Somos felizes e não sabemos
Abençoado Brasil! Apesar dos inúmeros desafios aqui existentes, bendita Pátria!
Estive no continente africano há 20 dias, visitando três países: Moçambique, Angola e África do Sul. Acompanhado do amigo Emanuel Cristiano, de Campinas, e a convite de empresários brasileiros, fomos para viagem de divulgação espírita através de livros, palestras, encontros e entrevistas na TV.
Os dois primeiros países são muito parecidos com o Brasil. Enfrentam lutas sociais intensas, estando Angola muito prejudicada pela guerra civil encerrada há seis anos. A África do Sul já é país de primeiro mundo. Permanecemos um único dia em Johannesburg, 4 dias em Moçambique e 6 dias em Luanda. E pudemos constatar o quanto somos felizes no Brasil e não sabemos. Em todos os sentidos. O Brasil é um paraíso face às dificuldades que tais países enfrentam, especialmente Moçambique e Angola.
Os hábitos, costumes, condições sociais, tradições e a própria cultura fazem-nos ao mesmo tempo muito parecidos e muito diferentes do Brasil. Nos dois primeiros países, utiliza-se o idioma português; no último deles o inglês. Todavia, mesmo neste último país, a visita foi para grupo formado de brasileiros, portugueses, angolanos e moçambicanos, o que facilitou muito o objetivo da viagem.
Pudemos constatar a convivência, lado a lado, da riqueza com a miséria. Uma miséria diferente do Brasil, diríamos mais cruel. Por outro lado, ainda a presença de um certo primitivismo em algumas culturas vigentes, demonstrando as lutas sociais que ainda estão por vir. É verdade que a população adapta-se às condições em que vive, muitas vezes por ignorar outras realidades ou mesmo pela total ausência de possibilidades no momento em que se situa.
Encontramos almas nobres, lutadoras, trabalhando em prol da coletividade, em desafios enormes que aceitam para contribuírem na mudança da dura realidade. Em Maputo, por exemplo, capital de Moçambique, as amizades ali estabelecidas marcaram definitivamente tais encontros e reencontros... Em Luanda, o contato com a poetisa Amélia Da Lomba e com o ex-ministro Saraiva igualmente formaram elos de intercâmbio que desejamos manter, face aos aprendizados e experiências que tais contatos trouxeram.
E ficamos a pensar na riqueza que aqui possuímos, em todos os sentidos. Na cultura, nos hábitos, na fraternidade, na diversidade, na extensão territorial, nos recursos naturais... Apesar do alto índice de corrupção, do desvio de recursos públicos e outros enormes desafios, a querida pátria brasileira permanece nos convidando ao trabalho e à dignidade. Inclusive em favor de outros povos.
Quando o avião pousou novamente em Guarulhos, pudemos emocionados, agradecer a Deus a querida Pátria que nos acolhe. Sem esquecer o dever de igualmente estendermos nossas mãos e nossa atenção ao sofrido continente.
Voltamos com a responsabilidade de algo fazer. Como nosso contato é com o movimento espírita, notamos, para citar um único exemplo, que a maior dificuldade deles é importar livros do Brasil (de literatura específica, no caso), face aos custos do transporte. Por esta razão, há uma única instituição espírita em cada país, deixando claro o trabalho que está por ser feito...
Interessante os caminhos que a vida vai apresentando. Na mesma época de minha viagem, outro cidadão de Mineiros do Tietê também esteve na África. Luiz Fernando Feltre igualmente esteve palestrando no continente, ainda que com outra temática. São coincidências que fazem pensar na contribuição que o país pode oferecer para outros povos.
A experiência foi muito rica, face aos aprendizados. Levamos a experiência brasileira, mas trouxemos igualmente valores que aqui não temos, face à diversidade das duas realidades.
O que desejo ressaltar aos leitores, todavia, é que antes de reclamar de nossas condições de vida, talvez seja bom direcionar nossos olhos para a realidade desses sofridos países. Seria oportuna uma experiência africana antes de reclamar do Brasil. Apesar de tudo...
Claro que isso não significa a aceitação passiva, a acomodação ou a luta pela melhora do Brasil. Mas reclamar por reclamar, como em qualquer outra situação, nada vai valer.
Antes de reclamar, mãos à criatividade, mãos ao trabalho. Afinal temos tudo por aqui...