MANIFESTO PELA VIDA
À Câmara Municipal de Caxias do Sul
Inicialmente agradeço o Convite datado de 20 de novembro , enviado em 26 de novembro e recebido em 27 de novembro para participar desta reunião extraordinária desta Câmara.
Por este meio apresento algumas das muitas idéias que entendo dignas de reflexão quanto ao assunto em causa.
1 - SEJAMOS CLAROS
O convite descreve com termos aparentemente sedosos uma situação que é clara : a decisão fundamental para a qual se busca amparo é matar ou castrar animais desamparados,doentes, aleijados,mutilados,velhos,abandonados.
2 - A DOR DO ABANDONO E DA MORTE
O argumento de que a morte é melhor do que o abandono existe. Quanto a isso a questão que coloco é se os que o apresentam pensam verdadeiramente no animal ou se, talvez sem se darem conta, pensam sobretudo ou apenas no incômodo de ver um animal abandonado sem poder ou sem querer socorrê-lo.
Essa teoria busca fundamento na idéia de que ao ser obrigado a morrer o animal sente apenas a picada da agulha que não dói nada. Pois lembremos que mesmo uma injeção salvadora não deixa de ser uma agressão ao nosso corpo - necessária, consentida mas de qualquer modo uma agressão. Então a agulha portadora da substância letal já é por si mesma algo agressivo, que não é facilmente introduzido na veia ou no corpo da vítima seja porque a tarefa nunca é fácil ( mesmo em tratamentos curativos de humanos ), seja porque o animal apresenta resistência em aceitar a morte . É claro que os sedativos podem ter seu papel se forem empregados mas de qualquer modo são apenas a primeira agressão que proporciona as definitivas. Então não se trata de uma agulhinha que penetra no corpo do animal sem que ele tenha qualquer sofrimento. Ele terá sofrido angústia, medo, impotência, pavor e muitos outros sentimentos. Não podemos considerar a dor apenas sob o aspecto físico - há os aspectos emocionais ! E se para ser eliminado ele estiver trancado em uma gaiola ou de outra forma indefeso diante da força humana, como afirmar que não há sofrimento?
Então, o animal sofre e até muito, mesmo demais.
3 - UMA IDÉIA PERIGOSA
Matar quem não podemos ou não queremos sustentar porque não corresponde aos nossos padrões de beleza ou porque está doente, velho ou aleijado é a pior das lições que estaremos dando às crianças , aos jovens e também aos demais adultos pois, sem que possamos perceber, semeia a insensibilidade ao ato de fazer morrer e a necessidade de fazê-lo por razões econômicas.
Num amanhã bem próximo essas mesmas pessoas poderão aceitar a idéia de "sacrificar" velhinhos porque já estão no final da vida e não são mais produtivos, doentes porque exigem tratamento e não podem trabalhar , criancinhas de comportamento inadequado porque poderão tornar-se criminosas, mendigos porque atrapalham nosso passeio nas ruas , aleijados porque não são perfeitos, desempregados porque são um peso para a sociedade, pobres porque só sabem pedir , ricos porque não é justo ser rico quando existem pobres , psicólogos porque "mudam a cabeça das pessoas", advogados , médicos , dentistas, veterinários e qualquer categoria por alguma imperfeição que descubramos ou imaginemos e qualquer criatura que não concorde com nossas idéias .
Enfim cada um encontrará um argumento para eliminar a classe de que não gosta, conforme seus próprios interesses e causas conscientes e inconscientes e se tiver algum poder de decisão ou influência, encontrará apoio para matanças na massa popular cuja sensibilidade terá morrido quando matarmos o primeiro cão sarnento sob o argumento de que terá sido para que ele não sofra, porque não temos como alimentá-lo . Enfim, dependendo dos critérios de quem estiver no comando ou que tiver influência na sociedade , a matança será orientada para um lado ou para outro e será executada sem pejos nem culpas.
Não foi assim no nazismo ?
Incorporada tal postura na formação de uma criança como corrigi-la mais tarde? Isso não é de extrema gravidade ? Sob o argumento de não querer que o outro sofra, eliminá-lo sem respeitar seu desejo de viver apesar de suas deficiências ou problemas, não é grave?
Mesmo a postura aparentemente bondosa do dono de um animal que o leva a uma clínica para que seja " sacrificado" pode ser contemplada sob um ângulo diferente : será que ele o faz para que seu bichano não sofra ou porque não aceita sofrer para acompanhar seu caro amigo até o final do caminho ? Ninguém na verdade é dono da vida de um animal porque o animal é uma criatura viva e só Deus que lhe deu a vida pode tirá-la . Aliás, o termo "sacrifício” é um eufemismo , uma máscara que esconde a dura realidade. Se quero sacrificar alguma coisa deve ser algo de que eu possa dispor e a vida de um companheiro carinhoso e leal é um bem indisponível.
