COMPARAÇÕES IDIOTAS

Além das muitas doenças que nosso país sofre atualmente, existe uma que ninguém presta muita atenção. Falo das comparações. A doença é pior, quando as comparações são idiotas. Como por exemplo, comparar o Brasil com países do Primeiro Mundo.

O G1 usou uma matéria da “Deutsche Welle”, passando a ideia de que a polícia brasileira é violenta e mata demais. Compararam os mortos pela polícia alemã e a nossa. Lá foram 11 em 2016. Aqui foram 3.345 em 2015. Os brasileiros vivem num regime violento de terrorismo urbano. Não estão apenas intimidados e à mercê do crime, são reféns dele. É imperativo essa percepção antes de qualquer comparação. Então, acredito que os números seriam parecidos se a polícia alemã estivesse aqui, e a nossa lá.

Uma pena a reportagem ter ficado apenas nesta comparação. Se o objetivo era comparar a violência das duas polícias, deveria explicar também os motivos dessa diferença. Sobre os índices de violência nos dois países a reportagem limitou-se ao silêncio.

Vou fazer uma viagem por alguns desses motivos descrevendo o nosso cotidiano. Nossa guerra. No fim, meus leitores, talvez, cheguem também à conclusão que comparações como estas são realmente idiotas.

No Brasil, o crime está enraizado desde o topo da pirâmide até a base. Na Alemanha com toda certeza não. Existem cidades brasileiras onde milhares de pessoas vivem exclusivamente sob as leis do crime. Se abrirem o bico morrem torturadas. O estado teme até entrar nesses lugares. Será quantos alemães vivem deste modo?

Nossa viagem continua... Quantas rebeliões em presídios houveram na Alemanha em um ano. Quantas mortes por balas perdidas ocupam os noticiários alemães da noite? Quantos roubos seguidos de mortes? Quantos ex-maridos alemães dedicam o resto das suas vidas caçando as ex-mulheres para matá-las? Quantos estupradores espreitam em cada esquina alemã? E dos que têm, quantos são soltos no dia seguinte ao crime.

Quantos criminosos alemães armados com fuzis cometem crimes, e entram em confronto com policiais de dia ou noite? Quantos alemães receiam abrir o portão ao sair de casa? Qual seria a estatística de homicídios alemã? Na TV deles, um “Brasil Urgente” teria matérias, algumas ao vivo, e “sangue” para três horas diárias de duração?

Na sexta-feira (20), uma manchete do site da revista Veja, somava 90 policiais mortos pelo crime este ano apenas no Rio de Janeiro. No domingo já eram 91. Uma guerra ou não? Será quantos policiais alemães foram mortos por criminosos no mesmo período?

A constatação de que o estado brasileiro perdeu a guerra para o crime, não está apenas na veemência com que os criminosos são defendidos. Na facilidade de como “heróis”, e o crime compensar arregimentar seguidores. Está também nas comparações idiotas.