AS SUPREMACIAS INVISÍVEIS

Junto com as imagens da violência no estado americano da Virgínia, ouvi pela primeira vez a palavra “supremacista”. Nem na última edição digital do dicionário Houaiss ela aparece.

Claro que, e disso eu sabia, tratar-se de um derivativo da palavra supremacia. Não me espantei com as imagens. Recentemente aqui no Brasil tivemos algo muito parecido, quando “coxinhas” de um lado, e “pão com mortadela” de outro, resolveram brincar de cabo de guerra por pura bobagem.

Diria que o ódio destilado pelas supremacias é o gene que nunca nos permitiu sair do estágio de “animais pensantes” É justamente o pensar, que nos torna mais perigosos e temidos. Muita gente viu o carro atropelando pessoas. Pouca gente soube que um apresentador da CNN foi demitido por fazer uma saudação nazista.

As sociedades humanas foram se estabelecendo ao redor de supremacias. Nos acostumamos a usar nossa indignação com curto prazo de validade diante das raciais por exemplo. Difícil é enxergar as supremacias invisíveis que estão presentes no nosso cotidiano.

A supremacia econômica é uma delas. No Brasil, mais de 90% da riqueza está nas mãos de menos de 15% da população. No mundo como um todo, essa estatística não difere muito. Não veremos a supremacia econômica nas ruas trocando tapas, entretanto, ela tem poder para dar de comer, e matar de fome.

Temos a supremacia da mídia. Com a capacidade de promover lavagens cerebrais diárias. E não pensem mídia unicamente na forma de TV ou jornais. A mídia travestida de redes sociais já é muito mais sofisticada nas formas das lavagens cerebrais.

Existem ainda muitas outras. A supremacia da beleza. A supremacia intelectual, que na maioria dos casos, e completamente desvinculada da inteligência. Você pode escrever um “best-seller” e dificilmente será publicado. Se este mesmo “best-seller” tiver a assinatura de Paulo Coelho... Causaria uma guerra entre editores.

Deixei as piores supremacias invisíveis para o final. Começo pela supremacia do poder político. Estamos vivenciando uma atualmente no Brasil. Que se entrincheirou no vácuo deixado pelo impeachment de Dilma Rousseff. Neste caso, poderíamos dizer que se criou uma perigosa supremacia de eleitos pelo voto dos brasileiros.

Pior do que a supremacia do poder político, é a supremacia religiosa. Que mistura sais aromatizantes de fé nas suas lavagens cerebrais. Se as luzes do planeta, de repente, se apagassem, certamente a supremacia religiosa seria o passaporte para nosso retorno à idade das trevas. Com corpos queimando em fogueiras, e uivos de júbilo no escuro.