São questões delicadas que não podem ser tratadas sem profundidade e segundo interesses do momento.
4 - TODOS TÊM DIREITO À VIDA
Embora a ciência esteja tentando criar a vida de outras formas que a tradicional e tenha até conseguido importantes vitórias que , se bem utilizadas, serão de incomparável importância para novos tratamentos, a vida não está sendo criada pela ciência. Está havendo a manipulação de componentes geradores de vida porém o poder de gerá-la não está nos cientistas mas onde sempre esteve - que chamemos de Deus, Energia , Arquiteto do Universo, Fonte da Vida etc.
Então não temos o direito de destruí-la e como somos todos criaturas - isto é alguém que foi criado por Deus ( e isso todos iguala como aliás a morte ) devemos além do mais respeitá-la .
Quem atira pedras no telhado dos outros permite que o seu seja atacado. A mesma ideologia que nos permite justificar matarmos uma categoria de criaturas hoje poderá ser utilizada amanhã para matar os seres que mais amamos e nós mesmos.
Então não temos o direito de matar animais inocentes porque ser abandonado e pobre não é crime e mesmo que fosse, a pena de morte já deu suficientes provas de inutilidade. Além disso, se ser pobre e abandonado fosse crime e se tal crime justificasse a pena de morte , grande parte da população humana do mundo seria ainda hoje condenada.
Todas as criaturas têm direito à vida e devemos encontrar meios de respeitá-la. Afinal não nos louvamos de ser mais inteligentes do que as outras espécies? Então aceitemos o desafio de viver e ajudar a viver quem está vivo , não a matá-lo !
5 - E AS CRIANCINHAS ?
Quando propomos idéias sobre o bem-estar dos animais logo alguém interfere dizendo que devemos pensar nas criancinhas , não nos animais.
Pois eu acho que pensar nos animais com a devida atenção exige muita sensibilidade e quem a tem não poderia privar-se de pensar nas criancinhas, nos velhinhos, nos doentes, nos carentes - afinal no conjunto e em cada indivíduo da criação. Houve um tempo em que os negros ou os índios não eram considerados gente, ainda hoje há países em que as mulheres são instrumentos do prazer masculino e de procriação, e tantas outras barbaridades aconteceram e acontecem a partir de critérios absurdos.
Que chamemos eliminação, sacrifício ou seja lá o que for, matança é matança e nenhum ser vivo inocente deve ser vítima disso para beneficiar a vida dos demais. Todos somos responsáveis pelo mundo em que vivemos que a todos, aliás, igualmente pertence.
Então não há como escolher pensar num grupo e não no outro porque o conjunto não deve ser mutilado mas harmonioso.
6 – SOLUÇÃO A CURTO PRAZO - EXISTE QUE SEJA JUSTA ?
Uma das soluções que estão sendo propostas é a intervenção cirúrgica que torne o animal incapaz de procriar. Embora qualquer cirurgia - sobretudo em massa - me provoque preocupação , talvez seja uma solução aceitável.
O problema é em que condições isso ocorreria pois caso não seja com o devido atendimento e tratamento necessário , significaria mortes por infecção - portanto matança disfarçada.
7 – UMA POLÍTICA DE SOLUÇÃO OU UMA SOLUÇÃO POLÍTICA ?
Imagino que se os animais votassem ou se os donos que tratam da forma adequado seus bichinhos tivessem direito a tantos votos quantos animais tivessem em sua companhia , o problema não teria surgido, pois haveria o incentivo à adoção e ao respeito do animal pelo humano.
E me parece que esta seja a grande solução a longo prazo : o incentivo à adoção e respeito aos animais,
- seja através da educação desde a mais tenra idade ( e criança gosta de ter seu cãozinho e seu gatinho ; com eles aprende a lidar com os próprios sentimentos - são os adultos que inventam até doenças para impedi-las de tê-los, gerando afinal a doença na medida em que o filho perde algo precioso para agradar aos pais mas sua alma sofrida, como vingança inconsciente, provoca o desenvolvimento da moléstia ) .
- seja através da propaganda que tem o poder de eleger e derrubar nomes e marcas.
Assim todos os animais - humanos e não humanos - terão direito à vida justa e partilhada como criaturas irmãs de passagem sobre a terra.
Com as idéias que venho de expor esquematicamente pretendo trazer minha contribuição ao debate proposto, de que resultará uma decisão tomada em sessão extraordinária da Câmara de Vereadores , representante do povo caxiense.
Espero que a decisão seja lْúcida quanto aos bastidores das aparências e digna de louvores.
A simples existência de problemas como este deve deixar-nos todos envergonhados pela falta de sensibilidade e solidariedade que manifestam eis que, aplicando a tempo e em conjunto a política da adoção supra citada, a comunidade poderia ter impedido que existissem.
Caxias do Sul,27 de novembro de 2001.
LIA-ROSA REUSE