertente já foi atropelada pela teoria do Dr. Wundt que em 1874 deu novo curso a proposta original do estudo da alma.
Essa teoria do Dr. Wundt, embora com poucos resultados positivos, influenciou e acompanhou a maioria das correntes psicológicas, principalmente as comportamentalistas, até o surgimento da psicanálise freudiana que apesar dos seus dias de glória também acabou soterrada pela avalanche denominada psicologia analítica ou complexa de Jung.
Como o nosso objetivo é apresentar e detalhar a psicologia analítica de Jung sob o prisma original espiritualista que ela foi concebida, vamos primeiramente traçar um paralelo entre as teorias de Freud e Jung e na seqüência justificar porque Jung inventou o seu inexplicável e até hoje enigmático mundo do inconsciente coletivo e a razão de haver criado também os seus míticos e complexos devas que denominou arquétipos.
Esse paralelo se faz necessário porque, queiramos ou não, a psicologia junguiana é conseqüência do pensamento, do inconsciente e das próprias concepções psicanalíticas freudianas. Além disso, ninguém pode negar que Freud, embora ateu, também tenha arrastado uma asa para o misticismo, interesse esse, que passou para seu discípulo Jung.
Inicialmente entusiasmado com as teorias psicanalíticas, com o passar do tempo Jung foi verificando que as teorias do Dr. Freud apesar de muito aplaudidas eram na verdade mais propaganda que resultados e que as tão apregoadas influências libidinosas e sexológicas freudianas, no comportamento humano, não estavam assim tão corretas quanto pareciam.
Apesar das muitas divergências que foram surgindo, somos forçados a admitir que o motivo inicial do distanciamento de Freud e Jung foi, na verdade, religioso visto o primeiro era agnóstico e o segundo comprovadamente gnóstico. Freud como materialista e ateu afirmava que todo o comportamento e transtornos psicológicos eram de origem física e com forte influência da sexualidade do individuo.
Jung mais religioso, místico e até esotérico, embora não negasse a influência da sexualidade, foi muito mais além para afirmar que a maior parte das reações comportamentais do individuo tem origem nas experiências aprendidas ou adquiridas em vidas passadas por onde o espírito estagiou ou passou em tempos idos.
É exatamente para descortinar essa espiritualidade de Jung e embasar as nossas considerações que citamos trechos do artigo Psicologia Analítica, da insuspeita Dra. Ana Lucia Santana, que bem demonstram e justificam a origem espiritual das proposições de Jung.
Diz ela,-“A psicologia analítica ou junguiana, também conhecida como psicologia complexa substitui a libido e as influências sexuais da psicanálise do Freud, pelo inconsciente coletivo e engloba todo o arcabouço teórico criado por Jung num trabalho complexo, mas essencial para a compreensão da mente humana.
Muitos dos temas desenvolvidos por Jung brotaram de suas próprias experiências pessoais, que vivenciou constantemente em sonhos marcantes e na visão de imagens mitológicas e espirituais, passando então a nutrir um grande interesse por mitos, magias, sonhos, religiões e seitas olhadas pelo prisma psicológico.
Fortemente atraído pelo desconhecido ele foi à busca de maior desenvolvimento espiritual nas esferas da mitologia, alquimia e esoterismo, tanto na Ásia quanto na África e nas tribos dos Pueblos dos Estados Unidos o que fez com que a sua psicologia sofresse forte influência da filosofia e das religiões orientais principalmente a indiana e o i-ching
Também experimentou as ocorrências de manifestações parapsicológicas o que suscitou em sua inteligência perguntas cada vez mais freqüentes e a levantar vários questionamentos. Algum de seus trabalhos desenvolveu a custa de religiões e a sua contribuição para o amadurecimento psicológico dos indivíduos, dos povos e civilizações.
O curioso é que o inconsciente junguiano não é apenas um depósito de memórias ligadas a ancestrais, mas tendências da psique que já existe antes de tudo, ou seja, o homem já é concebido com um arquivo perpetuado ao longo do tempo que traz em si toda a produção mental. Mas o inconsciente não apenas recebe conteúdos elaborados em tempos distantes, ele também produz seus próprios temas e trabalha em conjunto com o consciente.
É por isso que Jung divide em inconsciente coletivo e inconsciente individual. O inconsciente coletivo é uma esfera intima da psique humana onde se encontram vestígios impressos das ações naturais da mente como representações desenvolvidas ao longo de milênios. Já o inconsciente pessoal ou individual quase se confunde com o espaço da consciência porque contém elementos que por algum motivo foram ali reprimidos”.
Ora, qualquer inteligência mediana sabe que com a morte do individuo todo o seu saber e todo o seu conhecimento intelectual vai com ele para a cova. Da mesma forma, cada pessoa que nasce, para obter conhecimentos, tem que percorrer todos os caminhos do primário à universidade. Então como pode uma mente brilhante de um Jung dizer que homem já nasce com um conhecimento acumulado de outras existências?
Embora a doutrina espírita exista desde 1857, mesmo em pleno século XX, se falar em reencarnação, espíritos, mundo espiritual, vidas passadas ou em fenômenos espirituais, embora já não fosse mais uma novidade, o espiritismo ainda era tido como uma crença plebéia ou de ignorantes, por isso, considerado um sacrilégio se levantado ou aceito por algum intelectual que se prezasse.
Certo de que as suas visões de mortos, os princípios alquímicos e a sobrevivência da alma eram realidades e que o conhecimento adquirido permanece na consciência espiritual do individuo, para evitar atritos com os intelectuais de quem todas as teorias e inventos precisavam da aprovação, Jung começou a criar o seu próprio sistema psicológico espiritualista, mas mesclado com alguns elementos freudianos que eram plenamente aceitos.
Foi partindo dessas realidades e para driblar a vigilância dos guardiões da moral religiosa, ficar fora da alça de mira dos ateus e da crítica dos materialistas que Jung com arte e habilidade, criou o seu inconsciente coletivo e individual, seus arquétipos espirituais, sombra, anima, persona, animus, self, sigízia, máscara e outros que revestidos com suas características materiais próprias podiam transitar pelos mundos visível e invisível sem despertar as menores suspeitas, nem a reprovação dos eruditos daquela época.
Assim, o mundo espiritual ou a outra dimensão dos espiritualistas, céu das religiões ou o mundo das idéias de Platão, de onde vem e para onde retornam os espíritos, passou a ser chamado, muito apropriadamente, de inconsciente coletivo e todo o conhecimento do espírito, acumulado das suas várias existências, foi denominado de inconsciente individual.
Como os espíritos diferem uns dos outros em razão dos seus graus de evolução, as pessoas que, obviamente, são animadas por espíritos, também pensam, agem, sentem e reagem de formas diferentes. Foi por estes motivos que o ego, inconsciente, super ego e a libido de Freud foram rebatizados e passaram a ser apresentados com os comportamentos diferenciados dos arquétipos velhos conhecidos dos filósofos antigos.
Podemos dizer então, que a psicologia analítica de Jung, que para a maioria dos estudiosos, permanece enigmática e bastante complexa, na verdade é apenas hermética, mas plenamente visível e facilmente compreensível desde que a olhemos pelo caleidoscópio objetivo da espiritualidade.
Com todo o respeito que merecem os seareiros da psicologia, ciência pela qual dedicamos especial interesse e estudos, mas temos cá as nossas dúvidas se algum profissional na sua atividade diária, cara a cara com o seu paciente, se utilize realmente, ou pelo menos se lembre de um ego, self, super ego, sigízia, ide, sombra ou um animus.
Diante da realidade, somos forçados a admitir que hoje, em plena era do espiritualismo, as classificações da mente criadas por Freud, os arquétipos e os malabarismos criados e utilizados por Jung, para serem usados numa época de repressão e descrença, são perfeitamente dispensáveis, pelo que já não servem para mais nada, nem representam algo de útil dos quais se possam tirar algum proveito.
Felizmente, a espiritualidade de Carl Gustav Jung está sendo resgatada das trevas da incompreensão e se revelando com toda a sua simplicidade através da psicologia trans-pessoal que vê como o Jung via o ser humano não apenas como um bem ordenado conjunto de ossos, músculos, vasos sanguíneos e uma mente sem poder algum, mas um ser completo animado por um espírito ou principio inteligente.
É só através da psicologia esotérica espiritualista de Jung que se pode desvendar não só a consciência, mas também todas as implicâncias que o espírito exerce sobre o corpo humano desde a produção de doenças ou transtornos psicossomáticos como também descobrir as razões das mais diversas manifestações comportamentais físicas ou psíquicas que o ser humano apresenta.
Conforme vem acontecendo desde o passado em que doutrinas e teorias são suplantadas pelos novos conhecimentos, aqueles profissionais que insistirem em permanecer nas ultrapassadas teorias e práticas psicológicas que buscam, quase sempre sem sucesso, unicamente curar o corpo, certamente serão atropelados pelo bonde da psicologia trans-pessoal que vem abrindo caminho para o tratamento e cura do espírito que é onde todas as doenças e transtornos têm origem.